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Mãe diz que filho levou facada e não trocou tiro com PM em ação no Rio

Marcela Lemos e Rodrigo Mattos

Colaboração para o UOL, no Rio

12/02/2019 04h01

Mãe de um dos 14 mortos em operação da Polícia Militar na última sexta-feira (8) no Rio, a dona de casa Tatiana Carvalho foi ao Ministério Público (MP-RJ) dizer que o filho foi morto esfaqueado.

A informação contradiz a versão oficial de que houve troca de tiros com os policiais.

"Enfiaram faca no meu filho, quebraram o pescoço do meu filho. Não foi tiro", disse Tatiana a jornalistas em frente ao prédio do MP. Ela também mostrou certidão de óbito que acusa perfuração por objeto no cadáver.

Ela não confirmou nem negou que o filho, Felipe Guilherme Antunes, 21, tivesse envolvimento com o tráfico de drogas. Mas acusou os policiais de terem executado o rapaz.

"Eles [policiais] falaram que vão voltar na comunidade, que mataram 13 e vão matar 20. Será que ninguém vai fazer nada?", disse Tatiana.

OAB acompanha

O caso é acompanhado também pela Comissão de Direitos Humanos da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) do Rio de Janeiro. Houve dez suspeitos mortos em uma casa no Morro do Fallet-Fogueteiro, na região central da capital, e outras três no Morro dos Prazeres, no Catumbi, onde também ocorreu uma operação da PM. Ainda não há informações sobre onde a 14ª vítima teria sido baleada.

Um grupo de advogados da OAB esteve no domingo (10) no IML (Instituto Médico-Legal) do Rio acompanhando os familiares. O presidente da comissão, Álvaro Quintão, disse que aguarda o laudo oficial das autópsias realizadas.

"A informação que chega contradiz as informações da PM. Há informações de parentes sobre marcas de facadas nos corpos, o que provaria que não ocorreu somente troca de tiros. Estamos aguardando os laudos finais. As informações são de que eles [suspeitos] estavam se entregando e que a polícia não teve interesse em prender. A intenção era matar as pessoas", afirmou Quintão.

As famílias reconheceram que o grupo tinha envolvimento com o tráfico de drogas. No entanto, eles dizem que os policiais militares mataram os homens, apesar de já estarem rendidos.

A PM informou inicialmente que os mortos foram localizados após confronto nas ruas das favelas e levados para o hospital Souza Aguiar, no centro. No entanto, a Secretaria Municipal de Saúde informou que 13 deram entrada sem vida na unidade e que outro chegou a ser encaminhado para o CTI (Centro de Tratamento Intensivo), mas não resistiu.

O que diz a PM sobre a operação

Na manhã de hoje, o porta-voz da Polícia Militar do Rio, coronel Mauro Fliess, disse ao UOL que, até o momento, não há indícios de irregularidades na ação de sexta-feira.

Fliess contou que policiais entraram na favela após denúncia de que 20 homens fortemente armados estavam dentro de uma casa na comunidade. 

"Tínhamos uma informação do Disque Denúncia e, com isso, foi montado um cerco policial no imóvel. Uma parte do grupo buscou enfrentamento contra as guarnições para facilitar a fuga do número dois da quadrilha [o traficante Gilmar Quintanilha Braz, 32]. Com isso, marginais foram alvejados e o grupo que aproveitou o enfrentamento foi preso pelo cerco policial", disse o porta-voz da PM.

O coronel disse ainda que criminosos ofereceram R$ 100 mil aos policiais para facilitar a fuga do traficante, um dos chefes da quadrilha.

Questionado sobre a versão moradores de que os homens foram assassinados e sobre as marcas de facadas, o porta-voz da PM disse que as investigações estão em andamento.

"É preciso calma para apurar os fatos. Qualquer ilação neste sentido é desrespeito com os policiais militares. Há um inquérito da PM apurando os fatos e a investigação da Delegacia de Homicídios", disse. 

A Polícia Civil do Rio informou que os policiais envolvidos na operação começaram a ser ouvidos na sexta e que as armas foram recolhidas para realização de perícia. Peritos também estiveram no imóvel onde os corpos foram encontrados. "As investigações estão em andamento na DH/Capital para apurar os fatos", informou a instituição.

MP também investiga o caso

O Ministério Público do Rio de Janeiro informou que vai ouvir nesta semana os comandantes dos batalhões de Choque e de Operações Especiais (Bope) e do COE (Comando de Operações Especiais), que participaram da operação nos morros de Santa Teresa. A Defensoria Pública também acompanha o caso. 

A Anistia Internacional pediu investigação imediata sobre as 14 mortes. "A Polícia Militar alega que foi recebida a tiros ao entrar na região e que as mortes foram resultados de confronto. Entretanto, apenas através de uma investigação imediata detalhada, imparcial e independente, é possível determinar a circunstância exata de cada uma dessas mortes", disse a Anistia, por meio de nota.

*Com vídeo de Rodrigo Mattos, do UOL no Rio