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Em feriado de São Jorge, devotos rezam para RJ ter dois padroeiros

Gabriel Sabóia e Taís Vilela

Do UOL, no Rio

23/04/2019 04h00

É difícil encontrar um morador do Rio de Janeiro que nunca tenha esbarrado em um devoto de São Jorge. Estampado em camisas, padroeiro de times de futebol e escolas de samba, o santo mais popular do estado também está em letras de músicas que não podem faltar nas rodas de samba do estado.

A devoção é tão grande que desde 2008, o Dia de São Jorge, celebrado hoje, é comemorado com feriado estadual, em alvoradas realizadas nas igrejas que o homenageiam. Não por acaso, o santo pode ser oficializado como padroeiro do estado em breve, se sancionado um projeto de lei já aprovado na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro) que torna São Jorge e São Sebastião os dois guardiões do Rio de Janeiro.

Associado à guerra e ao fogo, o santo também é abraçado por seguidores fluminenses das religiões de matriz africana, como a umbanda e o candomblé, que associam a imagem do guerreiro montado em um cavalo ao orixá Ogum --na Bahia, São Jorge corresponde a Oxóssi para umbandistas e candomblecistas.

22.abr.2019 - Devotos de São Jorge na igreja em homenagem ao santo no centro do Rio de Janeiro - Taís Vilela/UOL - Taís Vilela/UOL
Imagem: Taís Vilela/UOL

Neste ano, o Campo de Santana --ponto no centro da capital fluminense que tem uma igreja de São Jorge-- parece tomado por uma expectativa diferente. À espera da assinatura do governador Wilson Witzel (PSC) que pode dar novo status à santidade, a professora de dança Mônica Ferreira diz que um estado com a quantidade de problemas que o Rio de Janeiro tem precisa mesmo de dois padroeiros.

"Eu acho perfeito. Os dois caminham juntos, os dois eram soldados e morreram por amor a cristo. O Rio de Janeiro precisa mesmo de dois padroeiros. Só a flecha de São Sebastião não está bastando. É necessária a espada de São Jorge para dar conta desse Rio de Janeiro", diz ela.

Ciúme de São Sebastião?

Já o analista de Recursos Humanos Wallace Soares, que é devoto dos dois santos, teme que São Sebastião fique "enciumado" por dividir o posto --na verdade, o estado nunca teve um padroeiro, porém, São Sebastião é o padroeiro da capital.

22.abr.2019 - Wallace Soares, analista de RH, é devoto de São Jorge e São Sebastião - Taís Vilela/UOL - Taís Vilela/UOL
Wallace Soares, analista de RH, é devoto de São Jorge e São Sebastião
Imagem: Taís Vilela/UOL
"Eu não sei não. Já tentaram mexer com o feriado de São Sebastião uma vez e caiu uma chuva inacreditável no Rio de Janeiro. Eu acho que ele tem que reinar sozinho", diz ele, que reafirma o respeito pelas duas entidades.

O funcionário público Eurípedes do Carmos aposta na união dos dois santos para solucionar problemas como a violência e a corrupção no estado. "Isso é uma coisa maravilhosa para este estado. A presença de Deus no coração das pessoas vai trazer mais dignidade às pessoas. Essa dupla maravilhosa vai nos levar a dias melhores".

Cardeal arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani Tempesta não vê problemas no posto dividido. "Esse tipo de devoção não tem muita explicação. São Jorge e São Sebastião são santos do primeiro século da Igreja. As pessoas se identificam e pedem para os dois. O que importa é a fé", diz.

22.abr.2019 - Devota de São Jorge na igreja em homenagem ao santo no centro do Rio de Janeiro - Taís Vilela/UOL - Taís Vilela/UOL
Imagem: Taís Vilela/UOL

Dois padroeiros

O projeto de lei que faria de São Jorge e São Sebastião padroeiros do estado foi aprovado na última quinta-feira (18) pelo plenário da Alerj e depende da sanção de Witzel.

O texto original, de autoria dos deputados André Ceciliano (PT) e Gustavo Schmidt (PSL), previa apenas São Jorge como padroeiro. No entanto, uma emenda do deputado Luiz Paulo (PSDB) incluiu o padroeiro da capital, São Sebastião, como padroeiro também.

A justificativa dada por Luiz Paulo para a inclusão de São Sebastião como padroeiro é de que, "além de ter um grande número de fiéis, os dois orixás (Ogum e Oxossi) são irmãos e merecem estar juntos".

Diante da fala do parlamentar, deputados de várias legendas concordaram e votaram a favor de dar o mesmo status aos dois santos. "Na dúvida, é melhor não mexer com nenhuma das duas santidades", brincou Ceciliano.