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Impasse Brasil-Paraguai cria "buraco" de R$ 200 mi para a gestão da Itaipu

17.dez.2016 - Usina de Itaipu quebra próprio recorde de geração de energia elétrica  - Caio Coronel/Divulgação/Itaipu
17.dez.2016 - Usina de Itaipu quebra próprio recorde de geração de energia elétrica Imagem: Caio Coronel/Divulgação/Itaipu

Vinicius Konchinski

Colaboração para o UOL, de Foz do Iguaçu*

20/08/2019 16h45

O diretor-geral brasileiro de Itaipu, general Joaquim Silva e Luna, indicou hoje que a crise causada pelo impasse entre Brasil e Paraguai para compra da energia da usina hidrelétrica binacional precisa ser resolvida neste ano. Segundo ele, caso os dois países não cheguem a uma solução num curto prazo, pagamentos de royalties e investimentos serão prejudicados.

Um contrato havia sido firmado, mas diante de uma ameaça de impeachment por possíveis irregularidades, o presidente paraguaio cancelou o acordo.

"Logicamente que se isso [o impasse] prosperar até o final do ano, algum compromisso nosso teria que deixar de ser honrado. É como se houvesse um contingenciamento que acontece no Orçamento federal, por exemplo", disse Silva e Luna, em entrevista coletiva concedida em Foz do Iguaçu (PR).

O general afirmou que a administração da usina, que pertence ao Brasil e ao Paraguai, não tem um posicionamento oficial sobre como a negociação deve ser feita entre os dois países. Cada nação tem soberania para defender seus interesses na compra da energia.

Silva e Luna lembrou, entretanto, que o faturamento de Itaipu com a venda de eletricidade a Paraguai e Brasil caiu, já que os dois países não chegaram a um acordo sobre quanto cada um deve pagar pela energia. Segundo ele, isso não for solucionado, a saúde financeira da usina e seus projetos devem ser impactados.

"Até agora não deixamos de honrar com nenhum de nossos compromissos. Agora, isso vai se acumulando", disse ele. "Esperamos que isso seja resolvido."

Itaipu não divulga dados oficiais sobre o impacto da crise causada pela negociação da energia na empresa. Estimativas apontam que, desde fevereiro, cerca de US$ 50 milhões --aproximadamente R$ 200 milhões-- deixaram de ser arrecadados pela usina.

Caso o impasse não seja resolvido até o final deste ano, espera-se uma queda de arrecadação de US$ 130 milhões --R$ 520 milhões, cerca de 1/12 da arrecadação anual de cerca de US$ 1,5 bilhão --R$ 6 bilhões.

Quase R$ 4 bilhões são usados para pagar os empréstimos tomados para financiar a construção da usina. O restante paga a manutenção da hidrelétrica, os royalties pelo uso da água para a geração de energia (cerca de R$ 1 bilhão) e projetos que Itaipu custeia para o desenvolvimento regional, como pontes, aeroportos e hospitais.

Empresa brasileira envolvida

Além do custo extra com o impasse entre Brasil e Paraguai, mensagens reveladas pela mídia paraguaia indicaram que o novo acordo teria uma cláusula que beneficiaria uma empresa brasileira, a Leros. Segundo as mensagens, quem seria o responsável por interceder pela companhia de energia brasileira na negociação do acordo de Itaipu seria o empresário Alexandre Luiz Giordano, que é suplente do senador Major Olímpio (PSL-SP).

O advogado José Rodríguez teve mensagens de divulgadas. Nelas, ele dizia falar em nome do vice-presidente do Paraguai, Hugo Velázquez. Tentava marcar uma reunião com Ferreira, da Ande, para falar sobre a Leros. Segundo Rodríguez, Giordano falava em nome da "família presidencial do país vizinho", ou seja, da família Bolsonaro.

*O repórter viajou a convite da Itaipu Binacional