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Médicos e enfermeiros relatam caos e horror no socorro de feridos do Badim

Talita Marchao

Do UOL, em São Paulo

13/09/2019 15h50Atualizada em 13/09/2019 16h21

Horror e caos são as palavras mais usadas pelos profissionais de saúde que socorreram os sobreviventes do incêndio no hospital Badim, na zona norte do Rio, onde ao menos 11 pessoas morreram. Nas redes sociais, médicos e enfermeiros, não só do próprio hospital, e pessoas que estavam por perto no momento do fogo contaram como atuaram no apoio à remoção e no socorro aos sobreviventes.

"Corremos para ajudar e nos deparamos com uma cena de filme de terror, mas também com uma solidariedade de muitos profissionais, instituições e pessoas/ moradores que estavam unidos com um único propósito: ajudar, ajudar e ajudar", escreveu a enfermeira Clauden Cevei em postagem nas redes sociais.

A enfermeira Anna Carolina Braga disse que estava indo correr no Maracanã, que fica próximo ao hospital Badim, quando notou a movimentação estranha. "O instinto chamou, foi quando vi o caos. Passei pelo hospital logo quando os primeiros pacientes estavam sendo retirados. Funcionários desesperados, colchões sendo arremessados, pacientes na rua. Pessoas gritando. Chorando. Não poderia ficar inerte!", escreveu. "E aí você se pergunta. O que fazer? Como ajudar? Sou enfermeira e coloquei meus conhecimentos em prática", afirmou.

Enfermeiro, Glauber Amancio mora próximo do Badim e foi até o local para oferecer ajuda. "A área estava cercada por um cordão de isolamento e não podia passar ninguém. Foi quando falei para alguns policiais que me deixassem passar que eu era enfermeiro", escreveu. "Sem pensar duas vezes, eles me deram passagem e pude ajudar na grande maioria das transferências de pacientes estáveis em ambulâncias básicas que foram rapidamente escoadas para hospitais da região. O sofrimento e cansaço no rosto de todos era notório", disse.

"Não parava de pensar no sofrimento dos pacientes que ainda se encontravam no interior do prédio, acamados, sozinhos, no escuro, sem suporte de O2 [oxigênio], eles e Deus", escreveu Amancio.

Cirurgia quando o fogo começou

A médica Narayana Pauline Serpa estava no centro cirúrgico do hospital quando soube do incêndio. "Foi um dia pelo qual ninguém imagina passar, estar operando e receber a notícia que o hospital está pegando fogo. Tivemos que evacuar o hospital, já com muita fumaça, toda minha equipe e a paciente (que ainda estava despertando da anestesia) fomos retirados sem danos", contou a cirurgiã.

"E é impressionante, nesses momentos de crise, a solidariedade das pessoas. O dono da creche que cedeu seu espaço para nos acolher e dezenas de pacientes, profissionais de saúde da vizinhança oferecendo ajuda e especialmente os funcionários do hospital que lutaram, com o pouco equipamento que tinham, para manter os pacientes estáveis e atender os familiares e funcionários que arriscaram a vida para salvar outras", disse Narayana na postagem.

A médica Christiane Vigne teve pneumonite química por inalação de fumaça tóxica durante o atendimento. "Tivemos momentos de horror e desespero, inalamos muita fumaça tóxica para ajudar a remover nossos pacientes com segurança e buscar material. Mas são momentos como esse que percebemos que não somos somente um hospital e sim uma família, todos apareceram prontamente, os de plantão e os que não estavam de plantão", conta a cirurgiã plástica.

O cirurgião Guilherme Cotta disse que soube ainda no caminho para o hospital que o gerador estaria pegando fogo. "Estacionei o meu carro, e nós da minha equipe passamos a ajudar a retirada dos nossos pacientes, de funcionários, de parentes e outros que estavam envoltos na maligna fumaça preta que queimava e lacrimejava os nossos olhos", disse o médico. "Olhe para nossa equipe, veja a solidariedade de funcionários, de bombeiros, de dirigentes e anônimos em meio a um caos instalado", afirmou o profissional.

À Agência Brasil, a técnica de enfermagem Andreia de Oliveira estava em casa, afastada por ter sepultado a mãe no dia anterior ao incêndio, quando decidiu ir ao Badim para ajudar no socorro aos sobreviventes. "A união faz a diferença numa hora dessas. Pessoas de outras redes também vieram nos ajudar. A união faz a força. Nós estamos aqui para fazer um acesso, servir água, fazer uma massagem cardíaca", disse Andreia.

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AFP