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Caso Marielle: Polícia admite investigação que envolve ex-deputado Brazão

Domingos Brazão - Fabiano Rocha / Agência O Globo
Domingos Brazão Imagem: Fabiano Rocha / Agência O Globo

Marina Lang

Colaboração para o UOL, do Rio de Janeiro

24/10/2019 20h55

O chefe do Departamento Geral de Homicídios e Proteção à Pessoa (DGHPP), delegado Antônio Ricardo Nunes, admitiu hoje que a Polícia Civil do Rio apura uma possível participação do ex-deputado e conselheiro afastado do TCE-RJ (Tribunal de Contas do Rio), Domingos Brazão, no atentado contra a vereadora Marielle Franco e seu motorista, Anderson Gomes, em 14 de março do ano passado.

Embora o delegado tenha negado hoje que ele seja formalmente suspeito no âmbito do inquérito, o UOL apurou que ele "está no cerne das investigações" da Polícia Civil e do MP do Rio (Ministério Público do Rio) que, neste momento, apuram a motivação e os mandantes do crime.

"Essa é uma linha de investigação que nós seguiremos também", resumiu o delegado sobre Brazão, em entrevista coletiva na porta da DH hoje. "[Mas] Por enquanto, ele é considerado testemunha", acrescentou.

A polícia não descarta, também, um novo depoimento prestado pelo ex-deputado na condição de testemunha das investigações, disse Antônio Ricardo. Ele já havia sido ouvido pela polícia em junho do ano passado na 1ª fase das investigações, que resultaram na prisão do PM reformado Ronnie Lessa e do ex-PM Élcio Queiroz, réus pela emboscada que vitimou Marielle e Anderson.

Brazão nega qualquer tipo de envolvimento com os homicídios. O ex-conselheiro do TCE foi apontado pela PGR (Procuradoria-Geral da República) devido a uma possível "autoria intelectual" dos assassinatos.

Em setembro, a ex-procuradora geral da República Raquel Dodge denunciou Brazão e outras quatro pessoas pela obstrução das investigações do caso, além de pedir a federalização das investigações.

Deputados presos prestaram depoimento

Dois ex-deputados estaduais prestaram depoimento na DH hoje: Edson Albertassi (MDB) e Paulo Melo (MDB). Eles foram presos em novembro de 2017 na Operação Cadeia Velha, um desdobramento da Operação Lava Jato no Rio, e foram ouvidos na condição de testemunhas no inquérito que investiga os mandantes das mortes da vereadora e de seu motorista.

A polícia e o MP do Rio apuram se Melo e Albertassi podem ajudar na linha de investigação que leva a Brazão.

Segundo o advogado Márcio Delambert, que representa Albertassi, ele "respondeu todas as perguntas formuladas pelo delegado e promotoras presentes". Flávio Mirza, advogado de Melo, disse que o inquérito corre sob sigilo.

Albertassi prestou depoimento por cerca de 3h. Já Melo foi ouvido por cerca de 2h. Ambos deixaram a especializada no começo da noite e retornaram à Cadeia Pública Pedrolino Werling de Oliveira, também conhecida como Bangu 8.

Marielle Franco - vertical - Márcia Foletto/Agência O Globo - Márcia Foletto/Agência O Globo
Marielle Franco
Imagem: Márcia Foletto/Agência O Globo

"Nós temos algumas linhas de investigação. [Nos depoimentos prestados hoje] é uma linha ligada a uma motivação política. Eles citaram algumas pessoas que serão ouvidas. É isso o que eu posso dizer no momento, não vou entrar em detalhes", declarou o delegado que chefia a especializada.

Ele se recusou a informar se Brazão teria sido mencionado nos depoimentos dos ex-deputados. Isso porque o inquérito, conduzido pela Polícia Civil e pelo MP do Rio, corre sob sigilo.

Críticas a uma eventual federalização

Antônio Ricardo criticou, também, a eventual federalização das investigações pedida por Dodge. Segundo ele, isso seria um "retrocesso".

"A investigação segue e as linhas de apuração estão sendo aprofundadas. Elas seguem em sigilo. Se sair da Polícia Civil vai haver um prejuízo muito grande, porque o que nós já produzimos de informação e de documentos apreendidos, que ainda estão sob análise, vai ser uma perda inestimável. Já temos mais de 30 volumes [de inquérito] produzidos", declarou ele.

"Nossa investigação se baseia em dados concretos. Vamos seguir com muita seriedade porque, quando apresentarmos o desfecho que todos querem, que esse desfecho seja muito concreto com bastante provas, para que quem mandou matar seja condenado e fique bastante tempo preso", finalizou o diretor da DH.

Cúpula do MDB

Retrato do deputado Marcelo Freixo - Ricardo Borges/UOL - Ricardo Borges/UOL
Deputado Marcelo Freixo
Imagem: Ricardo Borges/UOL

Também preso na Operação Cadeia Velha, o ex-deputado e ex-presidente da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio), Jorge Picciani (MDB), não foi ouvido hoje, mas deve ser convocado para prestar depoimento em breve, segundo apurou a reportagem. Ele está em regime de prisão domiciliar.

Em uma das linhas investigativas dos assassinatos, o MP e a polícia apuram se a vereadora teria sido morta em retaliação ao pedido de liminar que impediu Albertassi de ingressar no TCE (Tribunal de Contas do Estado) e transferir a jurisdição das investigações da Operação Cadeia Velha para o STJ (Superior Tribunal de Justiça), em Brasília.

A revelação foi feita por Marcelo Freixo (PSOL), então deputado estadual, no ano passado, que também foi o autor do pedido de impedimento de Albertassi.

As defesas dos três deputados negaram as suspeitas à época, criticaram Freixo e creditaram-nas a "ambições políticas".

Freixo ingressou com o mesmo pedido para impedir Brazão de ingressar no TCE do Rio em 2015, mas não conseguiu impedi-lo de assumir o posto. Ao tomar posse do cargo, por exigência da lei, Brazão deixou o MDB, partido ao qual era filiado. A indicação foi apadrinhada pelo então presidente da casa legislativa, Jorge Picciani (MDB).