Topo

"Só me resta dor e vazio", diz viúva de garçom morto em ação da PM no Rio

11.nov.2019 - A viúva Ana Arlete Alves Faria, 26, disse que o casal sonhava em ter um filho - Reginaldo Pimenta/Estadão Conteúdo
11.nov.2019 - A viúva Ana Arlete Alves Faria, 26, disse que o casal sonhava em ter um filho Imagem: Reginaldo Pimenta/Estadão Conteúdo

Marcela Lemos

Colaboração para o UOL, no Rio

11/11/2019 15h40

Resumo da notícia

  • Francisco Laércio foi atingido por uma bala na cabeça quando voltava do trabalho
  • O garçom foi atingido durante ação policial na comunidade Barreira do Vasco
  • A viúva relatou que o casal fazia planos para voltar ao Ceará e ter um filho

Há dez anos morando no Rio, o garçom Francisco Laércio, 26, morto com um tiro na cabeça durante ação da Polícia Militar na comunidade da Barreira do Vasco, em São Cristóvão, na zona norte carioca, fazia planos para voltar para o Ceará, onde nasceu, no ano que vem. A mulher dele, Ana Arlete Alves Faria, 26, disse que o casal sonhava em ter um filho, mas que antes se fazia necessário retornar para perto da família.

Os dois se conheceram ainda adolescentes no Ceará e se mudaram para a capital fluminense. Francisco e Ana se reaproximaram por meio das redes sociais e estavam casados havia três meses. A viúva conta que soube através de amigos que o marido havia sido baleado.

"Corri lá. Ele estava no chão. Nem foi socorrido. Nem tinha mais policial lá perto dele. Só muita gente em volta. A gente fazia planos de ter um filho, queríamos voltar para o Ceará nas férias do ano que vem. Lá é bem melhor e mais fácil para viver. Tem nossa família. Estávamos animados com isso. Agora me resta a dor e o vazio", disse Ana Arlete.

Ela descreveu o marido como um homem brincalhão, torcedor do Flamengo e que gostava de cantar e dançar.

O corpo de Francisco foi velado na manhã de hoje em uma capela na comunidade. Moradores fizeram uma manifestação pacífica contra a ação da PM que resultou na morte do morador que trabalhava como garçom em um bar na Lapa, região central da cidade. Ele foi atingido na cabeça quando chegava à comunidade.

11.nov.2019 - Velório do garçom Francisco Laércio, 26, morto por bala perdida em ação policial em favela do Rio - José Lucena/Estadão Conteúdo - José Lucena/Estadão Conteúdo
11.nov.2019 - Velório do garçom Francisco Laércio, 26, morto por bala perdida em ação policial em favela do Rio
Imagem: José Lucena/Estadão Conteúdo

De acordo com moradores, o garçom segurava um copo de café e uma sacola com uma sanduicheira elétrica que daria de presente para a mulher.

Em nota, a PM informou que os policiais foram atacados por criminosos. No entanto, moradores negam operação na região no momento da morte. A presidente da Associação de Moradores da Barreira do Vasco, Vânia Rodrigues, contou que a comunidade é tranquila e que, no local, não há confrontos entre traficantes e PMs.

"Moro há 52 anos e nunca teve confronto aqui. Quando instalaram uma UPP [Unidade de Polícia Pacificadora] há seis anos, disse que nem precisava. A comunidade é muito tranquila, mas, de dois meses para cá, policiais passaram a entrar aqui dando tiro, mas a comunidade não oferece risco."

Segundo ela, moradores contaram terem visto os policiais tomando café na padaria e relataram que dois deles entraram na comunidade. "Dois meses atrás, por volta de 12h15, passou uma moto considerada suspeita e os PMs deram vários tiros. Há dois meses começou essa rotina. Não estamos acostumados com violência", disse a presidente da associação.

PMs chegaram a ser detidos

Procurada, a Polícia Militar afirmou que lamenta a morte do garçom e informou que equipes faziam um patrulhamento na região no momento que Francisco foi baleado.

Os agentes envolvidos no caso foram presos por desobediência de ordem e descumprimento de missão. No entanto, após audiência de custódia, os dois foram soltos. "Um inquérito policial militar foi aberto e seguirá os trâmites internos", disse a PM por meio de nota.

A Delegacia de Homicídios, na Barra da Tijuca, na zona oeste, investiga o caso.