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Em meio a boatos, Ceagesp descarta alimentos atingidos pela enchente

14.fev - Alimentos descartados na Ceagesp após enchentes que afetaram a região - Marcelo Tuvuca Freire / Colaboração para o UOL
14.fev - Alimentos descartados na Ceagesp após enchentes que afetaram a região Imagem: Marcelo Tuvuca Freire / Colaboração para o UOL

Marcelo Tuvuca Freire

Colaboração para o UOL, em São Paulo

15/02/2020 04h01

Resumo da notícia

  • Mensagens em redes sociais afirmam que frutas e verduras contaminadas estão sendo vendidas em SP
  • O maior entreposto da Ceagesp foi alagado pelo temporal que atingiu São Paulo na segunda-feira
  • Empresa classifica mensagens de fake news e diz que comerciantes foram orientados a descartar produtos
  • Reportagem viu caixas inteiras de alimentos sendo jogadas
  • A orientação, no entanto, é inutilizar as caixas antes de jogá-las

Em meio a uma onda de mensagens afirmando que frutas e verduras provenientes da Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo) estariam contaminadas pela enchente que atingiu o local na segunda (10), comerciantes ainda descartavam, ontem, caixas inteiras de alimentos que foram atingidas pelas águas.

Em visita às instalações na zona oeste de São Paulo, o UOL presenciou um movimento intenso de descarte de produtos, bem como a ação de fiscais entre as barracas.

Pilhas de alimentos descartados se acumulavam no chão em volta dos armazéns — cena relativamente comum para quem frequenta os varejões de fim de semana, mas em volume consideravelmente maior.

Ainda há rastros do alagamento, com lama nos arredores dos postos. Os comerciantes relataram que, nas áreas mais baixas, a água chegou a subir mais de um metro na segunda-feira.

Com dificuldade de movimentação, comerciantes também se queixam de demora maior para retirada do lixo — responsabilidade da Ceagesp. A empresa, por sua vez, afirma que o "trabalho de limpeza e higienização não irá parar até que todos os dejetos encontrados sejam retirados e as áreas sejam limpas, sem prazo de encerramento".

Comerciantes foram orientados a jogar fora alimentos

Comerciantes ouvidos pela reportagem afirmaram que receberam orientação da Ceagesp para jogar fora os alimentos que tiveram contato com a água da enchente, sob a pena de apreensão dos alimentos, multa ou inclusive suspensão de três dias da permissão de trabalho.

"Não tem o que fazer com esses produtos, a gente tem que jogar fora mesmo. Se alguém tentar vender e for pego pela fiscalização, vai ter um problema sério", diz Rodrigo Barros, que afirmou ter descartado várias caixas de frutas que ficaram na enchente.

A companhia, uma empresa pública federal, afirma que a responsabilidade pelo controle de qualidade dos produtos é dos comerciantes, mas diz que os fiscaliza.

A orientação oficial da empresa é inutilizar os alimentos além de descartá-los, para evitar o risco de que o produto seja consumido ou comercializado mesmo depois de jogado no lixo. A reportagem do UOL, no entanto, observou que alguns comerciantes descartaram caixas inteiras de produtos.

Ceagesp debaixo d'água - Estadão Conteúdo - Estadão Conteúdo
11.fev - Frutas e verduras são descartadas após enchente atingir o Ceagesp
Imagem: Estadão Conteúdo

Ações do poder público

A estimativa da Ceagesp é de que 7 mil toneladas de alimentos foram estragados durante o alagamento, o que representa cerca de 70% da movimentação diária do entreposto e R$ 20 milhões em prejuízo.

A Ceagesp disse que a Anvisa (Agência de Vigilância Sanitária) realizou uma "vistoria técnica criteriosa no Entreposto Terminal São Paulo, para garantir que todas as medidas necessárias fossem tomadas".

A Prefeitura de São Paulo, por sua vez, informou que o Núcleo de Vigilância de Alimentos da Secretaria Municipal da Saúde esteve no local orientando os comerciantes a "inutilizar todos os produtos que foram atingidos pelas águas da enchente".

Comerciantes e Ceagesp dizem que mensagens são "fake news"

Os próprios comerciantes relataram ter sido contatados por amigos perguntando sobre mensagens falando em venda de itens contaminados. Mas eles classificam as mensagens como "boato" e se dizem preocupados com o controle de qualidade dos produtos, além do risco de punição.

Em nota oficial, a Ceagesp rebateu as mensagens.

"As mídias sociais estão sendo bombardeadas com notícias falsas - as chamadas fake news - sobre a situação dentro do mercado, principalmente com informações sobre a segurança alimentar. A Ceagesp reforça que todos os esforços estão sendo realizados desde o início dos trabalhos para que a segurança alimentar não seja comprometida", disse a companhia.

Nesta sexta, apesar das dificuldades dos clientes de chegar e estacionar dentro do entreposto, a venda no atacado da Ceagesp era intensa. Veículos se enfileiravam para encontrar espaço no interior do entreposto, que ainda tem caminhões danificados pelo alagamento e aguardam para serem guinchados.

Apesar dos contratempos, a sensação dos permissionários é de que a Ceagesp está voltando à normalidade. Neste sábado, o entreposto terá o retorno da feira de varejo, que ficou fechada na quarta.

Errata: este conteúdo foi atualizado
A estimativa da Ceagesp é de que 7 mil toneladas de alimentos foram estragados durante o alagamento, e não 20 toneladas, como dizia o primeiro parágrafo após o intertítulo "Ações do poder público". A informação foi corrigida