Topo

Ambulância fica presa no trânsito com bloqueio em SP; congestionamento sobe

Luís Adorno e Nathan Lopes

Do UOL, em São Paulo

05/05/2020 11h25

Cruzamentos importantes das quatro regiões da cidade de São Paulo tiveram bloqueios de carros entre 6h e 10h de hoje para provocar congestionamento e, consequentemente, aumentar a taxa de isolamento social, que está abaixo dos 50% na capital, em meio a pandemia do novo coronavirus. A medida, no entanto, atrasou serviços essenciais, como ambulâncias e entregas de mantimentos.

Os bloqueios foram feitos nos sentidos bairro-centro. Nas vias de grande circulação, o trânsito foi afunilado para uma única faixa. A faixa de ônibus ficou planejada para ter a movimentação de coletivos, viaturas em serviço e servidores da área da saúde. Mas a reportagem flagrou ao menos uma ambulância e um prestador de serviço de hospital preso no congestionamento da zona leste.

Na Radial Leste, no cruzamento com o viaduto Bresser, na região da Mooca, o bloqueio foi feito por carros da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), GCM (Guarda Civil Metropolitana), PM (Polícia Militar), além da prefeitura e SPTrans. Motoristas relataram até uma hora no trânsito, que se intensificou no Tatuapé, próximo da avenida Salim Farah Maluf.

A lentidão na cidade hoje variou entre 7 km e 10 km entre às 7h e às 10h, segundo a CET. Na terça da semana passada, o número ficou entre 1 km e 5 km. Ontem, primeiro dia de bloqueio, ficou entre 4 km e 11 km.

Às 10h de hoje, quando os bloqueios foram encerrados, os congestionamentos na cidade chegaram a 9 quilômetros. Em 28 de abril, nesse mesmo horário, a lentidão na cidade era de um quilômetro.

Bloqueio na Radial Leste no cruzamento com o viaduto Bresser, na região da Mooca - Luís Adorno/UOL - Luís Adorno/UOL
Bloqueio na Radial Leste no cruzamento com o viaduto Bresser, na região da Mooca
Imagem: Luís Adorno/UOL

Pelas faixas de ônibus, o tráfego estava praticamente normal na manhã de hoje. Mas havia trechos no percurso até o bloqueio que todos os carros se juntavam. Nesse momento, uma ambulância com sirene ligada ficou presa no congestionamento, por volta das 8h40. Ela só conseguiu se desvencilhar quando agentes da CET abriram uma faixa para que escapasse do trânsito.

"Não fiquei surpreso com o bloqueio porque já estava sabendo pelo rádio. Estou indo do hospital Santa Virgínia para o Instituto Adolfo Lutz, indo levar amostra de covid. Espero chegar lá o quanto antes, vai dar tudo certo", disse Julio Cesar, 54, enquanto aguardava o semáforo em frente ao bloqueio da zona leste ficar verde.

Procurada, a CET não se manifestou até esta publicação sobre os problemas causado à ambulância e servidor da saúde. Em nota, a companhia afirmou que "a restrição ao fluxo de veículos visa colaborar para a ampliação da taxa de isolamento social no município, que está abaixo de 50%. O ideal para combater a propagação do Coronavírus, de acordo com as autoridades de saúde, é de 60% a 70%".

"Ia acordar às 5h30 para dirigir se não precisasse?"

Severino Ramos dos Santos, 50, disse ter ficado pelo menos uma hora parado na radial leste. Ele saiu do bairro de Guaianases, no extremo leste, e ia para a rua Líbero Badaró, onde trabalha na manutenção de um prédio.

"Trabalho dia sim, dia não. Hoje era meu dia de ir. Não teve jeito. Desde 5h30 que estou no carro. Até agora [7h45] tô na metade do caminho. Eu ia acordar 5h30 para dirigir pela cidade se eu não precisasse? Acredito que todo mundo que está parado aqui não está na rua porque quer", afirmou.

É também o caso também de Michel Pereira, 26, que estava a caminho de padarias da região central para entregar alimentos perecíveis. "Estou vindo de São Bernardo. Na rua desde 4h. Não estou parando, a gente entrega alimento. Se a gente parar, como se vive?", disse.

Sem máscara no rosto, ele relatou que está se protegendo usando o álcool em gel constantemente.

Michel Pereira, 26, ficou preso no trânsito de São Paulo - Luís Adorno/UOL - Luís Adorno/UOL
Michel Pereira, 26, ficou preso no trânsito de São Paulo
Imagem: Luís Adorno/UOL

Wilson José de Jesus, 55, seguia do Jardim Flor de Maio, na zona norte, para a Vila Madalena, onde iria pintar uma casa. "Não botei no GPS, acabei caindo aqui, me danei. Estou tentando ao máximo ficar em casa. Quando saio, uso máscara e álcool em gel. Mas também não posso recusar trabalho, é dura a vida", disse.

A ajudante geral Maria Conceição, 42, também não consegue ficar em casa. Ela diz trabalhar em um consultório ginecológico de Pinheiros e ir diariamente ao local de carro com o marido, o motorista de aplicativo Mário Vieira, 43.

"Avisei que vou chegar atrasada e o doutor entendeu perfeitamente: ele também estava preso no trânsito, mas na zona sul [risos]", disse.

O marido acrescentou: "a gente até entende a decisão, pode ser que ajude, e toda ajuda é bem-vinda, mas olha para gente. Mas, ó: nesse friozinho, eu preferia ficar com a nega no cobertor. Quem não?".