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Mandam ficar em casa e levo tiro quando varro a laje, diz morador no RJ

Morador foi alvo de quatro tiros quando varria laje no morro Santa Marta - Débora Costa e Silva/UOL
Morador foi alvo de quatro tiros quando varria laje no morro Santa Marta Imagem: Débora Costa e Silva/UOL

Marcela Lemos

Colaboração para o UOL, no Rio de Janeiro

21/05/2020 12h09

Um morador da comunidade Santa Marta, em Botafogo, na zona sul do Rio, foi alvo de quatro tiros enquanto varria a laje da sua casa na última sexta-feira (15). O porteiro de 32 anos, que pediu para não ser identificado, afirmou ao UOL que os disparos partiram de policiais militares, que realizavam uma operação no local.

Ele foi atingido por estilhaços dos tiros, mas disse que não se feriu. No momento dos disparos, o porteiro limpava o espaço para as duas filhas de 9 e 13 anos brincarem quando ouviu os quatro disparos em sua direção.

"Quer dizer que o governo pede para ficar em casa [por causa da pandemia do novo coronavírus] e quando eu subo na minha laje, tomo tiro? Pra mim é rotina subir na laje para limpar, ver o nível da caixa d'agua. Neste dia, subi com uma vassoura para varrer para as crianças brincarem. Nesta pandemia, achava que o único lugar seguro para elas era a laje. Agora vejo que nem isso pode", lamenta o morador.

Ele afirma que estava de costas, sem camisa e com a vassoura na mão, quando percebeu que estava sendo alvo de disparos. O porteiro precisou correr para dentro de casa e se proteger, escapando ileso dos quatro tiros.

"Neste momento, que ouviram os disparos, minhas filhas já estavam debaixo da cama, assustadas. Depois de uns cinco minutos vi o carro da PM passando. Não houve troca de tiros. Os únicos tiros vieram para cima de mim. Depois procurei o presidente da Associação de Moradores para relatar o que houve. Lá ficamos sabendo que os disparos foram em cima de um rapaz que estava armado na laje, mas eu só estava com uma vassoura na mão", afirma.

O morador diz que procurou o comandante do batalhão da PM da região e também a UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) da comunidade para conversar sobre o ocorrido. "Procurei a UPP, levei meus documentos, contracheques para mostrar que sou trabalhador. Levei até o short que estava usando para mostrar para eles", explica.

Após os disparos, o morador conta que ficou traumatizado, que teve dificuldades para dormir durante três dias e que não sobe mais na laje nem para colocar as roupas no varal. Ele criticou ainda a ação da PM.

"Eles primeiro atiram e depois perguntam quem é? A comunidade já tem muito problema. O estado não chega aqui com saneamento, saúde, nem educação. E quando chega é com o pé na porta? Dando tiro? A comunidade tem muitas pessoas de bem", conclui o porteiro.

Procurada, a Polícia Militar ainda não comentou o caso.

Nesta semana, dois adolescentes morreram durante operações policiais. João Pedro Matos, 14, foi assassinado em São Gonçalo na tarde de segunda-feira (18), enquanto brincava com primos na casa de um tio. João Vitor da Rocha, 18, foi morto na Cidade de Deus, na tarde de ontem, durante entrega de cestas básicas na comunidade.

Em ambas, pessoas ligadas à vítima relataram invasões e truculência por parte dos agentes públicos. Já os policiais alegaram que responderam a tiros disparos por supostos traficantes.