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O que é 300 do Brasil, grupo de extrema-direita liderado por Sara Winter

Lucas Borges Teixeira

Colaboração para o UOL, em São Paulo

15/06/2020 12h58

A ativista Sara Winter e mais cinco lideranças do grupo "300 do Brasil" foram presos na manhã dessa segunda-feira (15) em meio ao inquérito que apura as manifestações antidemocráticas, das quais o grupo participa ativamente. De acordo com o MPF (Ministério Público Federal), há indícios de que a organização continua captando recursos financeiros para ações que se enquadram na Lei de Segurança Nacional, que define crimes contra a ordem política e social.

Com representantes armados, o grupo, que tem a ex-feminista Sara Winter como principal porta-voz, se intitula uma "organização de direita" e ganhou projeção nacional ao acampar na Esplanada dos Ministérios em Brasília e pedir o fechamento do Congresso Nacional e a saída de ministros do STF (Supremo Tribunal Federal).

Primeira militância organizada de direita no Brasil

300 do Brasil  -  Reprodução / Instagram 300 do Brasil  -  Reprodução / Instagram 300 do Brasil
Sara Winter com membros do grupo 300 do Brasil
Imagem: Reprodução / Instagram 300 do Brasil

Formado por homens e mulheres de diferentes idades, o grupo virou assunto no dia 1º de maio, quando se instalou no Eixo Monumental da Esplanada dos Ministérios, em Brasília. Com uma faixa "300 do Brasil", a organização —que geralmente reúne cerca de 20 pessoas por dia, segundo reportagem do "Zero Hora— se autointitula "a primeira militância organizada de direita no Brasil". Além de Sara, o grupo tem como cofundadora Desiré Queiroz, ex-conselheira nacional de Juventude, Mulheres e Crianças.

As principais pautas defendidas pelo grupo são semelhantes às das manifestações antidemocráticas que têm acontecido aos domingos pelo Brasil, com participação ativa deles em Brasília: apoio ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), pedido de saída dos presidentes da Câmara e do Senado, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Davi Alcolumbre (DEM-AP) e dos ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) e intervenção militar (chamada por eles de "intervenção do povo").

Desde então, a rotina dos representantes do grupo se divide entre protestos filmados para as redes sociais e caminhadas de apoio ao presidente Bolsonaro, que é visitado em suas aparições no cercadinho do Planalto. Vez ou outra, recebe a visita de algum parlamentar, como da deputada bolsonarista Carla Zambelli (PSL-SP) no dia 11 de maio.

Durante quase um mês o grupo foi financiado por uma vaquinha online, criada por um apoiador de Florianópolis, que pedia ajuda "aos patriotas do acampamento dos 300 em Brasília em apoio ao nosso presidente". A arrecadação seguiu até o dia 27 de maio, quando o site Vakinha tirou a proposta do ar, sob recomendação do setor jurídico.

Protestos com membros armados

Sara Winter segurando dois revólveres - Reprodução - Reprodução
Sara Winter, líder do grupo armado 300 do Brasil
Imagem: Reprodução

Entre seus membros, a propaganda é de simulação de treinamento militar. Vídeos publicados nas redes sociais mostram os participantes, chamados de soldados, enfileirados dando gritos em referência ao filme "300", sobre a Grécia Antiga, que também originou o nome do acampamento.

Sara Winter também já admitiu que parte do grupo estava armada no acampamento. "Existem membros que são CACs [sigla para Colecionador, Atirador e Caçador], outros que possuem armas devidamente registradas nos órgãos competentes. Essas armas servem para a proteção dos próprios membros do acampamento e nada têm a ver com nossa militância", declarou a porta-voz em entrevista à BBC Brasil.

Apesar disso, Sara disse que o grupo prega protestos não-violentos. "Absolutamente nenhum dos integrantes dos 300 do Brasil fala sobre 'milícia armada', muito menos sobre invadir o Congresso ou STF", declarou. Mas na última semana, depois que o governo do Distrito Federal determinou a remoção do grupo na Esplanada dos Ministérios com base no estado de calamidade pública por causa da pandemia de covid-19, participantes invadiram a cúpula do Congresso Nacional.

Desde então, o governador Ibaneis Rocha (MDB-DF) também passou a ser um dos alvos do "300", chamado por eles de "bandido" aliado do "STF comunista".

Seus protestos são marcados por pautas antidemocráticas e ações teatrais. No dia 30 de maio, o grupo fez uma caminhada em frente ao STF com tochas e máscaras depois que Sara foi alvo de um mandado de busca e apreensão relacionado ao inquérito das fake news conduzido no STF. O principal alvo foi o ministro Alexandre de Moraes.

Do feminismo à extrema direita bolsonarista

Sara Femen - Leonardo Soares/UOL - Leonardo Soares/UOL
Sara Winter em foto de 2012, quando fazia parte do grupo feminista Femen
Imagem: Leonardo Soares/UOL

Sara Winter, principal porta-voz do movimento, começou a ganhar projeção nacional no espectro político oposto, como fundadora do grupo feminista Femen no Brasil em 2012. Ela foi presa em diversas ocasiões, protestando pela igualdade de gênero e pelo fim da desigualdade social.

Em pouco tempo, no entanto, disse se desiludir com a luta feminista e passou a se aproximar de grupos conservadores de direita. Em 2018, tentou se eleger deputada federal no Rio de Janeiro pelo DEM, mas não foi eleita.

Em 2019, já sob governo Bolsonaro, tornou-se foi coordenadora de políticas à maternidade no Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.

Desde o tempo de luta feminista, Sara já flertava com a extrema-direita. Durante um protesto em 2012, ela exibiu uma cruz de ferro, principal condecoração de guerra do regime nazista, no peito esquerdo durante um protesto. Na época, ela afirmou, por meio de nota, que aquilo era um "erro do passado".

A vontade de ser famosa se expressou também de outras formas. Antes de se tornar religiosa, Winter tentou entrar no reality show "Big Brother Brasil", da Rede Globo, aos 21 anos.