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PE: Mulher denuncia hospital por violência obstétrica; bebê ficou ferido

A diarista Ana Paula Silva de Souza, de 37 anos, carrega o filho nos braços - Arquivo Pessoal
A diarista Ana Paula Silva de Souza, de 37 anos, carrega o filho nos braços Imagem: Arquivo Pessoal

Colaboração para o UOL, em Recife

09/10/2020 10h28

Era para ser um dia feliz para a diarista Ana Paula Silva de Souza, de 37 anos, que viu o momento do parto de seu filho se tornar algo traumático. Ela deu à luz em um hospital de Olinda, em Pernambuco, e teve o bebê machucado durante o procedimento. Segundo a mulher, a unidade ainda preencheu incorretamente a declaração de nascido vivo, trocando o sexo da criança. O centro de saúde diz que está à disposição de Ana e familiares para possíveis esclarecimentos.

O parto aconteceu em 24 de setembro, no Hospital do Tricentenário. "Assim que eu cheguei lá, começou o sofrimento. O acompanhamento médico que fiz não recomendava o parto normal, mas mesmo assim quiseram. E o médico pegou um fórceps para forçar no parto. Ele usou uma tesoura e machucou a mim e a meu filho. Em dado momento, ele caiu no chão, se levantou, saiu da sala e avisou aos enfermeiros para me levarem para a cesárea", contou Ana Paula ao UOL.

A criança nasceu machucada, com ferimentos na cabeça e um corte grande na orelha. "Meu marido soube e ficou revoltado. Graças a Deus o meu filho está vivo, mas eu fiquei tão traumatizada que acho que acabou o meu leite. Queria amamentar bastante meu filho, mas não posso. Não consigo nem olhar para aquele hospital que eu fico nervosa, agitada. Quero justiça", acrescentou.

Além do trauma alegado, o hospital teria preenchido incorretamente a declaração de nascido vivo do bebê. "Em vez de colocar que era uma criança do sexo masculino, colocaram que era feminino. Ana precisará retornar para fazer uma retificação e, depois, ir ao cartório. Ela está tendo que sair de casa, cheia de pontos, quando deveria estar em repouso absoluto", relatou a advogada Flávia Andrade, que representa a diarista.

Tão logo teve condições, Ana Paula foi atrás de seus direitos. Na última segunda-feira (5), foi até a Delegacia de Rio Doce, em Olinda, registrar o caso. Ela foi submetida a um exame de corpo delito e, logo quando sair o laudo, sua advogada irá protocolar queixas no Ministério Público de Pernambuco (MPPE) e no Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (Cremepe).

"Vamos entrar também com um processo de reparação civil por causa do abalo psicológico e estético que ela e a criança sofreram. O médico legista disse que, daqui a quatro meses, será preciso fazer exames na orelha do bebê, porque pode ser que fiquem deformidades", acrescentou a advogada.

Hospital se pronuncia

O Hospital do Tricentenário, localizado em Olinda (PE) - Reprodução - Reprodução
O Hospital do Tricentenário, localizado em Olinda (PE)
Imagem: Reprodução

Em nota, o Hospital do Tricentenário informou que a paciente teve "dilatação completa e encaixe adequado do bebê", mas foi indicado na ocasião o uso de fórceps: "O procedimento não foi suficiente, visto que, no decorrer da evolução clínica, apresentou uma desproporção céfalo pélvica, sendo indicado, posteriormente, o parto cesáreo, do qual ocorreu com sucesso, sem prejuízos às saúdes da puérpera e do recém nascido".

"Alguns pequenos riscos são previstos, mas de forma temporária, sem a necessidade de tratamento, como pequenas lesões na região da cabeça do bebê, onde o aparelho é encaixado. Como consta em prontuário, mãe e bebê tiveram alta médica em boas condições e sem agravos à saúde. O Hospital do Tricentenário fica à disposição dos familiares para possíveis esclarecimentos", pontuou o centro de saúde.

Também por meio de nota, a Polícia Civil de Pernambuco diz que "instaurou inquérito policial do caso e que estão sendo tomadas medidas necessárias pelo delegado Osias Tiburcio".

Por fim, o Cremepe diz que "instaurou uma sindicância 'ex-offício' para apuração do fato", que seguirá "em sigilo processual, para não comprometer a investigação, e segue o que estabelece o Código de Processo Ético Profissional".