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Tiros a 5 m: polícia apura se guerra do jogo do bicho matou genro de Castor

10.nov.2020 - Fernando Iggnácio Miranda, genro do contraventor Castor de Andrade - Reprodução
10.nov.2020 - Fernando Iggnácio Miranda, genro do contraventor Castor de Andrade Imagem: Reprodução

Herculano Barreto Filho

DO UOL, no Rio

11/11/2020 04h00

A Polícia Civil investiga se uma sangrenta disputa por território marcada por mais de 50 mortes em duas décadas está por trás do assassinato do contraventor Fernando Iggnácio Miranda, atingido ontem (10) à tarde por tiros de fuzil na cabeça a uma distância de 5 m no estacionamento de um heliporto no Recreio dos Bandeirantes, zona oeste do Rio.

Genro do contraventor Castor de Andrade —morto em 1997—, Iggnácio disputava o controle do jogo do bicho e de máquinas de caça-níqueis na zona oeste carioca com Rogério Andrade, sobrinho do bicheiro.

Policiais da Delegacia de Homicídios da Capital apreenderam projéteis de fuzil calibre 7.62 no heliporto. Em conversa com jornalistas na noite de terça em frente à sede da DHC (Delegacia de Homicídios da Capital), na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio, um delegado disse que o calibre dos projéteis recolhidos era 5.56. Entretanto, a assessoria de imprensa da Polícia Civil corrigiu, informando nesta quarta (11) que o calibre era 7.62 de uma AK-47.

Os agentes também analisam imagens captadas por 64 câmeras de segurança até 30 dias antes do crime. Os investigadores querem identificar se os suspeitos estiveram no local às vésperas do crime para planejar a ação.

Em uma análise preliminar, foi possível identificar a movimentação de veículos suspeitos no momento do assassinato.

Fontes ligadas à Polícia Civil dizem que os atiradores abriram fogo de cima de um muro em direção ao estacionamento onde estava a vítima. Na fuga, eles usaram uma escada para escalar um muro de 3 m após percorrerem uma área de mata em um terreno baldio de 15 mil m². A escada também foi apreendida, para verificar se é possível colher as impressões digitais dos suspeitos de participação no homicídio.

10.nov.2020 - Rota de fuga de assassinos do contraventor Fernando Iggnácio Miranda - Herculano Barreto Filho/UOL - Herculano Barreto Filho/UOL
10.nov.2020 - Rota de fuga de assassinos do contraventor Fernando Iggnácio Miranda
Imagem: Herculano Barreto Filho/UOL

Iggnácio tinha acabado de desembarcar de um helicóptero vindo de Angra dos Reis (RJ) quando foi surpreendido pelos atiradores antes de embarcar no seu carro que estava estacionado no local. O UOL teve acesso a fotos da cena do crime, que mostram a vítima caída ao lado de um Mini Cooper vermelho.

Após o crime, uma mulher que o acompanhava correu para o helicóptero e voltou para a cidade da costa verde fluminense.

Sob a condição de anonimato, uma testemunha ouvida pelo UOL disse ter escutado ao menos dez disparos após a aterrissagem do helicóptero.

Foi muito tiro. Mas não consegui ver quem atirou, porque há uma área de mata alta pelos fundos. Parece ter sido ação de quem observou a rotina por aqui

Testemunha do assassinato que pediu anonimato

10.nov.2020 - Movimentação policial no heliporto onde Fernando Iggnácio Miranda foi morto - Herculano Barreto Filho/UOL - Herculano Barreto Filho/UOL
10.nov.2020 - Movimentação policial no heliporto onde Fernando Iggnácio Miranda foi morto
Imagem: Herculano Barreto Filho/UOL

Disputa por território do jogo do bicho deixa mais de 50 mortes

A disputa pelo controle da contravenção na zona oeste do Rio é a principal linha de investigação da morte de Iggnácio. Segundo investigações da Polícia Federal, mais de 50 assassinatos até 2007 são atribuídos à guerra da contravenção.

Em 1998, o assassinato de Paulo Andrade, o Paulinho, escolhido como herdeiro do jogo do bicho, fez com que Fernando Iggnácio, seu cunhado, assumisse o lugar dele na disputa.

Meses depois, a polícia identificou como autor dos disparos o ex-PM Jadir Simeone Duarte. Em depoimento, Duarte acusou Rogério de ser o mandante do crime.

O próprio Rogério foi vítima de uma tentativa de assassinato em 2001. Em abril daquele ano, o filho de Rogério de Andrade, com 17 anos na época, morreu em um atentado a bomba na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio, quando o carro que dirigia explodiu.

Em 2007, Fernando Iggnácio foi preso pela Polícia Civil do Rio. Meses depois, Rogério Andrade foi pego pela Polícia Federal. Naquele mesmo ano, Rogério Andrade e Fernando Iggnácio foram alvo da operação Gladiador, da PF, que investigou o esquema da dupla e a corrupção de policiais no Rio.