Topo

Esse conteúdo é antigo

Professora acusa vizinha de racismo e de soltar cão sobre ela, no RJ

Izabele Santiago, de 36 anos, contou que uma vizinha a chamou de "preta nojenta" e jogou o cachorro em cima dela - que sofreu ferimentos na perna - Arquivo Pessoal
Izabele Santiago, de 36 anos, contou que uma vizinha a chamou de "preta nojenta" e jogou o cachorro em cima dela - que sofreu ferimentos na perna Imagem: Arquivo Pessoal

Tatiana Campbell

Colaboração para o UOL, no Rio

16/12/2020 15h33

Uma professora denunciou ter sido vítima de racismo e agressão física no condomínio onde mora, no Recreio dos Bandeirantes, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Segundo Izabele Santiago, de 36 anos, uma vizinha a chamou de "preta nojenta" e jogou o cachorro em cima dela, que sofreu ferimentos na perna.

Izabele usou as redes sociais para desabafar sobre o caso. De acordo com a professora, ela estava esperando o elevador quando a moradora saiu com um cachorro de porte médio porte, sem focinheira, que avançou sobre ela. Ela contou ainda que se assustou com a situação, deu um grito e um salto para trás. Em seguida, a mulher disse que se ela gritasse o cachorro ficaria mais nervoso. A professora teria apenas dito que levou um susto. Foi nesse momento que a mulher disse 'Se falar mais alguma coisa, eu jogo ele em cima de você, sua preta nojenta'

"O peso emocional é muito grande e confesso que estou com medo também. Até agora ela não fez nem um pedido de desculpas. O ser humano está muito desorientado. Eu vi só hoje as imagens, parece filme de terror. Ela volta correndo para jogar o cachorro em cima de mim. É ódio gratuito, o sentimento que eu tenho é de impunidade, tristeza e de reflexão. Saber onde nós, como sociedade, estamos errando. Era uma menina nova, jovem, deveria ter 25 anos no máximo, ou seja, deveria ser mais articulada a entender as situações, mas não, ela foi uma pessoa ruim", disse Izabele ao UOL.

cão - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Izabele Santiago, de 36 anos, contou que uma vizinha a chamou de "preta nojenta" e jogou o cachorro em cima dela - que sofreu ferimentos na perna
Imagem: Arquivo Pessoal

"O que mais dói é a certeza da impunidade. Eu revivi tudo isso hoje vendo o vídeo, eu vi que ela fez por maldade mesmo. A todo momento eu fiquei ali na defensiva. Tinham pessoas que chegaram a falar que eu estava mentido, que era 'vitimismo'. A nossa dor não autenticada, não validada é ainda pior. Eu nunca fui uma pessoa de me vitimizar, sempre enfrentei, sempre me posicionei. A cor da minha pele é um detalhe grande, eu sou uma pessoa, eu sou um ser humano, não sou um lixo. As pessoas precisam entender e aprender. Os pais precisam ensinar os seus filhos de uma outra forma para a próxima geração", acrescentou a professora.

Izabele Santiago sofreu ferimentos na perna direita após o ataque do cachorro e está sendo medicada. Ao UOL, a professora disse ainda que o caso foi formalizado no livro de ocorrências da administração do condomínio e que a síndica tem dado lhe suporte.

Procurada, a Polícia Civil informou em nota que "de acordo com a 42ª DP (Recreio dos Bandeirantes), o fato foi registrado na unidade. Os policiais vão ouvir a vítima, o autor e testemunhas. Imagens de câmeras que possam comprovar a agressão foram coletadas e a investigação está em andamento". O caso foi registrado como injúria racial e lesão corporal.

Vítima deixou o condomínio

Após a publicação mas redes sociais e por medo de que algo aconteça a ela, Izabele decidiu deixar o apartamento e sair do condomínio onde morava.

"Não tem como ficar aqui, não me sinto segura. Ninguém do condomínio estava falando sobre isso, mas agora estão todos comentando. A gente não sabe a maldade que está no coração da pessoa. A gente não está no coração do outro, os tempos são maus. Uma pessoa que te ataca dentro do elevador, com câmera, com tudo. Ela continua andando com o cachorro como se nada tivesse acontecido", concluiu Izabele.