Ilona Szabó diz que racismo estrutural tem 'dilacerado nossa sociedade'

A cientista política Ilona Szabó, do Instituto Igarapé, declarou ao Roda Viva de hoje ser urgente debater o racismo estrutural no Brasil e que o percentual de negros "em todas estatísticas" é enorme, incluindo policiais vítimas de violência.

"Em toda a minha trajetória no tema segurança pública sempre foi muito claro quem eram as principais vítimas e pessoas mais vulnerabilizadas e que estereótipo nós, enquanto sociedade, temos de pessoas negras", afirmou ela, que tem mestrado em estudos de conflito e paz pela Universidade de Uppsala, na Suécia, e é especialista em redução da violência e política de drogas.

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É algo que tem dilacerado nossa sociedade, porque se a gente não enxergar o racismo estrutural e as consequências... Você falou de assassinato, mas se vermos a população prisional, policiais mortos, o percentual de negros em todas estatísticas é enorme, pessoas mortas por policiais, por homicídios ou que estão presas. Não tem como ter essa conversa com uma centralidade, inclusive pensando em reparação e em como a gente, como sociedade, muda isso

Ilona também mencionou que na primeira visita feita à Fundação Casa reparou que só havia um garoto branco. "Queria que todo mundo soubesse que o tempo dessa causa que já era para ter chegado há muito tempo chegou", afirmou.

Ilona questiona se policiais se reconhecem em questões raciais

Ela também mencionou que as mudanças em políticas de segurança pública precisam passar pelo diálogo com policiais, que também são vítimas do racismo estrutural.

Será que existe esse espaço de reconhecimento de policiais negros, de que há algo de muito errado nessa política de confronto? Será que se reconhecem dessa forma?

Ilona sugeriu a aproximação de movimentos negros com policiais negros e afirmou que a falta de cuidado com a saúde mental dos agentes de segurança propicia para que eles se tornem "massa de manobra" e politizados contra a sociedade.

Seria muito poderoso esse encontro. Os policiais precisam de apoio, a questão de saúde mental dos policiais é gravíssima e contribuiu para o uso excessivo da força, além de todas as máximas de que bandido bom é bandido morto, estereótipos equivocados e racistas. Tem uma questão de desvalorização e desumanização. Quer dizer: policiais são [tratados como] super-heróis e não precisam de cuidado. Tem muitas facetas.