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'Eu preciso gritar por justiça. Não foi em vão', diz mãe de Kathlen

Herculano Barreto Filho

Do UOL, no Rio

11/06/2021 16h16

A administradora Jackeline de Oliveira Lopes, mãe de Kathlen Romeu, 24, morta em uma ação da Polícia Militar na terça-feira (8) no Complexo do Lins, zona norte do Rio, fez um pedido por justiça após prestar depoimento hoje à tarde na Delegacia de Homicídios da Capital. "Eu preciso gritar por justiça por Kathlen de Oliveira Romeu. Não foi em vão."

A avó da jovem revelou à polícia as últimas palavras de Kathlen antes de ser morta, segundo contou ao UOL a advogada Nadine Borges, vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) no Rio, que acompanhou o depoimento. "Ela estava caminhando com a avó e falando das dificuldades financeiras para fazer o chá revelação do bebê. Em seguida, ela caiu. A avó então começou a gritar por socorro", disse.

A defensora disse ver indícios suficientes para investigar os policiais militares na ação pela autoria do crime. "Não há dúvidas de que houve um homicídio. E ao que tudo indica, praticado pela Polícia Militar."

A Comissão de Direitos Humanos da OAB no Rio diz acreditar ainda que houve fraude processual por alteração da cena do crime, já que os projéteis disparados pelos agentes não foram encontrados. A PM contudo disse que o local foi preservado para perícia.

A comissão da OAB defende a realização de uma reconstituição do crime para determinar de onde partiram os disparos. De acordo com os relatos de testemunhas, os tiros vieram de uma parte alta, onde estavam os policiais militares.

Foi muito chocante o que nós ouvimos da avó dela, que presenciou a cena do crime. As evidências são fortes de um homicídio com fraude processual e crime de desobediência em relação à decisão do STF [de limitar operações policiais a casos excepcionais durante a pandemia]"

Nadine Borges, vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ

Os advogados da OAB na delegacia sustentaram a versão de que houve uma ação planejada. "Dá para caracterizar como uma operação pela quantidade de policiais envolvidos. Não foi um simples patrulhamento", argumentou o advogado Rodrigo Mondego.

A PM informou hoje que 12 policiais ficarão afastados da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) Lins durante as investigações. Dois deles informaram em depoimentos à Polícia Civil terem efetuado ao menos sete disparos (cinco deles de fuzil). Kathlen foi atingida por um tiro de fuzil.

Em nota, a PM contesta a versão de que houve uma ação planejada e relacionou os disparos a um ataque a tiros "por criminosos armados de maneira inesperada e inconsequente". Informou, ainda, ter aberto procedimento para apurar as circunstâncias do fato.

'Preta, grávida e morta', diz marido de Kathlen

O tatuador Marcelo Ramos Silva, 26, marido de Kathlen, também se emocionou ao relembrar da esposa enquanto deixava a delegacia após prestar depoimento.

"Ela era uma mulher preta, grávida e batalhadora. Não tenho mais medo de morrer. Quando a minha hora chegar, vou me encontrar com ela e com o meu filho", disse. "A gente tem que pedir por justiça. A gente tem que ter voz. Ela não vai ser esquecida", completou.

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