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O que se sabe do caso do homem suspeito de matar esposa e sogros no Rio

Ricardo Pinheiro Jucá Vasconcelos, de 43 anos, teve prisão preventiva decretada - Arquivo pessoal
Ricardo Pinheiro Jucá Vasconcelos, de 43 anos, teve prisão preventiva decretada Imagem: Arquivo pessoal

Daniele Dutra

Colaboração para o UOL, no Rio

04/09/2021 15h01

Transferido na noite de ontem (3) para um presídio comum, o tabelião Ricardo Pinheiro Jucá Vasconcelos, 43, é suspeito de assassinar a tiros a esposa grávida, a juíza de paz Nahaty Gomes de Mello, 33, e a sogra Rosemary Gomes de Mello, 67, dentro da sua própria casa em Cônego, Nova Friburgo, região serrana do Rio.

O sogro, Wellington Braga, 75, também foi atingido na noite do dia 13 de agosto, ficou internado durante 19 dias, mas não resistiu aos ferimentos. Ricardo alegava estar "em surto" e, desde então, estava sendo mantido preso no Hospital Penal Psiquiátrico, mas por não haver elementos nos autos que indicassem distúrbios, a justiça determinou que ele fosse transferido para o Presídio Pedrolino Werling de Oliveira, conhecido como Bangu 8.

Médica que teve pais e irmã grávida mortos pelo cunhado: "Era uma família boa" - Instagram/reprodução - Instagram/reprodução
Médica que teve pais e irmã grávida mortos pelo cunhado: ?Era uma família boa?
Imagem: Instagram/reprodução

Veja a seguir tudo o que sabemos sobre o caso:

Noite do crime

O único que poderia contar o que de fato aconteceu na noite daquela sexta-feira, 13 de agosto, não resistiu aos ferimentos.

A médica Saliha Melo diz ter recebido uma ligação de Tom, como era conhecido seu pai, sogro de Ricardo.

"Ele estava consciente em todo o momento. Me ligou e disse: 'chama o Paulinho [marido de Saliha], vem você, chama a polícia, porque Ricardo está dando tiro em todo mundo aqui'. Quando eu ouvi isso, saí correndo. Ele estava consciente, queria falar, mas eu não deixei porque ele tinha tomado um tiro na face e, quanto mais falava, mais ficava chocado e começava a chorar", conta.

A médica diz que o pai tentava contar o que, de fato, aconteceu, mas que não foi possível entender, por isso se concentrava em tranquilizá-lo: "Depois você fala, pai. Eu estou aqui com você, eu te amo". Wellington passou 19 dias no CTI e acabou morrendo na última quarta-feira (1).

Naquela noite, os policiais militares receberam um chamado e quando chegaram ao local encontraram Wellington, sogro do suspeito. Ele disse aos agentes que seu genro estaria "completamente transtornado" dentro de casa.

A sogra do suspeito, Rosemary, foi encontrada morta no primeiro andar, e a esposa, Nahaty, grávida de seis meses, estava no segundo andar, na cama, sem vida e com uma pistola ao lado.

Ricardo afirmou que estava em um "surto" quando foi preso, o que foi posto em dúvida pelo delegado responsável pelo caso. Ele teria dito na viatura que teve um surto psiquiátrico.

"Isso evidencia uma certa incredulidade, já que quem está em surto psiquiátrico logo após matar a esposa grávida e a sogra não teria tamanha compreensão da situação. Ele foi autuado claramente por feminicídio e na delegacia não demonstrou qualquer surto. Parecia uma pessoa absolutamente normal, consciente e controlada", disse o delegado Henrique Paulo Mesquita Pessoa da 151ª DP, ao UOL.

O suspeito, que agora vai responder por feminicídio da esposa grávida e homicídio do sogro, alegou sofrer de depressão, ansiedade, crise de pânico e demais transtornos mentais no dia da audiência de custódia, quando foi solicitado um exame para verificar qualquer instabilidade mental.

Desde então, ele estava preso no Hospital Penal Psiquiátrico, mas mesmo sem o resultado dos exames psiquiátricos solicitados, o juiz solicitou a transferência do acusado para o presídio comum.

"O acusado praticava tiro desportivo, postava fotografias em rede sociais com arma de fogo e não se sabe se influenciado por discurso de ódio. Quiçá fatores possam explicitar crimes tão graves como ora os apurados e não um suposto surto psicótico. Chama atenção que o surto psicológico apenas foi abordado superficialmente nos depoimentos dos agentes da lei em sede policial, que afirmaram que o denunciado disse informalmente que cometeu os crimes, pois teve um 'surto'", diz a decisão do juiz Marcelo Alberto Chaves Villas.

Porte de arma

Um dos requisitos para praticar tiro e ter posse de arma no Brasil é apresentar um laudo psicológico que considere o comprador apto. Uma foto publicada no Facebook, em 29 de junho de 2020, mostra Ricardo no Centro de Treinamento Tático Oodaloop. Ele compartilhou o resultado do treino e escreveu: "Os instrutores têm muito tempo de experiência e são super-atenciosos".

O UOL procurou o responsável pelo clube de tiro, que confirmou que o tabelião "apresentou laudo de uma psicóloga credenciada e laudo de tiro com profissionais credenciados". O empresário, que preferiu não se identificar, no entanto, não soube precisar a data de emissão do laudo e afirmou que Ricardo não era aluno regular do clube, fazendo apenas visitas pontuais.

Esse foi um dos motivos que fez com que a justiça transferisse Ricardo para o presídio comum:

"O réu é praticante de tiro desportivo, sendo possuidor de arma. Destarte, como bem apontado pelo Ministério Público, inexiste prova que o acusado sofra de perturbação mental. Ao contrário, se o referido é praticante de tiro desportivo, evidentemente que se submeteu a exame psicológico, sem restrição da capacidade cognitiva, pois tal exigência faz parte do Estatuto do Desarmamento, da legislação infra legal e legal que disciplina a aquisição de arma de fogo sob a fiscalização do SINARM (Sistema de Arma da Polícia Federal), diz a decisão.

Ricardo Pinheiro publicou foto no Facebook após fazer treino tático - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Ricardo Pinheiro publicou foto no Facebook após fazer treino tático
Imagem: Reprodução/Facebook

Motivação do crime

Saliha, médica que perdeu os pais e a irmã, classificou o cunhado como uma "pessoa má": "É uma pessoa extremamente materialista, narcisista. É isso. Pessoas más, realmente más, não precisam de motivação. Não há nada que justifique. O Ricardo é uma pessoa ruim, um assassino frio que entrou na nossa vida e fez todo mundo de idiota", desabafou Saliha.

Nahaty era juíza de paz e trabalhava no Cartório Conselheiro Paulino, em Friburgo, o mesmo em que Ricardo. A irmã conta que ela era muito discreta, não se queixava do marido, mas ela vivia um relacionamento tóxico:

"Ele não sabe dividir, é uma pessoa extremamente materialista, fria, que não ama ninguém. Ele a afastava de mim. Queria estar junto quando não era para estar, era ciumento demais e possessivo". Sabendo do perfil do cunhado, Saliha acredita que uma das possíveis causas tenha sido uma uma crise de ciúmes do tabelião.

O que diz a defesa

De acordo com Paulo Marra Moraes, advogado de Ricardo Vasconcelos, a decisão do juiz foi dada por um atestado de meses atrás, quando o tabelião conseguiu posse de arma: "Segundo o juiz, se ele estava são para ter arma, estava são para ser transferido para o presídio. Mas o juiz não tinha em mãos os dois atestados médicos dizendo que ele estava surtado no dia. Ele usou o que achou conveniente para o pensamento dele".

Para o advogado, os médicos do hospital psiquiátrico não são obrigados a obedecer a essa ordem se eles entenderem que Ricardo não tem condições de ir para o presídio. Sobre o exame de sanidade mental, ele afirma que ainda não tem resultado.

"O que será feito no hospital é um laudo de como ele se encontra agora. Quando o processo se iniciar será promovido um 'Incidente de Sanidade Mental', que será feito por um perito judicial que avaliará se ele era capaz de entender a ilicitude de seus atos naquele momento em que ocorreram os fatos. Se ele estiver bem agora, irá para o presídio, mas, mesmo assim, nada impede que ele seja considerado inimputável e vice-versa", explica Paulo Marra.