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Polícia Civil é alvo de buscas do MP-RJ por roupas de mortos no Jacarezinho

Policiais carregam corpo durante operação na Favela do Jacarezinho, no Rio - REUTERS / Ricardo Moraes
Policiais carregam corpo durante operação na Favela do Jacarezinho, no Rio Imagem: REUTERS / Ricardo Moraes

Igor Mello

Do UOL, no Rio

09/09/2021 12h49

O MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) realiza desde o início da manhã de hoje (9) uma operação contra a Polícia Civil do Rio para recuperar as roupas dos mortos durante a operação da corporação na Favela do Jacarezinho, que terminou com 28 mortos em maio, entre eles um policial.

O mandado de busca e apreensão foi emitido pela Justiça a pedido da força-tarefa criada pelo MP para investigar as mortes ocorridas durante a Operação Exceptis.

Sobreviventes, moradores e parentes dos mortos afirmam que diversas vítimas foram baleadas quando já tinham se rendido aos policiais. As cenas dos crimes foram desfeitas pelas equipes da Polícia Civil que atuaram na operação, a mais letal da história do Rio de Janeiro.

Segundo uma fonte com acesso à investigação, os promotores decidiram solicitar a busca depois de a Polícia Civil se recusar a entregar as roupas para perícias complementares — ao contrário do que ocorre em outros estados, no Rio a Polícia Técnica não tem autonomia funcional e existe como um departamento da Polícia Civil.

O MP-RJ confirma a realização da operação e diz ter feito buscas no IML (Instituto Médico-Legal). O UOL apurou que as equipes também estiveram no ICCE (Instituto de Criminalística Carlos Eboly) e na Delegacia de Homicídios —as roupas foram encontradas neste último local, segundo informações preliminares.

A intenção da força-tarefa é realizar uma perícia complementar nas roupas, de acordo com essa mesma fonte.

A Polícia Civil não se posicionou a respeito da operação do MP-RJ. Em nota, limitou-se a dizer que "as vestes estavam na Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) para realização de exame pericial determinado pelo delegado que preside os inquéritos policiais. O tal exame foi realizado e o material foi disponibilizado ao Ministério Público para que realizem exames complementares".

Denúncias contra policiais

Já no dia da operação, a Polícia Civil afirmou, durante entrevista coletiva, que todos os 27 mortos por policiais estavam em confronto quando foram baleados. Contudo, rapidamente surgiram relatos e imagens que levantavam suspeitas contra os agentes que participavam da operação.

A Polícia Civil decretou sigilo de 5 anos sobre todos os documentos relacionados à operação, como revelou o UOL.

Segundo documentos da Polícia Civil obtidos pelo UOL, os 27 mortos estavam em 11 locais diferentes dentro da comunidade —que fica na zona norte da capital.

No local com mais mortes —um prédio nas proximidades da rua do Areal, no interior do Jacarezinho— sete pessoas foram mortas. Investigação feita pelo UOL com base em laudos de perícia de local e necropsia e mais de uma dezena de depoimentos apontou que há indícios de que três das sete mortes foram executadas por policiais com as vítimas já rendidas.

Em outra casa na comunidade, um homem foi morto por policias dentro do quarto de uma menina de 9 anos, enquanto a família que habita no imóvel ainda estava no local.

Apesar de os policiais terem afirmado que o homem foi baleado por ameaçar atirar contra eles, depoimentos de moradores afirmam que ele estava ferido e desarmado dentro do imóvel.

"Ele só disse: 'Me ajuda, pelo amor de Deus'. Ele não estava armado e só pediu uma toalha para cobrir o ferimento", disse uma das moradoras do imóvel em entrevista ao UOL.

Presos durante a operação revelaram durante audiências de custódia que foram torturados e obrigados por policiais a carregar corpos até um veículo blindado da Polícia Civil —conhecido como caveirão— durante a operação no Jacarezinho.