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Dono de autoescola chama de ladrões estudantes negros que pesquisavam preço

Amigos foram até autoescola para orçar aulas; dono do local postou acusação e clamou por violência em status do WhatsApp - Arquivo Pessoal
Amigos foram até autoescola para orçar aulas; dono do local postou acusação e clamou por violência em status do WhatsApp Imagem: Arquivo Pessoal

Rafael Souza

Colaboração para o UOL, de São Luís

20/09/2021 22h42Atualizada em 21/09/2021 10h46

Três estudantes negros foram expostos nas redes sociais como assaltantes por um dos donos de uma autoescola no bairro São Cristóvão, em São Luís. O detalhe é que o grupo entrou no estabelecimento para que um deles fizesse uma pesquisa de preço. O trio decidiu processar o empresário, que se diz arrependido.

O caso ocorreu no dia 16 de setembro e teve como vítimas os estudantes Gabriel Alexandre, de 18 anos, Jadilson Braga, de 18, e Rubenspierre Soares, de 19. Todos entraram com uma ação na Justiça por crime contra a honra. A advogada do grupo diz ainda que pode se verificar os crimes de ameaça, calúnia, difamação e injúria racial, já que os jovens são negros.

Em nome do grupo, Jadilson Campos disse ao UOL que eles estavam juntos porque foram tomar a segunda dose da vacina contra a Covid-19. Na sequência, ele disse precisar visitar a autoescola para ver o preço das aulas e os dois amigos o acompanharam. "Trabalhei meses para ir tirar essa carteira, e na hora acontece isso comigo. Complicado. Foi muito constrangedor", afirmou.

Na postagem, realizada na área de status do WhatsApp, Rafael Santos, um dos sócios da autoescola, afirma que "por pouco, não foi assaltado" e que os jovens foram até lá "com esse propósito", mesmo que nada tivesse acontecido. O homem afirmou também que vinha se sentindo inseguro, por conta de um prejuízo de R$ 6 mil que teria sofrido num assalto há pouco tempo. Ele citou o presidente Jair Bolsonaro (Sem partido) ao fazer referência aos estudantes e apontar que a solução seria "cancelar o CPF das almas sebosas".

"A gente tem passado maus bocados. Nesse dia, tinham roubado a bicicleta de uma cliente minha. Uma semana antes, já tinham roubado um refletor. Também roubaram o condensador do ar-condicionado meses atrás. Então, eu já estava muito zangado. Depois que saí daquela situação, me deu uma vontade de fazer uma postagem. Mas eu fui muito infeliz. Com 10 minutos que postei, eu apaguei logo", disse o empresário ao UOL.

Após o compartilhamento da postagem do empresário, os jovens e os familiares começaram a ficar com medo de sofrer represálias, como se fossem criminosos. Jadilson já esperava pelo pior.

"Eu não estava em casa, quando o irmão de um dos meus amigos avisou dessa postagem. Eu fiquei com muito medo. Quando soube, fui logo pra casa e depois pra delegacia fazer o B.O, pra evitar da polícia ir atrás da gente, pra ficar sabendo logo que a gente não é bandido. Meu maior medo era apanhar na rua, algo assim", contou o estudante.

A advogada Emília Almeida notificou o empresário para que fizesse uma retratação. Prontamente, Santos elaborou uma nota e se diz profundamente arrependido do que escreveu.

"Ele [Rafael] já entrou em contato e se mostrou como uma pessoa pacífica a reconhecer a falha e indenizar os estudantes. Já postou um vídeo de retratação. Só ainda não houve um acordo com relação aos valores da indenização. Há ainda o abalo psicológico dos familiares, mas o empresário também se colocou à disposição para custear o tratamento", disse a advogada.