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Brasileiros reconstroem casco 3D para jabuti e entram para o Guinness

Andréia Martins

Do Tilt, em São Paulo

24/09/2021 17h42Atualizada em 25/09/2021 07h20

Um grupo de especialistas voluntários entrou para o Livro dos Recordes de 2022 após reconstruir o casco de um jabuti que perdeu a proteção em um incêndio em 2015, em Brasília. O que rendeu a nomeação aos brasileiros foi o casco ter sido impresso em 3D, tornando-se o primeiro do gênero no mundo.

O trabalho foi feito pelos voluntários do Animal Avengers, referência ao filme dos "Vingadores", no mesmo ano e só agora teve a marca reconhecida. O grupo é formado pelo designer Cicero Moraes, os veterinários Roberto Fecchio, Rodrigo Rabello e Matheus Rabello, e pelo cirurgião dentista Paulo Miamoto.

O jabuti "ficou gravemente ferida em um incêndio florestal, sobreviveu a duas crises de pneumonia e 45 dias sem comer, antes de ser encontrado pelo grupo de voluntários Animal Avengers. Eles chamaram o réptil de Fred por se assemelhar ao personagem do filme de terror Freddy Krueger", diz o texto no Guinness Book, cuja nova edição foi lançada em 14 de setembro.

Em entrevista ao Tilt, Moraes contou que o grupo de reúne desde 2013 para discutir interesses comuns sobre computação gráfica 3D. Em 2015, eles arriscaram a primeira prótese, de um tucano, e depois de um papagaio. No mesmo ano, depois de um incêndio em uma vegetação perto de Brasília, os irmãos Rabello encontraram o jabuti, que teve 85% do casco queimado.

"Ela ficou vários dias com o casco queimado. Algumas moscas colocaram ovos nas feridas e larvas se desenvolveram, foi bem triste. Os irmãos Rabello cuidaram do animal e propuseram para a gente fazer a prótese. Mas a gente não tinha ideia de como fazer isso", conta Moraes.

Jabuti do vizinho foi 'doador virtual' do casco

Como cada um dos especialistas estava em uma cidade do Brasil (o designer vive no Mato Grosso), o jeito foi improvisar, o que contou até com ajuda de outro jabuti.

Moraes pediu que os veterinários tirassem várias fotos da jabuti e usando uma técnica chamada fotogrametria, conseguiu converter as imagens para o formato 3D.

"Eles me mandaram as fotos e as medidas, e assim eu tinha a superfície que perdeu o casco. Tenho um conhecido que tinha um jabuti e eu pedi o animal emprestado para ter uma base do casco real. Então tinha de um lado a Fred, com uma superfície sem casco, e de outro a jabuti que serviu de 'doador virtual do casco'", brincou ele.

A partir daí, ele conta que foram vários testes para encaixar o casco. "Foram várias adaptações, estudos dos encaixes e nós debatemos muito até ter o desenho do casco e poder imprimir em 3D para que o pessoal aplicasse". Do início dos estudos até a impressão final e aplicação foi um mês,

O casco foi impresso em quatro partes, sendo que cada parte demorou um dia para ser impressa, e depois levado para Brasília para que a cirurgia fosse feita. O material usado foi um modelo de plástico derivado do milho. O resultado agradou a todos tanto pelo bem-estar do animal, quanto pela criação inédita e agora premiada.

"A gratificação é múltipla. No primeiro momento, a preocupação era manter o animal vivo, saudável. Os veterinários conseguiram, mas ela ficava muito dependente, com a pele exposta, por isso fizemos o casco. Depois que o trabalho foi feito, ficamos felizes, pois Fred estava com o casco e com autonomia. E claro, tivemos o bônus do trabalho ser reconhecido e ser um gesto nobre, então a alegria é imensa", diz Moraes.

Fred passa bem com seu casco 3D, modelo inédito. Ele segue sob cuidados dos irmãos Rabello, em Brasília.