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Henry: Embates agressivos, emoção dos pais e reação de CPI marcam audiência

Igor Mello e Lola Ferreira

Do UOL, no Rio

06/10/2021 20h21

O primeiro dia de audiências no Caso Henry Borel foi marcado por um clima tenso, lágrimas e embates agressivos entre representantes das defesas dos réus, acusação e testemunhas.

Em diversos momentos, a juíza Elizabeth Machado Louro, da 2ª Vara Criminal do Rio, foi obrigada a intervir de maneira enérgica para acalmar os ânimos.

No processo, o ex-vereador Jairo Souza Santos Junior, o Dr. Jairinho (sem partido), e Monique Medeiros, mãe de Henry, são réus por homicídio triplamente qualificado.

Pai e mãe choram ao relembrar Henry

Ao relatar os últimos momentos do menino, o pai dele, Leniel Borel, e Monique choraram em diversos momentos. Leniel relatou que, poucos dias antes da morte, ao colocar Henry para dormir, ouviu da criança uma música católica.

Enquanto repetia os versos "Mãezinha do céu, eu não sei rezar / Quero dizer que quero te amar / Azul é seu manto, branco é seu véu / Mãezinha, eu quero te ver lá no céu", Leniel se emocionou.

Neste momento, Monique começou a chorar copiosamente, abraçou o advogado Hugo Novais e precisou de um lenço para se recompor.

Babá pede para depor sem a presença de Monique

Thayna de Oliveira Ferreira, que trabalhou como babá de Henry durante 25 dias na casa da mãe e do padrasto do garoto, pediu para que Monique Medeiros fosse retirada da audiência durante seu depoimento.

A justificativa dada por Thayna foi de ter sido manipulada e que se sente ameaçada por Monique, que tentava construir uma imagem ruim do vereador Jairinho. A mãe de Thayna ainda trabalha para família de Jairinho.

A babá apresentou uma nova versão diferente de outros dois depoimentos anteriores. Hoje, Thayna disse nunca ter visto agressão do padrasto contra o menino.

O novo depoimento não convenceu o Ministério Público do Rio, nem a defesa de Monique, que pediu a prisão em flagrante por falso testemunho.

O MP disse que o depoimento foi contrário às provas periciais e que vai levar o conteúdo para uma investigação da polícia.

6.out.2021 - A juíza Elizabeth Louro durante audiência do Caso Henry Borel - FELIPE DUEST/O FOTOGRÁFICO/ESTADÃO CONTEÚDO - FELIPE DUEST/O FOTOGRÁFICO/ESTADÃO CONTEÚDO
6.out.2021 - A juíza Elizabeth Louro durante audiência do Caso Henry Borel
Imagem: FELIPE DUEST/O FOTOGRÁFICO/ESTADÃO CONTEÚDO

"Aqui não é CPI", diz juíza

Os primeiros embates ocorreram durante o depoimento de Damasceno. A discussão envolveu o promotor Fábio Vieira dos Santos e o advogado Thiago Minagé, que defende Monique.

Vieira conduzia o interrogatório quando Minagé interrompeu para tentar impugnar uma pergunta. "Não vou aceitar firulas", provocou o defensor de Monique.

Irritado, o promotor levantou a voz e gritou: "O senhor respeite a sua profissão e este Juízo". O advogado retrucou: "Nem estou vendo o senhor". O representante do MP-RJ então rebateu: "Se o senhor é cego é problema do senhor."

A juíza também se alterou ao tentar encerrar a discussão. Ela fez referência aos tumultos frequentes ocorridos durante a CPI da Covid no Senado.

"Aqui não é CPI, aqui a gente está para ouvir a testemunha", repreendeu. Como os ânimos permaneceram exaltados, ela voltou a advertir o promotor e o advogado: "Eu não tenho nada a ver com isso, com as briguinhas de vocês. Isso aqui não vai virar circo, nem debate."

Após as declarações da juíza, senadores da CPI da Covid demonstraram indignação. Randolfe Rodrigues (REDE-AP), vice-presidente do colegiado, pediu que o Senado fizesse uma representação contra Elizabeth no CNJ (Conselho Nacional de Justiça).

Diante disso, ao retomar os trabalhos após o almoço, ela disse ter se comunicado de maneira "inábil" e afirmou ser uma "entusiasta" da CPI. "Quando tenho folga estou sempre assistindo, quero muito que aquilo traga um resultado bom para a população", disse a juíza em plenário.

Além disso, Elizabeth afirmou que os senadores estão "certos" nas discussões que protagonizam, mas que, no Judiciário, não pode funciona da mesma maneira.

"Eu não posso deixar que a coisa degringole como degringola lá e com razão, porque lá ficam os representantes do povo. (...) Os parlamentares estão certíssimos de discutir lá, porque parlamentar fala", explicou.

Defesa de Monique discute com delegado

Os advogados de Jairinho e Monique também protagonizaram embates com Damasceno.

Num primeiro momento, o advogado de Jairinho, Braz Fernando Sant'anna, questionou a condução do delegado, à época na 16ª DP, sobre o caso. O advogado sustentou uma linha de argumentação indicando que a Polícia Civil agiu seletivamente para culpar o ex-vereador pela morte de Henry.

Damasceno respondeu que "as investigações foram mostrando as diligências e provas que são mais relevantes". "Nós reunimos inúmeras provas que demonstraram com muita clareza do que estamos diante aqui", afirmou, em alusão à suposta culpa dos réus.

O advogado Thiago Minagé, de Monique, foi quem protagonizou um embate mais duro com Damasceno. Ainda no início da inquirição, Minagé adotou a postura de interromper as respostas do delegado, além de afirmar várias vezes, em tom de voz alto, que Damasceno era "testemunha, não delegado".

Ao responder as últimas perguntas de Minagé, Damasceno já adotava uma postura impaciente. Mais de uma vez, rebateu questionamentos do advogado, alegando que já havia respondido. Minagé na tréplica afirmava "quem pergunta sou eu" ou "eu pergunto, você responde".

Em outro momento, o defensor de Monique disse: "Quando você me convocar para ser testemunha na sua delegacia, eu respondo às suas perguntas".

Irritado, o delegado demonstrou insatisfação. Em dado momento, disse a Hugo Novais, outro advogado de Monique, que "basta saber português" para entender os motivos do indiciamento de Monique. Advertido pela juíza, ele acabou se desculpando.

Monique intimidou Jairinho, dizem delegados

Os delegados Damasceno, responsável pelo inquérito, e Ana Carolina Medeiros, auxiliar nas investigações, afirmaram que foi constatado que Monique ameaçou prejudicar Jairinho após uma discussão do casal. As informações foram obtidas em conversas no celular da babá Thayná de Oliveira Ferreira.

Questionado pelo advogado Igor de Carvalho, assistente de acusação representando Leniel Borel, Damasceno disse que Monique e Jairinho mantiveram uma postura de casal durante a investigação.

Com base na apuração, ele negou que a mãe de Henry vivesse um cenário de coação —Monique alega suposto relacionamento abusivo— e disse que ela chegou a intimidar Jairinho em troca de dinheiro.

"A Thayná [a babá], em uma conversa com seu pai, fala que em uma discussão entre Monique e Jairo, a Monique estava tendo uma postura intimidatória. Ela disse que ele devia sair de casa, mas ia ter que continuar pagando as contas dela. Os prints mostram, em outras palavras, que, se ele não continuasse pagando as contas dela, ela ia prejudicá-lo", disse Damasceno.

Relato parecido foi feito pela delegada Ana Carolina Medeiros.

"Pelo que foi apurado nas investigações, Monique não pareceu em momento algum intimidada ou subjugada. Pelo contrário. Se tivesse que afirmar um motivo [para ter cooperado com Jairinho] seria o financeiro", explicou.

Pizza, selfie e piada na delegacia

A delegada também disse que a postura de Monique foi "atípica" para uma mãe que havia acabado de perder um filho de forma trágica. "Ela tirou fotos sorridente [na delegacia], pediu pizza. Botou o pé em cima da mesa, fez brincadeiras."

Já o delegado Damasceno relatou que Jairinho também não demonstrava nenhum abatimento por conta da morte de Henry.

"Soube através dos policiais que, enquanto Monique estava prestando depoimento, Jairinho fez uma piada absurda. Dizendo: 'Minha mulher está dentro de uma sala com três homens', tentando ser engraçado", relatou.