Topo

Henry: Babá que protegeu Jairinho foi cabo eleitoral para elegê-lo vereador

Herculano Barreto Filho

Do UOL, em São Paulo

08/10/2021 14h47

A babá de Henry Borel, que mudou novamente a sua versão ao dizer no primeiro dia de audiências sobre o assassinato do menino nunca ter visto agressões cometidas pelo ex-vereador Dr. Jairinho (sem partido), foi cabo eleitoral do político em duas campanhas eleitorais.

Thayná de Oliveira Ferreira foi indiciada pela Polícia Civil no mês passado por falso testemunho por suspeita de ter mentido no seu primeiro depoimento, quando negou atos de violência do padrasto contra a criança. Jairinho e Monique Medeiros, mãe de Henry, respondem por homicídio triplamente qualificado.

O nome dela consta na prestação de contas de Jairinho nas eleições de 2016 e 2020 do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Ela foi remunerada por "prestação de serviços de panfletista" —recebeu R$ 675 nas eleições de 2016 e R$ 900 na campanha eleitoral de 2020.

O pai e o noivo de Thayná também atuaram como cabos eleitorais de Jairinho e constam na mesma relação de despesas do político. O noivo da babá trabalhou como panfletista nas eleições de 2016. O pai dela exerceu a mesma função no pleito de 2020.

A mãe de Thayná ainda trabalha como babá do sobrinho do político e foi a responsável pela indicação dela para trabalhar como babá de Henry, função que começou a desempenhar a partir de 18 de janeiro —dois meses antes do crime.

Dr. Jairinho foi eleito vereador para cinco mandatos seguidos desde 2004. No fim de junho, a Câmara Municipal do Rio de Janeiro aprovou a cassação de seu mandato.

Coronel Jairo, pai de Jairinho, é deputado estadual e foi citado na CPI das Milícias, em 2008, por suposta ligação com o grupo criminoso Liga da Justiça.

Nesta semana, após a nova mudança de versão de Thayná sobre a relação de Henry com Jairinho, o MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) e a defesa de Monique apontaram possível influência da família do ex-vereador sobre a babá de Henry.

Como repercutiu a nova mudança de versão

A advogada Priscila Sena, que representa a babá, negou que ela tenha sido beneficiada ou coagida para mudar novamente a sua versão. Ela também descartou eventual influência da família de Jairinho.

"Ela [a babá] falou que conhece a família há muitos anos e que trabalhou até nas campanhas do Jairinho. Mas não acredito que ela tenha sido coagida ou que isso tenha influenciado [na mudança de versão]. Ela disse só que começou a perceber na terapia que vinha sendo manipulada pela mãe do Henry."

"Ela só negou ter presenciado agressões, mas confirmou os relatos do menino", completou a defensora em entrevista ao UOL.

Nas palavras da babá à Justiça nesta semana, tudo não passou de "suposição".

"Eu me senti usada pela Monique nesse determinado tempo. Me senti usada no sentido de ela vir e tentar me mostrar o monstro do Jairinho e eu ficava com todas as coisas ruins. Era tudo suposição da minha cabeça. Eu nunca vi nenhum ato."

Monique e advogados - Brunno Dantas/TJRJ - Brunno Dantas/TJRJ
Thiago Minagé (à esquerda) conversa com Monique Medeiros durante audiência
Imagem: Brunno Dantas/TJRJ

O advogado Braz Sant'Anna, que representa Jairinho, também não vê eventual influência da família do político em uma nova mudança de versão.

"Não entendo desta forma. Cabe ao MP [Ministério Público] provar que a versão apresentada por ela não corresponde à realidade. Ela nunca afirmou ter assistido o Jairinho agredir o menino", argumentou o defensor.

Thiago Minagé, advogado de Monique, diz que a mudança de versão é resultado da influência da família de Jairinho. Apesar das mudanças de versões, ele avalia que os depoimentos não foram prejudiciais a Monique.

"Essa mudança de versão deixa clara a tentativa da defesa do Jairinho de colocar a Monique como culpada. [A babá] estava nitidamente coagida e em sintonia com a defesa do Jairinho", diz Minagé.

O promotor Fábio Vieira também disse que a babá foi influenciada por Jairinho e tentou transformar a mãe de Henry em um "monstro".

Como babá mudou de versão pela 1ª vez

Após negar agressões no primeiro depoimento à Polícia Civil, a babá confirmou na segunda oitiva ter presenciado ao menos três atos de violência de Jairinho contra Henry.

O relato em que detalhou os episódios foi gravado em vídeo pelos investigadores contra uma possível nova mudança. Na ocasião, mensagens obtidas no celular de Monique mostravam que a babá relatou em tempo real à mãe de Henry agressões de Jairinho contra a criança.

Na versão sobre os episódios de violência, em abril, a babá admitiu ter mentido e revelou arrependimento: "Desculpe por ter mentido", repetia ao delegado, segundo revelou ao UOL na época a advogada Priscila Sena.

"Ela se emocionou bastante nos momentos em que lembrava do menino. Ficava dizendo que ele era muito carinhoso. Durante o depoimento, ela chorava muito e ficava pedindo desculpas ao delegado", disse a defensora na época.

Depois, a babá disse estar cuidando da própria saúde mental ao revelar que tentava esquecer do caso.

'Doutora, eu vou ser presa?'

Um dia antes do segundo depoimento à polícia, a advogada Priscila Sena disse ter falado com Thayná pessoalmente pela primeira vez na casa da mãe da babá, em Bangu, zona oeste do Rio.

Na conversa, que durou quase três horas, ela demonstrava nervosismo e acreditava que poderia ser presa.

"Ela [Thayná] me perguntou: 'Doutora, eu vou ser presa?'. Eu só falei que ela precisava contar a verdade. Aí, ela me contou exatamente o que está no depoimento, relatando os três casos de agressões, quando o menino aparecia machucado [após estar com Jairinho]", lembrou.

Questionada na época sobre a primeira versão sobre o caso, quando disse à polícia que a relação da família era harmônica e não relatou os episódios de violência, a advogada disse que a babá se sentiu pressionada pela mãe do menino.

No depoimento desta semana à Justiça, a babá voltou a carga contra Monique, que a pedido de Thayná foi retirada da sala de audiência.