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Favela México 70 tem bloqueio da PM após morte de policial no litoral de SP

Reprodução/Instagram
Imagem: Reprodução/Instagram

Maurício Businari

Colaboração para o UOL, em Santos

02/12/2021 23h15Atualizada em 06/12/2021 11h26

Desde o último domingo (28), após a morte de um policial militar, a PM mantém um bloqueio na favela México 70, em São Vicente, litoral de São Paulo, uma das maiores da América do Sul. Agentes suspeitam que os responsáveis pelos tiros que mataram o soldado estão escondidos na região. A escola suspendeu as aulas e pequenos comércios foram fechados. Casas foram revistadas e os moradores só podem entrar e sair se devidamente identificados.

Na favela México 70, vivem 12 mil dos mais de 300 mil habitantes da cidade, de acordo com a prefeitura. Desde domingo, seus moradores vivem com medo e apreensão. Segundo testemunhas ouvidas pelo UOL, criminosos que atuam na favela deixaram o local antes mesmo da chegada dos policiais. O medo dos moradores é de que eles retornem com armamentos e entrem em confronto com a polícia.

Os policiais chegaram na favela por volta das 16h de domingo, poucas horas após a morte do policial. O soldado Juliano Ritter, que trabalhava na 2ª companhia do 39º BPM/I, foi morto com um tiro na cabeça na Ponte dos Barreiros, que liga a ilha à área continental da cidade. Ele chegou a ser socorrido e levado para o Hospital Municipal de São Vicente, mas não resistiu.

"Eles chegaram aqui de uma vez, com um monte de policiais e viaturas, tinha até carros do BAEPE (Batalhão de Ações Especiais)", conta uma moradora que vive há 30 anos na comunidade, que pediu para não ser identificada. "Eles chegaram com armas nas mãos e foram entrando em algumas casas, atrás dos suspeitos. Conversei com um soldado, que disse que eles já tinham o retrato falado deles. Em todo esse tempo que moro aqui na favela, nunca tinha passado por isso".

Medo de bala perdida

A partir daí, conta a moradora, a vida na comunidade foi suspensa. Pequenos comércios tiveram que fechar as portas. Na segunda-feira (29), a escola municipal que funciona na favela suspendeu as aulas no meio da tarde, após a direção ser avisada de um possível toque de recolher.

"Foi um pânico só. A diretora avisou a gente por mensagem no grupo das mães no WhatsApp. Que era pra gente buscar as crianças às 15h, porque às 16h ia começar o toque de recolher. Pense num medo", conta a moradora, que tem 5 crianças, com idades entre 5 e 14 anos, frequentando a unidade de ensino. "Passar com as crianças no meio dos soldados armados é uma sensação muito ruim. Parece que os criminosos somos nós, que apenas moramos lá. Não temos culpa de morar lá".

O maior medo das mães é que ocorra um confronto entre os policiais militares e suspeitos. Por essa razão, mesmo com as aulas tendo sido retomadas hoje, apenas duas crianças teriam comparecido. "A gente tem medo, lógico. Bala perdida não tem direção. Tenho 5 crianças, os policiais tinham que pensar na gente como morador e não como bandido. A gente só quer poder voltar a trabalhar, estudar, ter a nossa vida de volta".

Os agentes policiais também estão parando carros e motos e somente os motoristas de aplicativo e entregas que possam comprovar a necessidade de entrar na comunidade ganham passagem. Os moradores afirmam que, além dos policiais, notaram a presença de um carro e uma moto sem identificação, cujos passageiros atiraram várias vezes contra pessoas nas ruas.

Desde que o policial foi morto, quatro moradores já foram baleados na cidade, nas imediações do México 70. Por nota, a prefeitura de São Vicente afirmou que, na madrugada de segunda-feira (29), três pacientes deram entrada no Hospital Municipal (HMSV). Um homem de 54 anos precisou fazer uma tomografia e foi liberado após ser medicado; um outro de 32 anos, ferido no tórax, aguarda por exames; e um terceiro, de 30 anos, foi ferido no abdômen e teve fratura exposta em um dos dedos da mão direita. Ele passou por cirurgia e permanece na UTI.

Na madrugada de terça-feira (30), um homem de 30 anos foi atendido pelo Samu à 00h32, na Rua Montese, 129, na Vila Margarida, bairro vizinho à favela. Ele foi baleado no membro superior e apresentava fratura exposta. O paciente encontra-se na sala de emergência do HMSV, em observação.

Segundo policial morto

Ontem (1), um segundo policial foi morto a tiros em frente a uma farmácia no Jardim Rio Branco, na área continental de São Vicente. O crime aconteceu do outro lado da ponte onde o primeiro policial foi morto. Agente penitenciário, Eduardo Godinho tinha 40 anos e trabalhava na penitenciária de São Vicente. Ele foi levado ao HMSV, onde chegou inconsciente. Mas não resistiu aos ferimentos e morreu.

Os moradores protestaram após supostos abusos cometidos por policiais durante a operação. Intermediados por um vereador da cidade, representantes da comunidade conversaram com o comando da polícia militar, que se comprometeu a avaliar as denúncias.

O que diz a PM

Procurada pelo UOL, a Polícia Militar do Estado de São Paulo informou que desde o dia 28 de novembro realiza uma operação na área do 39º BPM/I, responsável pelo policiamento no município de São Vicente, para capturar que matou o PM do batalhão.

"As ações policiais acontecem 24 horas por dia", informa a corporação. Participam da operação, além do efetivo do 39º BPM/I, as Forças Táticas da Região, do 2º Batalhão de Ações Especiais de Polícia, além do Comando de Policiamento de Choque, sediado na Capital, com a presença de policiais do seus respectivos Batalhões como ROTA, Canil e COE, além do Comando de Aviação.

"Até o momento não houve confrontos armados envolvendo policiais militares e nem ocupação de próprios públicos ou imóveis particulares", divulgou a corporação, em nota. Em quatro dias de operação, ainda segundo a PM, houve 332 abordagens, quatro pessoas foram presas por furto e roubo e dois adolescentes apreendidos. Um foragido da justiça foi capturado e um carro roubado, recuperado.

O texto afirma ainda que, em consulta às seções de Justiça e Disciplina e Correcional, não houve até o momento registro de denúncias de irregularidades nas ações policiais e nenhum procedimento de apuração em andamento.

"As buscas continuam e qualquer informação será de grande valia na identificação do criminoso da lei, podendo ser transmitido anonimamente pelos telefones, o de emergência da Polícia Militar, o 190, ou pelo Disque Denúncia, 181", conclui a PM.