Capitólio (MG): após tragédia, governador e prefeito querem mais segurança
No dia seguinte à tragédia que deixou dez pessoas mortas em Capitólio (MG), o prefeito da cidade, Cristiano Silva (PP), e o governador Romeu Zema (Novo) falaram sobre a necessidade de estudos para a criação de um plano de segurança para a região.
"O que eu espero é que venha a ser feito um estudo geológico e que fique provado que, pelo menos enquanto não está chovendo, temos uma situação segura. Ou pelo menos que os cânions sejam visitados com uma distância mínima de segurança", afirmou Zema, em entrevista à CNN, na manhã de hoje (9).
Cristiano Silva afirmou, também à CNN, que pretende se reunir com os órgãos competentes, como a Marinha e a Defesa Civil, nos próximos dias para elaborar um plano de segurança.
"Não é o momento de olhar para trás e apontar um culpado. Esses especialistas de internet que aparecem depois das tragédias eu não dou muito crédito", disse.
Especialistas ouvidos pelo UOL apontam, porém, que, se já houvesse um monitoramento constante geológico em áreas turísticas, tragédias como a deste sábado (8) poderiam ser evitadas.
"Infelizmente, no Brasil, só temos o hábito de dar atenção depois que alguma tragédia acontece. Atualmente, temos estudos geológicos ligados a grandes obras. Mas nas áreas turísticas tudo acaba acontecendo de forma improvisada. Havia a possibilidade de se prever o que ocorreu hoje em Capitólio", afirma o geólogo Tiago Antonelli, mestre pela USP e chefe da Divisão de Geologia Aplicada do SGB (Serviço Geológico Brasileiro).
Para Joana Paula Sánchez, professora de Geologia da UFG (Universidade Federal de Goiás), a região onde a rocha se soltou do paredão deveria ter sido interditada. Ela participa de um projeto que reúne diversas instituições para a elaboração de um manual nacional de riscos que possa auxiliar no monitoramento de áreas turísticas.
"O turismo muitas vezes não está interessado em interditar uma área de alta visitação e falta uma educação de base. As pessoas precisam entender que aquilo pode cair."
Romildo Dias, presidente do núcleo regional de Minas Gerais da ABGE (Associação Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental), mestre em Engenharia Geotécnica pela Universidade Federal de Ouro Preto, lembra que, em locais como a Itália, regiões turísticas recebem não só monitoramento geológico, como obras de intervenção, se necessário.
"É uma região [Capitólio] que deveria ter monitoramento, por ter grande concentração de turistas. Isso pode ser feito inclusive com inspeções visuais periódicas. Numa segunda etapa, mais dispendiosa, poderia se pensar num tratamento preventivo, com a instalação de estruturas. Na Itália, na região do Mediterrâneo, nas áreas turísticas, há o tratamento com telas e monitoramento constante."
'Foi inédito', diz prefeito
Para o prefeito de Capitólio, Cristiano Silva, o que ocorreu foi "algo inédito", que serve de alerta para ações futuras. "Moramos na região de paredões e nunca foi visto acontecer da forma como aconteceu ontem. Cabe a nós agora saber que pode acontecer e trabalhar para que nunca mais aconteça."
Silva anunciou que todas as atrações turísticas aquáticas no município ficarão fechadas até que seja elaborado um laudo pela Defesa Civil atestando a segurança para a retomada da visitação.
Ontem, cerca de duas horas antes do desabamento da rocha, a Defesa Civil de Minas Gerais havia emitido um alerta para chuvas intensas na região com possibilidade de "cabeça d'água" — não se sabe se existe alguma norma que proíba a entrada de turistas nessa situação no local onde ocorreu o acidente.
Ainda não está claro quem deveria ter feito a fiscalização na região. Na tarde de sábado, a Marinha havia informado que investigaria por que os passeios foram mantidos mesmo após os alertas. Depois, emitiu comunicado dizendo que "o ordenamento do espaço aquaviário onde ocorreu o acidente está sob a jurisdição da Prefeitura de Capitólio".
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