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'Acabaram com nossa casa': Família denuncia invasão de PMs no Jacarezinho

Lola Ferreira

Do UOL, no Rio

24/01/2022 14h57

Três dias após o início do projeto Cidade Integrada, no Jacarezinho, uma família da comunidade da zona norte do Rio de Janeiro relata que policiais militares do Bope (Batalhão de Operações Especiais) invadiram sua casa, quebraram eletrodomésticos e furtaram dinheiro.

O casal soube da invasão por volta das 12h de sábado (22) ao receber um telefonema de vizinhos. Naquele horário, policiais estariam dentro da casa "revirando tudo". O caso dessa família é um entre vários que surgiram nas redes sociais nos últimos dias. Procurada, a PM disse, sem dar detalhes, que "os fatos estão sendo apurados com extremo rigor e a isonomia condizente".

O relato da mulher de 25 anos ao UOL é marcado por sua voz embargada. "Eu lembro e me dá vontade de chorar", diz ela, que mora há quatro anos na comunidade e trabalha como ambulante nas praias do Rio com o marido. A identidade do casal será preservada para evitar possíveis represálias.

A moradora do Jacarezinho estava trabalhando na praia quando recebeu a ligação dos vizinhos. O casal retornou à comunidade imediatamente e chegou a ver policiais saindo do seu portão. "Meu marido veio chorando e disse 'quebraram tudo nosso, acabaram com nossa casa'. Eu fiquei desesperada", relata.

Eu perguntei porque eles [os policiais] fizeram isso, se era uma casa de trabalhadores. Eles falaram que não foram eles, que a porta já estava aberta. Mas minha porta e portão estavam trancados na chave. Eu moro ali há quatro anos e ninguém nunca mexeu em nada."
Mulher de 25 anos, moradora do Jacarezinho

Após serem abordados pela mulher, os policiais voltaram à casa. Ela disse que os agentes insistiram que não foram eles, ajudaram a levantar o armário e foram embora. Além do armário, com prestações ainda a serem pagas, o fogão, a cama do casal e a cama da criança foram destruídos, segundo relatou a moradora. O sofá foi rasgado "como se estivessem procurando alguma coisa".

"Só minha geladeira e máquina de lavar estão de pé", diz. Além do prejuízo relativo aos pertences, a mulher afirma que os policiais levaram as economias do casal: R$ 1.000 —dinheiro que seria usado para pagar o aluguel, que vence hoje, e contas —e um cofre com moedas para a festa de dez anos da filha, daqui a seis meses.

Apesar do choque de ter a casa invadida e furtada, a mulher e o marido tiveram de sair para trabalhar no mesmo dia. Com um fim de semana de sol em meio a um feriadão na cidade do Rio, ela não pode deixar de aproveitar as praias cheias.

"Voltei a trabalhar, porque tenho que pagar meu aluguel. Deixei minha casa bagunçada e ainda está do jeito que eles deixaram. Tenho que continuar trabalhando, mas já estou vendo com meu esposo pra sair daqui, tomei trauma", contou à reportagem do UOL.

Ela lamenta a atitude dos PMs e reforça que a crítica é à forma como a possível revista foi feita. "Se eu estivesse em casa, eu deixaria eles entrarem e verificarem tudo, porque é o trabalho deles. Mas isso não, destruir casa de trabalhador, não [é o trabalho deles]."

Para ter acesso a casas de moradores, os agentes teriam de ter uma autorização judicial para busca e apreensão. No entanto, segundo o casal, nada foi apresentado.

Veja a seguir a íntegra da nota da Polícia Militar enviada ao UOL:

"A Secretaria de Estado de Polícia Militar informa que está dando total apoio às demandas dos moradores locais desde o início da retomada do território na comunidade do Jacarezinho, na Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro, desencadeada no dia 19/01. A 1ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar (DPJM) é a responsável por apurar a conduta dos policiais militares naquela região. Os fatos estão sendo apurados com extremo rigor e a isonomia condizente. Os cidadãos podem ainda acionar nossa área correicional através do telefone (21) 2725-9098 ou ainda pelo e-mail denuncia@cintpm.rj.gov.br."