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Idosa ganha banho de mar em aniversário de 97 anos: 'melhor coisa da vida'

Idosa ganha banho de mar de presente aos 97 anos em Balneário Camboriú

Lorena Barros

Do UOL, em São Paulo

28/01/2022 18h33

No dia em que completou 97 anos, Marcília Hack, moradora de Balneário Camboriú (SC), ganhou de presente um banho de corpo inteiro no mar, algo que não fazia desde a juventude. Ela foi conduzida com a ajuda de uma cadeira anfíbia. "A melhor coisa que aconteceu na minha vida foi essa coisa que aconteceu de eu ir no mar", conta.

O ato, que pode ser simples para muitos, exigiu da filha dela, Roseli Machado, 73, uma articulação de dias, que contou com a ajuda de um projeto que leva pessoas com deficiência ou restrição de mobilidade para tomar banho de mar no município. Até então, mãe e filha só viam o mar, desde que a idosa passou a morar junto com Roseli, em 2021, mas, dada a dificuldade de locomoção, elas não se atreviam a mulher mais que o pé.

O encontro de dona Marcília com o mar foi feito na última terça-feira (25) e a idade nova foi comemorada dentro d'água. A filha, uma neta e uma bisneta acompanharam tudo da areia. A senhora foi amparada por salva-vidas e profissionais da educação física do projeto Praia Acessível, que oferecem a experiência no município.

"Eles foram longe. Só via a cabecinha dela branquinha no mar. Ela não ficou com medo. Por ela, eu acho que ficava o dia inteiro lá. Ela se emocionou, voltaram com ela e a gente tirou umas fotos lá, conversamos bastante com os meninos que trabalham ali. Foi muito bom", lembra Roseli. "Eles disseram que ela poderia voltar quando quiser, não precisava nem marcar horário. Ela me perguntou 'vamos voltar, né?'".

As imagens da comemoração dentro do mar ganharam força nas redes sociais. "Foi aquele alvoroço, todo mundo respondeu que estava emocionado. Minha mãe mesmo me disse 'meu Deus, depois de velha, nessa idade, ficar famosa'", brinca Roseli.

Uma vida longe do mar

O simples banho de mar teve uma carga emocional dobrada para a mulher, que dedicou a maior parte da vida ao trabalho longe do litoral. Nascida na roça de Mafra (SC), dona Marcília se mudou quando "ainda era moça" para trabalhar na casa de uma família rica em Curitiba. Entrou em um trem carregando apenas uma caixa de papelão com o seu nome e começou uma nova vida em meio ao desconhecido.

Mais de 70 anos após deixar suas raízes, Marcília já não sabe o nome dos patrões ou a data exata na qual partiu rumo à cidade grande. A memória, falha para os pormenores da juventude, não esquece, porém, a sensação incômoda da servidão informal da década de 1950.

Dona Marcília, Balneário Camboriú - Roseli Machado/Acervo familiar - Roseli Machado/Acervo familiar
Dona Marcília comemorou 97 anos na última terça-feira, 25
Imagem: Roseli Machado/Acervo familiar

"Ela lembra que os patrões comiam muito camarão e ela precisava limpar muito camarão; ela ficou tão enjoada de camarão que nunca comeu. Até hoje não come", recorda a filha.

Na capital paranaense, teve três filhos biológicos e adotou outras quatro crianças. Perdeu três deles ao longo das décadas de caminhada, o último, no fim de 2021. Com a vida simples e morando longe do mar, nem ela nem os filhos tinham o hábito de ir à praia. Até hoje, Roseli e Marcília não sabem nadar.

A baixa mobilidade — que não foi a mesma após sua infecção por covid-19 em setembro de 2021 — não foi limitante o bastante quando a mulher se viu diante da imensidão do mar de Balneário Camboriú. Após ter que lidar com a doença, com o luto e com o isolamento social, que marcaram esses útlimos dois anos, a liberdade de estar no mar tomou conta de dona Marcília.

"Gostei muito, muito, muito. Foi uma coisa boa que me aconteceu depois de nada bom na minha vida."
Marcília Hack

O projeto Praia Acessível é gratuito e funciona das terças aos domingos, das 9h às 12h e das 15h às 18h, na Avenida Atlântica, próximo ao número 4.500, na cidade catarinense.