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Homem que deu chave de perna em congolês diz ter 'consciência tranquila'

Lola Ferreira

Do UOL, no Rio

02/02/2022 17h24

Brendon Alexander Luz da Silva, 21, afirmou ontem em depoimento à Polícia Civil que está com a "consciência tranquila". Ele confirmou ser quem aparece em vídeo dando uma "chave de perna" em Moïse Kabagambe, 24, enquanto outros dois homens espancam o congolês até a morte.

Brendon Alexander Luz da Silva, o Totta, dá chave de perna no congolês Moïse - Reprodução - Reprodução
24.jan.2022 - Brendon Alexander Luz da Silva, o Totta, dá chave de perna no congolês Moïse Kabagambe
Imagem: Reprodução

O crime aconteceu na noite de 24 de janeiro no Quiosque Tropicália, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro. O depoimento de Brendon foi tomado na noite de ontem, na Delegacia de Homicídios, e consta no inquérito do caso ao qual o UOL teve acesso. Ele e outros dois suspeitos tiveram a prisão temporária decretada hoje pela Justiça do Rio.

Brendon justifica que "apenas" segurou Moïse, "sem tê-lo estrangulado" e que, por isso, "tem a consciência tranquila". No entanto, as imagens mostram que, após o congolês ser imobilizado, Brendon o amarra com um tipo de corda e, mesmo depois disso, os outros dois agressores continuam batendo na vítima com um pedaço de madeira.

Foram desferidas 11 pauladas enquanto Moïse estava em luta corporal com os agressores e outras 15 quando ele já estava imóvel no chão. Os suspeitos informaram à polícia que um taco de beisebol foi usado para bater na vítima, que morreu em decorrência de traumatismos no tórax, com contusão pulmonar causada por ação contundente.

Brendon relata que agiu para defender o funcionário do quiosque, que aparece nas imagens de blusa listrada.

Ele diz que estava no quiosque vizinho, chamado Biruta, conversando com Aleson Cristiano de Oliveira Fonseca, também identificado pela polícia como agressor, e Viviane Faria, uma das responsáveis pelo estabelecimento. Durante a conversa, ele ouviu uma confusão e foi até o Tropicália.

Ainda de acordo com o depoimento, Brendon diz que Moïse estava pegando cervejas do cooler e tentou impedi-lo. Em seguida, ele jogou o congolês no chão e o imobilizou com as pernas, como mostram as imagens da câmera de segurança do Tropicália.

De acordo com Aleson, Brendon é praticante de muay thai.

As imagens registram o momento em que Brendon tira sua camisa, uma guia de candomblé e um anel e entrega para Aleson guardar. Tudo isso ele fez enquanto estava com Moïse imobilizado pela cabeça entre suas pernas.

Após as agressões, os homens —entre eles, Brendon— tentam reanimar Moïse, sem sucesso. Com uma garrafa de água tirada do freezer, Brendon molha os pulsos e o pescoço do congolês. Moïse não reage.

A religião foi a justificativa de Brendon para afastar a hipótese de racismo e xenofobia no crime. Ele relatou ser praticante de candomblé e destacou que a religião vem da África, mesmo continente do qual Moïse emigrou para o Brasil, em 2011. Brendon afirmou que "não tem o menor preconceito contra negros e/ou estrangeiros".

A reportagem do UOL não localizou a defesa de Brendon.

PM apontado como patrão é intimado

A Polícia Civil intimou o policial militar Alauir Mattos de Faria no inquérito que apura a morte de Moïse. Em depoimentos à polícia, o PM é apontado Aleson e Brendon como dono do quiosque Biruta —onde Moïse trabalhava— e da Barraca do Juninho, estabelecimentos vizinhos ao quiosque Tropicália, onde o rapaz foi morto.

Dois dos três agressores trabalhavam nesses quiosques vizinhos ao Tropicália. Os funcionários não mencionam participação de Alauir no crime ou a presença dele no local na noite de 24 de janeiro.

O PM foi intimado a depor amanhã (3) na DH (Delegacia de Homicídios da Capital), mas a irmã dele, Viviane Faria, afirma que o policial já prestou depoimento hoje. A Polícia Civil afirma que o inquérito continua sob sigilo.

De acordo com Viviane, Alauir aparece pouco no estabelecimento e é ela quem cuida de tudo. "Meu irmão nunca respondeu por nada, é uma pessoa íntegra, nunca respondeu por nada nem em briga", disse ela. Apesar de os suspeitos apontarem os dois irmãos como donos, a Polícia Civil intimou somente Aluir até a noite de ontem.

Ontem (1º), a Polícia Civil colheu o depoimento de Carlos Fábio da Silva Muzi, dono do Tropicália. A polícia disse que não há indícios de seu envolvimento no crime e que ele colaborou com as investigações. Muzi afirmou que deixou o local antes do crime e que conhecia os agressores de vista.