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SC deve ganhar prédio de 140 andares, o mais alto da América Latina

Projeção mostra como prédio (à direita) deve ficar na paisagem de Balneário Camboriú - Skyscrapercity/Divulgação
Projeção mostra como prédio (à direita) deve ficar na paisagem de Balneário Camboriú Imagem: Skyscrapercity/Divulgação

Giorgio Guedin

Colaboração para o UOL, em Florianópolis

13/04/2022 12h18Atualizada em 13/04/2022 19h10

A prefeitura de Balneário Camboriú encaminhou a aprovação da construção de um edifício de 140 andares e cerca de 500 metros de altura. Se concluído hoje, o Triumph Tower seria o segundo maior arranha-céu do mundo em número de pavimentos, além ser o mais alto da América Latina, conforme o site especializado Skyscraper Center.

Além de 140 andares, o Triumph Tower terá mais de 130 mil metros quadrados, 233 apartamentos, quatro restaurantes, kart elétrico, área de exposições, área de eventos e espaço de entretenimento. O investimento previsto gira em torno de R$ 330 milhões.

O parecer favorável para a construção foi emitido no dia 5 de abril pela Comissão Especial para Estudo de Impacto de Vizinhança (CEIV), etapa considerada fundamental no processo. "O que temos hoje é a liberação do Estudo do Impacto de Vizinhança, que é um passo importante. É o mais difícil, pois é o mais demorado", afirmou Rubens Spernau, gestor do Fundo de Outorga Onerosa de Transferência do Potencial Construtivo (FETPC), ligado à Secretaria de Planejamento Urbano do município.

O empreendimento, em análise desde o segundo semestre de 2021, ainda deve passar ainda pela análise final da Secretaria de Planejamento Urbano de Balneário Camboriú, para obter licença definitiva para a construção.

Prédio pode ser o segundo maior arranha-céu do mundo em número de pavimentos - Skyscraper/Divulgação - Skyscraper/Divulgação
Prédio pode ser o segundo maior arranha-céu do mundo em número de pavimentos
Imagem: Skyscraper/Divulgação

O prédio estará localizado entre as avenidas Atlântica e Normado Tedesco, e será construído pela "FGP VI Empreendimentos Ltda", que tem como sócios o empresário Luciano Hang, dono da Havan, e a construtora FG, conhecida pela construção de inúmeros arranha-céus na região.

Impactos

Segundo o parecer, a construtora responsável terá que cumprir uma série de medidas mitigatórias durante a execução da obra, devido aos impactos gerados pelo futuro arranha-céu. O documento prevê também uma espécie de contrapartida financeira do empreendimento para a compensação de futuros impactos, estimados em cerca de R$ 3 milhões - menos de 1% do gasto total esperado.

A construtora tem um prazo de até 20 dias, desde a publicação, para apresentar algumas alterações que foram sugeridas pela comissão. O documento reitera que o EIV não dispensa as demais licenças, como ambientais, e outras autorizações específicas.

Em nota ao UOL, a assessoria da FG afirmou que "está com vários projetos audaciosos em trâmite de aprovação e todos os detalhes serão apresentados em breve em lançamento para imprensa".

O que diz o Plano Diretor da cidade?

De acordo com a prefeitura, o Plano Diretor atual de Balneário Camboriú não estabelece limite máximo de andares em edificações em torno da Avenida Atlântica, ao contrário de outras regiões da cidade.

Rubens defende a verticalização das edificações na região. "[A quantidade de andares] é um número que assusta, mas isso é bom no aspecto de vizinhança. Você tem normalmente recuos bem maiores entre vizinhos, mais ventilação e permeabilidade solar. Você 'sobe' em vez de construir lateralmente", argumentou.

Segundo a professora do curso de arquitetura e urbanismo da Universidade do Vale do Itajaí (Univali) Patrícia Trentin Colzani, no entanto, a questão não é tão simples. Ela diz que, do ponto de vista urbanístico, a verticalização não é algo negativo, mas depende diretamente de um planejamento.

É melhor que a cidade seja concentrada, consumindo menos terra, do que espalhada, segregando as pessoas, gerando maior fluxo de veículos e ocupando mais áreas verdes. O problema em Balneário Camboriú é que os edifícios são implantados, na sua maioria, ocupando todo o terreno, impermeabilizando completamente o solo; além de todas as demais infraestruturas necessárias (como rede de abastecimento de água, esgoto, energia e mobilidade) não se desenvolverem na mesma velocidade que a construção civil. Desta forma, temos uma sobrecarga nesses sistemas, gerando problemas como falta de água, energia e congestionamentos frequentes.
Patrícia Trentin Colzani, professora de arquitetura da Univali

Para o doutor em arquitetura e urbanismo pela Universidade de São Paulo Luciano Trícaro, o adensamento, é sim, uma boa opção para as cidades, mas nem sempre a verticalizar significa adensar. O lado bom seria ter mais gente sobreposta em edifícios, diminuindo distâncias entre moradores e serviços e infraestrutura ofertados na cidade.

O problema é que a maioria desses prédios não são adensados, ou seja, não tem muita gente morando. Uma favela, por exemplo, é mais adensada que um prédio como este. Ou seja, é um gasto, uma infraestruturação com pouca gente usufruindo. É um ônus muito grande para o poder publico. É aquilo que o David Harvey diz: 'estamos fazendo cidades pra se investir e não para morar'.
Luciano Trícaro, doutor em arquitetura e urbanismo pela USP

Sobre o ponto de vantagens e desvantagens desse tipo de empreendimento, a professora Patrícia vai no mesmo sentido que Trícaro e destaca que há impactos positivos na economia, que vão da geração de empregos à utilização de novas tecnologias na construção civil, mas que o que se espera negativamente já é percebido em Balneário Camboriú.

"Podemos esperar também os impactos negativos que já se percebem na cidade de Balneário, como a poluição do ar; poluição sonora; a impermeabilização do solo (causando alagamentos); a piora na ventilação e insolação das ruas e imóveis, devido à falta de recuos adequados; problemas de mobilidade urbana e sobrecarga na infraestrutura em geral", conclui a docente.

Marco no ranking mundial

Conforme o site Skyscraper Center, que integra o Council on Tall Buildings and Urban Habitat, associação mundial que produz levantamentos sobre arranha-céus, o Triumph Tower, se concluído, pode se tornar o segundo maior arranha-céu do planeta em número de pavimentos. Hoje o título fica com o Burj Khalifa, em Dubai, com 163 andares e altura de 828 metros. O atual segundo lugar fica em Xangai, com o Shangai Tower, com 128 andares e altura de 632 metros.

Considerando apenas a altura de cerca de 509 metros, o empreendimento seria o maior da América Latina e o 11º prédio mais alto do mundo. No Brasil, esse título atualmente pertence ao Infinity Coast Tower, também localizado em Balneário Camboriú. O edifício conta com 66 andares e 235 metros de altura.

A mesma construtora planeja lançamento de outros três edifícios, com mais pavimentos que o Infinity Coast Tower, previstos para inauguração até 2026 — os três, no entanto, são menores que o Triumph Tower.