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Golpe do hotel: Reserva por WhatsApp acaba com turista sem vaga ou dinheiro

Golpistas chegaram a debochar de vítimas pelos perfis - Arquivo pessoal/Reprodução
Golpistas chegaram a debochar de vítimas pelos perfis Imagem: Arquivo pessoal/Reprodução

Colaboração para o UOL

05/05/2022 04h00Atualizada em 05/05/2022 16h56

A Polícia Civil em Minas investiga suspeitas de crime de estelionato contra turistas que pagaram para se hospedar em um dos pontos mais visitados do estado, mas caíram em um golpe praticado pelo WhatsApp e Instagram de uma pousada de luxo. Até o momento, há 14 denúncias.

A hospedagem, na Serra do Cipó (a 98km de Belo Horizonte), alega também ser vítima, e afirma que o golpe foi aplicado após uma portabilidade do número de telefone do local, feita entre duas operadoras de telefonia sem o consentimento da administração da pousada. Isso permitiu, segundo a direção, que os fraudadores invadissem as redes sociais do estabelecimento e se passassem por funcionários para fazer as reservas e informar contas de terceiros para receber os valores desviados.

Golpe e deboche

Uma das pessoas que queriam conhecer a pousada Santa Vila e pagaram adiantado foi Ana Cláudia da Silva Godinho, 25. De férias, a assistente administrativa procurou informações da hospedagem pelo site e fez a reserva pelo Whatsapp, que, sem ela saber, já estava sendo usado pelos golpistas.

Entre as opções de alto padrão disponíveis, escolheu a suíte com Spa, onde ficaria com mais uma pessoa de amanhã até o dia 9. "Estou de férias, precisando descansar, e seria minha primeira vez lá", conta Ana.

Animada para a viagem, ela pagou R$ 1.100 à vista. "Como eu tinha visto no site e Instagram boas referências, eu ainda tive uma indicação de uma colega que já foi, então realizei o pagamento via PIX".

Depois de encaminhar o comprovante, Ana quis saber se as informações da reserva seriam enviadas para o email dela. Mas a partir daí não teve mais respostas, e chegou a avisar o golpista que estava registrando um boletim de ocorrência.

Ao tentar algum retorno pelo Instagram, que também já estaria invadido, recebeu uma resposta irônica: "kkkk. Mandou quanto?". Ela lamenta não ter conseguido apoio da pousada. "Eles disseram que não podem fazer nada".

"Suporte zero"

O consultor de sistemas Rafael Ferreira da Costa pagou R$ 800 como entrada do pacote de R$ 1,6 mil para ficar um fim de semana na pousada. Ao perceber o golpe, registrou na polícia e procurou o banco, mas sabe que será difícil recuperar o dinheiro. "É conta de laranja, o banco já adianta que pode ser complicado".

Segundo ele, as vítimas estão se comunicando nos últimos dias para buscar ajuda da pousada. "O suporte da pousada foi zero. A pousada estava ciente do golpe desde o dia 24, não usou os outros meios de comunicação para alertar seus clientes que o golpe estava acontecendo".

Portabilidade sem permissão

Na pousada, a informação é que não haverá posicionamento oficial enquanto os fatos são apurados. Mas o estabelecimento disse que a origem da fraude foi a portabilidade entre as operadoras, porém, sem a permissão da direção. "O problema começou quando a Claro fez um pedido de portabilidade sem termos pedido e a operadora Vivo aceitou. Por isso, os hackers conseguiram acesso ao WhatsApp e Instagram", informou a pousada na nova conta de atendimento ao público no WhatsApp.

A Claro enviou uma nota ao UOL afirmando que vai investigar o caso, e que "se houver comprovação de qualquer prática irregular, serão adotadas as medidas necessárias para saná-las". Garantiu, ainda, investir "constantemente em políticas e procedimentos de segurança, adotando medidas rígidas para identificar fraudes e proteger seus clientes".

Também em nota, a Vivo disse que a portabilidade é feita de acordo com as regras da Anatel, e que "revisa constantemente as suas políticas e procedimentos de segurança na busca permanente pelos mais altos controles de segurança nos acessos às informações dos seus clientes". A operadora alertou que, em situações suspeitas, é necessário que "o cliente confirme a veracidade das informações com o solicitante utilizando outros meios de contato".

Questionada sobre apoio às vítimas, a pousada enviou o mesmo texto postado há dois dias no Instagram, que foi recuperado das mãos dos golpistas. No comunicado, o estabelecimento diz se solidarizar com os "afetados pelo golpe, do qual também é vítima. Informa ainda que tomou todas as providências possíveis para interromper a conduta criminosa, assim que tomou conhecimento dos fatos, e já acionou os órgãos responsáveis para identificação e punição dos autores desse crime".

Na página principal do site da hospedagem, há um aviso sobre o hackeamento do antigo WhatsApp e informando o novo contato, com um alerta. "Favor não encaminhar dados pessoais e não realizar nenhum tipo de pagamento".

Autenticação em duas etapas

O Instagram e o WhatsApp declararam ter recursos contra golpes, mas não comentaram o caso.

O WhatsApp disse ao UOL que não se pronuncia quanto a situações específicas e ressaltou que a plataforma segue diretrizes de segurança, como não permitir o uso do serviço para "fins ilícitos ou não autorizados, incluindo para violar direitos de terceiros ou passar-se por outra pessoa". Também afirmou que a empresa oferece mecanismos contra golpes e recomendou a confirmação em duas etapas como uma camada extra de segurança.

O Instagram não detalhou o ocorrido na pousada em Minas, e informou à reportagem que disponibiliza recursos contra golpes e para auxiliar na recuperação de contas invadidas. "Lembramos ainda que qualquer pessoa que tiver acesso ao email e/ou telefone cadastrado em uma conta do Instagram poderá ter acesso a ela. Assim, é importante se certificar que a conta de email vinculada ao Instagram esteja segura", detalha parte do comunicado.