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Cracolândia: Três policiais admitem disparos durante ação; um homem morreu

Moradores da região chamada de cracolândia vagam pelas ruas do centro de São Paulo desde quarta-feira (11) - Bandeirantes/Reprodução de vídeo
Moradores da região chamada de cracolândia vagam pelas ruas do centro de São Paulo desde quarta-feira (11) Imagem: Bandeirantes/Reprodução de vídeo

Do UOL, em São Paulo

13/05/2022 22h20Atualizada em 13/05/2022 22h26

Três policiais civis que participaram da dispersão de frequentadores da chamada cracolândia no centro de São Paulo, na noite de ontem, se apresentaram hoje como autores de disparos feitos durante a ação. Na ocasião, um homem de 32 anos morreu no local.

De acordo com nota da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, os policiais se apresentaram voluntariamente e uma perícia vai ser realizada para apurar se o tiro que causou a morte do homem saiu da arma de algum dos oficiais. O caso é acompanhado pela Corregedoria Geral da Polícia Civil.

O trio faz parte do aparato policial que começou a atuar na dispersão de pessoas em situação de rua e dependentes químicos que, até então, ocupavam a região da praça Princesa Isabel, até a madrugada da quarta-feira (11), dia em que cerca de 500 pessoas foram impedidas de permanecer no local.

Em grupos menores, muitos permaneceram vagando pelo centro da capital. Um deles foi alvo da incursão em que foram verificados tiros, enquanto caminhavam pela avenida Rio Branco.

Um vídeo feito pela moradora de um dos prédios no entorno da ação mostra o momento em que dois homens com trajes civis caminham até o meio da rua para abrir fogo contra um grupo. Um dos atiradores portava uma arma longa.

Após os disparos, eles continuam caminhando normalmente na direção oposta ao grupo, acompanhados por um terceiro homem.

Segundo a Polícia Civil, o homem morto foi identificado como Raimundo Rodrigues Fonseca Júnior, 32. Ele estava em situação de rua e chegou a ser levado para a Santa Casa de São Paulo, mas não resistiu aos ferimentos. Ele tinha anotações criminais por tráfico de drogas e roubo.

O caso foi registrado por volta das 20h30 e encaminhado ao DHPP (Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa), que investiga a ação. Em entrevista à TV Globo, a delegada do DHPP Elisabete Sato disse que os policiais admitiram os disparos, mas não a intenção de atingir a vítima.

"Eles disseram que efeturaram disparos, sim, mas foi em direção ao chão e, de certa forma, até que bate com as informações que nosso perito trouxe do IML, porque ele nos apresentou dois fragmentos de projéteis que tudo leva a crer que foi ricocheteado e atingiu a vítima", afirmou.

O que mostram os vídeos

A ação começou quando policiais civis abordaram um grupo com cerca de 200 usuários de drogas concentrado na esquina entre a rua do Triunfo e a rua dos Gusmões para encontrar armas brancas e suspeitos de integrar o tráfico com mandados de prisão expedidos pela Justiça.

Em seguida, informaram os agentes, a multidão se dispersou em direção à praça Princesa Isabel, antigo endereço da "cracolândia". Em um vídeo feito por uma moradora, é possível ver o momento em que uma viatura da Polícia Militar acelera em direção aos usuários na avenida Rio Branco e freia em seguida, motivando outra dispersão.

Ao perceber a aproximação do grupo, três homens que estavam na calçada caminham até o meio da via. Dois deles atiram. "Estão até com fuzil na mão. É tiro!", narra a moradora, que gravou a cena da janela de um dos apartamentos no entorno.

Em vídeo feito por outro morador, é possível ver um homem caído na calçada. "Olha lá, mataram o cara mesmo".

Investigação

Com base em dois meses de investigação com vídeos produzidos por agentes infiltrados, a Polícia Civil obteve o mandado de prisão de 36 suspeitos de integrar o tráfico de drogas da "cracolândia". Três deles já foram capturados, segundo os investigadores.

Segundo a SSP (Secretaria de Segurança Pública), 20 pessoas foram detidas desde o início da ação na região da Cracolândia —14 delas já foram liberadas pela polícia.

Agora, a Polícia Civil tenta identificar outras pessoas que atuavam a serviço do tráfico, como os "travessias", encarregados de levar as drogas a hotéis nas imediações da "cracolândia". A investigação também mira os responsáveis pela segurança e as pessoas que armavam as barracas para o consumo de drogas.