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Henry: Em 1º interrogatório, Jairinho tentará anular provas da polícia

Lola Ferreira

Do UOL, no Rio

13/06/2022 04h00

O ex-vereador Jairo Souza Santos Júnior, o Dr. Jairinho, senta no banco dos réus na manhã de hoje para dar a sua versão sobre a noite da morte do enteado Henry Borel, de quatro anos. Juntamente com a mãe da criança, Monique Medeiros, o ex-vereador é acusado de assassinato.

O interrogatório foi marcado para 9 de fevereiro, mas Jairinho escolheu não responder às perguntas. Hoje, contudo, a expectativa é de que ele fale e siga a linha estabelecida por sua defesa: desacreditar a investigação policial e os laudos periciais.

Em fevereiro, enquanto justificava sua escolha pelo silêncio, ele afirmou: "Juro por Deus que não encostei a mão em um fio de cabelo do Henry".

Ao longo das audiências, a defesa de Jairinho defendeu que interrogatórios de réus deveriam ser o "último ato" do processo, depois de ouvir todos os depoimentos. Nos últimos meses, inúmeras petições e novos pedidos foram apresentadas pelo ex-vereador à Justiça. O vaivém no processo envolveu inclusive um pedido de afastamento da juíza Elizabeth Louro, titular do 2º Tribunal do Júri.

Todo o imbróglio ajudou Monique Medeiros, que aguarda julgamento em prisão domiciliar desde o dia 5 de abril. Na decisão, Louro argumentou que a professora colaborou com todos os trâmites judiciais e que o avanço do processo estava sendo impedido somente por um dos réus (Jairinho).

Defesa continua a questionar tese de assassinato

Não há previsão de que Monique acompanhe o interrogatório de Jairinho no Tribunal de Justiça, de acordo com a defesa dela. Hoje, Jairinho deve responder às perguntas elaboradas pelo MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro), pelos advogados de Leniel Borel —pai do menino Henry, que atua como assistente de acusação— e pela defesa de Monique.

A linha de defesa do ex-vereador insiste que Henry não foi assassinado e que as conclusões do inquérito policial e da denúncia do MP-RJ foram equivocadas, principalmente a partir do laudo de necropsia do menino.

As médicas que atenderam o Henry no hospital Barra D'Or, envolvidas na tentativa de reanimação de Henry, relataram à polícia que ele chegou à unidade de saúde em parada cardiorrespiratória e que apresentava rigidez da mandíbula, um indicativo de que a criança já estava morta. Elas também afirmaram que, em nenhum momento, o menino reagiu às manobras de reanimação.

O exame assinado pelo perito legista Leonardo Huber Tauil atestou morte decorrente de laceração hepática por ação contundente. Já a defesa de Jairinho mantém a linha de que a criança chegou viva ao hospital, com objetivo de anular as provas médicas.

Perito contratado por Jairinho questionou exames

No dia 1º, Tauil e Sami El Jundi, legista contratado pela família de Jairinho, prestaram depoimento no 2º Tribunal do Júri.

Com um raio-x inédito nos autos até então, El Jundi afirmou que o exame mostra o pulmão de Henry colapsado —o que que não consta na necropsia oficial do IML (Instituto Médico Legal) e pode ocorrer em consequência de manobras de atendimento.

El Jundi falou também sobre o termo "trismo", usado por uma das médicas no prontuário de Henry. Segundo ele, muitas coisas causam o trismo, inclusive traumatismo craniano e deficiência de cálcio, e que o termo não é sinônimo de rigidez cadavérica.

Esses elementos devem ser relembrados por Jairinho no depoimento de hoje como estratégia para colocar em dúvida as conclusões da Polícia Civil.

El Jundi ainda questionou o tempo do exame de necropsia, destacou supostas contradições e ausência de informações. "Me chamou a atenção a pobreza das descrições (...) uma necropsia completa dura 1h30 a 2 horas. Se tiver procedimento adicional isso vai prolongar o tempo de necropsia, sem contar a redação do laudo."

Antes, o perito responsável pelo laudo reafirmou que Henry morreu em decorrência de hemorragia interna e laceração hepática por ação contundente. Ele disse no Tribunal que se lembrava da necropsia do menino pela marcas de violência incomum em uma criança.

"Dezenove anos que estou lá e é muito incomum ter lesão violenta em criança de quatro anos."