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Sakamoto: Bolsonaro culpou vítimas e só veio a público tirar o dele da reta

Colaboração para o UOL, em Maceió

16/06/2022 13h29

O colunista do UOL Leonardo Sakamoto destacou que o presidente Jair Bolsonaro (PL) culpou o jornalista britânico Dom Phillips e o indigenista brasileiro Bruno Pereira pelas próprias mortes, e só aveio a público se pronunciar sobre esses assassinatos para "tirar o dele da reta".

Durante o UOL News, Sakamoto ressaltou que Bolsonaro culpou Dom e Bruno em pelo menos três ocasiões, pois, para o mandatário, "não basta praticar uma infâmia, ele tem que repetir de novo e de novo, seja porque ele só consegue entender repetindo várias vezes por problemas cognitivos, seja porque ele gosta de ver as famílias dos mortos sofrer".

"Ou talvez ele [Bolsonaro] faça isso para que uma parte de seu eleitorado bata palma, como garimpeiros, madeireiros ilegais, grileiros de terras, pecuaristas e caçadores ilegais, batam palma para o comportamento presidencial", completou.

Por fim, Leonardo Sakamoto disse que, ao contrário do que o presidente brasileiro disse, que o jornalista e o indigenista foram "fazer uma excursão" na Amazônia, na realidade os dois foram "fazer o papel do Estado", que hoje se encontra sucateado, dado o desmonte dos órgãos de fiscalização, como a Funai e o Ibama, na região amazônica.

"Ele veio a público para tirar o dele da reta. Quando ele culpa, responsabiliza o Dom e o Bruno pelo que aconteceu com eles, diz que foram fazer uma excursão, é uma coisa absurda, [porque eles] foram fazer o papel que é do Estado, mas o Estado na forma de Jair Bolsonaro se nega a cumprir, fiscalizar, quando ele joga essa responsabilidade, diz 'a culpa não é minha, não tenho nada a ver com isso, a culpa é deles', porque no final das contas é o que Bolsonaro sabe fazer", completou.

Crime

A Polícia Federal afirmou em entrevista coletiva na noite desta quarta-feira (15) que o pescador Amarildo da Costa Oliveira, também conhecido como "Pelado", confessou que matou e enterrou os corpos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips, correspondente do jornal The Guardian, na região do Rio Javari (AM). A informação foi confirmada por Eduardo Alexandre Fontes, superintendente regional da PF no Amazonas.

Amarildo foi preso em flagrante no dia 7, por porte de munição de uso restrito. Segundo Fontes, o pescador confessou na noite de terça-feira (14), voluntariamente, a autoria do duplo homicídio, e contou com detalhes a dinâmica do crime. De acordo com o relato de Amarildo, Bruno e Dom Phillips teriam sido mortos por arma de fogo —informação que ainda precisa ser confirmada pela perícia.

Nesta quarta, com a ajuda do próprio Amarildo, as forças de segurança do Amazonas encontraram restos humanos enterrados em uma região remota, mais de três quilômetros mata adentro. A PF informou que o material orgânico será enviado para análise nesta quinta-feira (16), com o objetivo de confirmar a identificação.

A Polícia Civil não descarta a possibilidade de outras pessoas estarem envolvidas no crime. Além de Amarildo, o irmão dele, Oseney da Costa de Oliveira, está preso, e, segundo a PF, há um terceiro investigado. "Existe a possibilidade de decretação de outras prisões", afirmou o delegado Guilherme Torres.

Logo após as declarações da PF, Alessandra Sampaio, esposa de Dom Phillips, se manifestou sobre o caso. "Embora ainda estejamos aguardando as confirmações definitivas, este desfecho trágico põe um fim à angústia de não saber o paradeiro de Dom e Bruno. Agora podemos levá-los para casa e nos despedir com amor", afirmou.