Pai diz que advogada morta apartando briga estava em seu aniversário: 'Dor'
A advogada Ana Laura Borba, 28, assassinada enquanto tentava apartar uma briga de casal em Bagé (RS) estava na cidade para participar da festa de aniversário do pai, João Borba, na primeira reunião familiar depois que a esposa dele morreu, há quatro meses. Em entrevista exclusiva ao UOL, o homem se emocionou ao lembrar os últimos momentos da filha, conhecida por ser defensora de direitos da mulher, e que ela se desesperou ao ver irmã sangrando quando família tentou impedir a briga do casal na rua.
A advogada tinha voltado a viver no Sul, na cidade de Pelotas, recentemente, após anos morando em São Paulo, onde atuou por dois anos, e visitava a família em Bagé. Ela dormia ao lado da irmã, Helena, na casa da família quando foi despertada pelos gritos de uma mulher que, pedindo socorro, tentava fugir de seu agressor. Diante da confusão, a advogada tentou amedrontar o agressor com um revólver, mas acabou desarmada, baleada e morta.
"Ficamos eu, meu cunhado, minha irmã e uma das minhas filhas conversando", lembrou o agricultor. "Nesse momento, veio um pedido de socorro, uma mulher afirmando que um homem iria matá-la. Minha filha Isabela saiu para ver o que estava acontecendo e, quando fui atrás, vi que o homem segurou Isabela pelo braço e começou a desferir socos nela."
Ana Laura acordou e saiu da casa, encontrando o pai, os tios e a irmã — que estava sangrando — envolvidos na discussão. Em uma reação rápida, a advogada buscou um revólver de calibre .38 e voltou para o portão da casa.
Ela não atirou, a intenção dela era apenas amedrontar o homem. Mas quando ela chegou perto da grade, ele pegou o revólver da mão dela e começou a atirar. Ele deu cinco tiros. Um acertou ela. Enquanto isso, minha irmã desmaiou. Foi um cenário que não tem como descrever, uma coisa muito triste.
João Borba, agricultor
O pai de Ana Laura diz que, apesar de "muita dor", está orgulhoso da filha por ter tentado salvar uma outra mulher. "Ana Laura era muito dedicada, se doava de cabeça. Era uma filha firme e não admitia injustiça por nada. Era uma pessoa muito correta, muito firme, de personalidade muito forte".
Ele conta ainda que a advogada era bastante íntima de armas, já que fazia cursos e participava de clubes de tiro. Por isso, inclusive, ele afirma que o ato de pegar o revólver durante a discussão "não foi uma atitude impensada" e que descobriu, por meio de relatas de amigas da filha, que não foi a primeira vez que ela defendeu mulheres de agressões.
Ela morreu lutando por uma coisa que ela sempre defendeu: que a mulher deve ser respeitada. Então essa morte não foi de graça. Ela morreu lutando pelo direito da mulher. Se nós, homens que compomos a Justiça, o Legislativo, o Executivo, não punirmos esses criminosos, certamente muitos sucumbirão, infelizmente, igual a minha filha.
Magali Gaia Borba, tia de Ana Laura que mora na Itália, lembrou-se dos traços mais característicos da advogada. "Ela era muito dinâmica, muito forte, muito destemida", contou. "A vida dela foi cortada brutalmente, injustamente, sem razão nenhuma, para salvar a vida de outra mulher, que estava sendo machucada."
Ana Laura fazia artes marciais, tiro ao alvo. Estava sempre por dentro de tudo, corria atrás da luta dela, de emprego. Era impressionante. Muito dinâmica e muito inteligente, ela tinha muito futuro. Ela defendia as mulheres inconscientemente.
Magali Borba, tia da vítima
Entenda o caso
O investigado por atirar contra Ana Laura e de agredir a companheira em frente à casa da família, na avenida Marechal Floriano, na madrugada do último domingo (26). Quatro pessoas tentaram impedir o crime de violência contra a mulher, incluindo a advogada e sua irmã, também agredida. Ele tem 26 anos, foi preso em flagrante e levado para um presídio estadual.
Diante do ocorrido, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) Subseção Bagé emitiu um comunicado oficial em seu Facebook, manifestando "o mais profundo sentimento de consternação" pela morte de Ana Laura. Na nota, a subseção afirma que a advogada "sucumbiu no cumprimento do seu dever de cidadã em defesa de uma mulher vítima de violência doméstica", classificando o ocorrido como uma "perda irreparável para toda a sociedade".
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