Corpo na parede da igreja: quem foi o capitão e por que foi enterrado de pé
Um acontecimento no mínimo curioso faz parte da história de São José dos Campos, cidade do interior de São Paulo. Uma ossada humana foi encontrada dentro de uma das paredes de taipa da Igreja de São Benedito, na praça Afonso Pena, no centro da cidade.
O corpo "emparedado" tem nome, sobrenome e título: Capitão Miguel de Araújo Ferraz.
A urna com os ossos do capitão ainda está dentro da parede de taipa da igreja —que está desde 1997 sob a responsabilidade do poder municipal e não recebe mais cultos religiosos
Em breve, o prédio passará por uma nova restauração, mas não há planos de remover os restos mortais dali.
Quem foi Miguel de Araújo Ferraz?
O Capitão Miguel de Araújo Ferraz viveu em São José dos Campos no século 19 e doou terras à Irmandade de Nossa Senhora do Rosário, para que fosse construída uma capela em homenagem à santa.
Segundo o livro "O Álbum de São José", publicado em 1934, a capela Nossa Senhora do Rosário foi demolida em 1879 e, ao removerem os corpos que estavam enterrados no local, encontraram o cadáver de Miguel, em bom estado, mesmo sem o uso de qualquer método de embalsamamento ou conservação.
Miguel foi levado para a capela de São Benedito e enterrado em uma das paredes de taipa —as paredes do local foram erguidas por José Vicente, conhecido como Taipeiro.
Existem relatos de que era possível ver a silhueta do corpo dele através da parede e, por isso, sua família resolveu colocá-lo dentro de uma espécie de urna, para que a forma não pudesse ser mais vista.
O local onde o capitão foi enterrado não foi marcado de nenhuma forma, e sua localização ficou desconhecida até 2010 quando a ossada foi encontrada por Sonia Di Maio, arquiteta da Fundação Cultural Cassiano Ricardo, e Nadia Kojio, historiadora e coordenadora do Arquivo Público municipal.
Elas estavam fazendo a restauração do local e enquanto consertavam rachaduras da parede de taipa da igreja, notaram um caixote com uma fita amarela.
Por que ele foi sepultado em pé?
Miguel Araújo Ferraz era conhecido por fazer doações e contribuir com benfeitorias da igreja. Por conta disso, ele tinha "direito" de ser enterrado na igreja e não em um cemitério.
Ser enterrado de pé, dentro da igreja, era um sinal de prestígio para os católicos.
Normalmente, as pessoas consideradas importantes eram enterradas dessa forma porque se acreditava que o último lugar de repouso deveria ser perto dos santos.
Ser enterrado na igreja era também sinônimo de status social. Quanto mais prestígio e riqueza o indivíduo possuísse, mais próximo do altar seria enterrado.
Realizar enterros dentro de templos religiosos era costume até o século 19. Segundo o escritor Francisco de Assis Vieira Bueno, um ar maléfico enchia as igrejas e expunha as mulheres, que ficavam horas sentadas lá dentro, a todo tipo de infecção.
A primeira medida proibindo os enterros nas igrejas foi expressa através de uma carta régia do ano de 1801. A mesma carta também ordenava a construção de cemitérios.
São Paulo só acabou com esse hábito nada higiênico em 1850, quando a Câmara decidiu que a cidade deveria construir um cemitério secular —o da Consolação, na região central da capital.
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