Polícia diz que aluna da USP agiu só e a indicia por apropriação indébita

A polícia concluiu que a estudante Alicia Müller, que confessou ter desviado R$ 937 mil da formatura de uma turma da Faculdade de Medicina da USP, agiu sozinha e pediu o indiciamento dela pelo crime de apropriação indébita. O inquérito foi enviado na sexta-feira (27) ao Ministério Público.

Concluímos que ela é culpada e encerramos o caso.
Guilherme Santos Azevedo, delegado do 16ºDP de São Paulo

Segundo Azevedo, a investigação colheu provas suficientes que indicam Alicia agindo sozinha para desviar o montante, usar parte da verba em benefício próprio, como em aluguéis de flat e carro, e apostar o restante em uma casa lotérica.

Como a estudante efetuou nove desvios, a delegacia sugere que Alicia responda nove vezes por apropriação indébita. Com pena prevista de um a quatro anos por cada crime, a estudante pode ser condenada a até 36 anos de prisão.

"Ela também deve pagar multa estipulada pelo juiz", disse o delegado, para quem a pena máxima é "improvável porque ela é réu primária".

Agora o MP tem até a próxima quinta-feira (2) para se manifestar. Para isso, deverá decidir se:

• Repete a denúncia da polícia e pede na Justiça a condenação pelos noves desvios;
• Denuncia Alicia por outro crime;
• Devolve à delegacia pedindo mais provas;
• Arquiva o caso e não apresenta denúncia.

Quebra de sigilo

A investigação quebrou o sigilo bancário da estudante, mas até agora não recebeu os extratos, uma vez que os bancos têm até dois meses para enviar as informações.

"Enquanto o MP estiver com o caso, podemos remeter as informações que nos chegam", diz Azevedo.

Os depósitos deveriam ter sido feitos na conta da Ás Eventos —contratada para arrecadar o dinheiro—, mas acabaram desviados pela aluna, que também presidia a comissão de formatura.

Foi durante a confissão que Alicia levou os nove extratos comprovando as transferências para alguma de suas três contas pessoais:

Novembro de 2021: R$ 604 mil
Junho de 2022: R$ 144 mil
Junho de 2022: R$ 3.000
Agosto 2022: R$ 60 mil
Setembro de 2022: R$ 24 mil
Outubro de 2022: R$ 24 mil
Novembro de 2022: R$ 2.800
Novembro de 2022: R$ 27 mil
Dezembro de 2022: R$ 20 mil

O que diz a defesa de Alicia?

O advogado de Alicia, Sérgio Ricardo Stocco Giolo, afirmou que "pouco importa se houve uma, duas ou nove apropriações".

"Pois nesse caso, é perfeitamente possível a aplicação da regra do crime continuado. Assim, se houve apropriação dos valores da comissão de formatura nove vezes, ao invés de haver punição por nove crimes, haverá punição por um, com aumento de pena", afirmo ao UOL.

Ele afirmou ainda que a estudante "tem tido seus Direitos violados por pessoas que fazem verdadeiro prejulgamento, condenando-a antecipadamente, violando suas garantias constitucionais e processuais penais, afrontando os princípios da presunção de inocência, do devido processo legal, do contraditório e da ampla defesa".

Ele também criticou a cobertura da imprensa, que teria infringido "os sagrados direitos à intimidade, à imagem e à honra (...) o que tem lhe causado danos irreparáveis, atacando sua reputação, sua vida acadêmica, seu trabalho e sua família".

Reafirmo que aAlicia está totalmente disposta a esclarecer todos os fatos objeto das investigações em curso"
Sérgio Ricardo Stocco Giolo, advogado

A polícia afirma que Alicia apostou cerca de R$ 500 mil e ganhou 17 vezes na Lotofácil, embolsando R$ 170 mil e perdendo R$ 330 mil.

A estudante também viu seus gastos com cartão de crédito dispararem de R$ 2.000 para R$ 7.000 por mês, dinheiro que servia para comprar um iPad de R$ 6.000 e algar um Iphone, além de outros gastos pessoais, especialmente com iFood.

Ela também alugava um carro avaliado em R$ 120 mil e um flat de R$ 3.700, possivelmente mobiliado com o dinheiro desviado.

Alicia confirmou ter feito diversas dívidas nos últimos meses e agora amarga um rombo de aproximadamente R$ 20 mil apenas no cartão de crédito. As contas estão todas sem saldo.

"Investigamos se o dinheiro foi passado para outras contas e onde possam estar os resquícios dessas quantias", disse a delegada-chefe Zuleika Gonzalez Araújo.