38% das escolas brasileiras relatam problemas com bullying
Cerca de 38% das escolas brasileiras dizem enfrentar problemas de bullying, segundo dados do 17º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, levantamento realizado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. As informações foram divulgadas hoje.
O que aconteceu
Mais de 28 mil escolas disseram ter registrado casos de bullying como ameaças ou ofensas verbais. Esse número equivale a 37,8%, pois a pesquisa foi respondida por mais de 74 mil escolas.
Os dados são referentes a 2021, durante a pandemia da covid-19, quando boa parte das escolas ainda não funcionava 100% presencial. Os questionários foram respondidos pelas unidades que realizaram o Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica).
Santa Catarina, São Paulo e Rio Grande do Sul lideram. Esses foram os estados com maiores indíces de escolas que registraram ocorrências de bullying.
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Em SP, 347 escolas afirmaram ter registrado "várias vezes" ameaças ou ofensas verbais na unidade. Os diretores das unidades que confirmaram casos de bullying precisavam responder, na sequência, se haviam acontecido "poucas vezes" ou "várias vezes".
O bullying é mencionado como uma das causas ligadas ao discurso de ódio, então esse é um dado importante para ficarmos atentos. Por outro lado, os dados nos mostram que 70% das escolas afirmam que têm projetos de combate ao bullying.
Cauê Martins, pesquisador do Fórum Brasileiro de Segurança Pública
Exemplo de como prevenir
Um colégio estadual do Paraná, por exemplo, tem trabalhado com projeto interdisciplinar para combate ao bullying. A escola Lysimaco Ferreira da Costa conta com o apoio de universitários para oferecer dinâmicas aos alunos e falar sobre conscientização.
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Quero receberUma das dinâmicas é o "respeitol" — uma caixa em que os alunos podem escrever situações que viveram e não gostaram. Depois, os temas são discutidos em grupos.
Quem sofre com o bullying fica abatido, frustrado, o desempenho escolar fica abaixo do esperado. Já tive alunos me procurando e chorando. Então precisamos ser atenciosos, ouvir e ajudar esse aluno ao mesmo tempo em que conscientizamos quem comete o bullying.
Zeila Regina Fonseca, coordenadora da escola
Adolescente saiu de escola após sofrer bullying
Uma estudante de 14 anos trocou de escola após sofrer bullying dos colegas, em Curitiba (PR). Segundo a aposentada Maria*, que teve o nome alterado para preservar a identidade da adolescente, o caso de sua filha não teve apoio da direção escolar e nem dos professores da unidade.
O bullying começou após a estudante não concordar com o comportamento dos colegas, diz a mãe da vítima. "Eles faziam piadas racistas, não ajudavam alunos com deficiência... Teve um dia em que minha filha pediu desculpa por essas atitudes e, a partir daí, a turma pegou raiva dela", conta a aposentada.
Comecei a achar estranho, porque ela ficou me ligando durante um mês para buscar mais cedo na escola. Falava que estava com cólica e com dor de cabeça e chorava quando chegava em casa. Até o dia em que contou tudo que estava acontecendo.
Maria, mãe da aluna
A adolescente foi excluída. Isso ocorreu em trabalhos em grupos, e ela deixou até de participar das aulas de educação física, porque os colegas torciam para que ela errasse a atividade, relata Maria.
Vítima de bullying desenvolveu ansiedade. Hoje, a estudante faz acompanhamento com psicólogo e psiquiatra.
É uma escola que fazia palestra sobre tudo, mas na prática foi muito difícil, porque não tive apoio. Os professores presenciavam a situação, mas não faziam nada, e para enfrentar o bullying necessita de um engajamento de toda a escola. Então, o jeito que encontramos foi mudar minha filha de escola.
Maria, mãe da aluna
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