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'Confirmei que estava grávida e, horas depois, tive de ser amputada'

Mariana recebeu a notícia de que estava grávida em 28 de junho e, no mesmo dia, viu sua vida mudar mais uma vez Imagem: Arquivo pessoal

Victória Gearini

Colaboração para o UOL

11/08/2023 04h00

A técnica em radioterapia Mariana Carvalho Peixoto, 39, recebeu a confirmação de que estava grávida em 28 de junho. No mesmo dia, viu sua vida mudar mais uma vez ao sofrer um acidente de trânsito, em Ipatinga (MG), que levou à amputação de parte de sua perna.

Ao UOL, ela conta sua história.

"Eu e meu namorado vínhamos tomando vitaminas para tentar fazer a fertilização in vitro. Nossa médica já tinha visto que a chance de concepção natural era mínima, mas consegui engravidar naturalmente. Já estava tentando há um ano.

No dia em que minha menstruação chegaria, notei algumas mudanças no meu corpo e logo pedi um teste de farmácia.

No dia seguinte, confirmei o teste com um exame de sangue. Ficamos extremamente felizes com esse positivo. Era a realização de um sonho.

Peguei o resultado por volta das 15h30, do dia 28 de junho. Logo em seguida, comecei a pesquisar um jeito de surpreender nossas famílias com essa notícia maravilhosa. No entanto, fomos surpreendidos por um acidente que mudou nossos planos.

'Fui surpreendida por um carro'

No mesmo dia, por volta das 19h15, saindo da academia, peguei a moto para voltar para casa, porque até então era um caminho curto e muito tranquilo.

A mais ou menos 400 metros da academia, fui surpreendida por um carro saindo da contramão em um cruzamento.

Na rua, enquanto aguardava o socorro, já sabia que perderia minha perna, mas tinha esperança de estar errada. Naquela hora, passou um filme na minha cabeça: preciso proteger meu bebê.

Já o motorista do carro ficou em estado de choque. Não o vi e não sei quem é, mas não tenho raiva.

Mariana e o namorado, na saída do hospital Imagem: Arquivo pessoal

Pessoas na rua me ampararam até o momento da chegada ao hospital. Parte da equipe médica de prontidão eu já conhecia, pois trabalho em uma outra unidade do hospital.

Vivenciar tudo aquilo foi bem delicado, porque eu tinha consciência de que tinha perdido muito sangue. E estava o tempo todo preocupada com minha gestação.

Os médicos foram bem claros de que existia a possibilidade [de amputação]. Descobri [que seria amputada] assim que passei por avaliação médica. Perdi muito sangue, corri risco de morte.

Quando a cirurgia acabou e me informaram da amputação, tive vômitos. Minha única reação foi perguntar por um obstetra.
Foi um momento muito delicado e é difícil de relembrar.

'Hormônios a mil por hora'

Fiquei 15 dias internada e os dias não estão sendo fáceis, mas sigo persistindo para levantar o quanto antes da cama.

Fico constantemente preocupada e com medo de desgastar as pessoas que eu amo devido às minhas limitações. Sei que fazem por amor, mas é difícil não pensar nisso.

Meus hormônios estão a mil por hora, a cabeça, cheia e todos os sentimentos ficam à flor da pele.

Sempre fui muito independente. Hoje preciso de ajuda para fazer coisas mais básicas, como ir ao banheiro e isso me deixa bem abalada. Minha vontade foi de morar no abraço do meu namorado por algum tempo.

Ficar de pé, mesmo com um apoio depois de quase um mês da cirurgia, foi a melhor sensação do mundo, poder olhar as pessoas frente a frente.

'Foco no bebê'

Mariana passa por reabilitação para voltar a andar Imagem: Arquivo pessoal

Não penso na pessoa que causou o acidente. Quero que essa pessoa siga a vida dela assim como eu estou seguindo a minha. Hoje meu foco é a minha saúde e a do bebê que, assim como eu, sobreviveu a esse acidente.

Estou com apenas 9 semanas de gestação, em uma fase ainda muito delicada, já que ainda não fechamos o primeiro trimestre. Sigo com uma rotina de exames. E os preparativos [para receber o bebê] vão começar um pouco mais para frente.

Vivo um misto de emoções, um dia de cada vez e curtindo a barriga que já deu um sinalzinho. Agradeço até os enjoos que estou sentindo, porque sei que essa gestação, a minha primeira gravidez, é um milagre.

Tenho uma grande rede de apoio e sei que vamos tirar tudo isso de letra [uma vaquinha foi organizada para ajudá-la e já arrecadou R$ 26 mil].

Ela gosta de correr e fazer trilha, e já sonha em retomar essas atividades Imagem: Arquivo pessoal

Também quero voltar, assim que possível, ao trabalho e à minha rotina de atividades físicas, sentir novamente a liberdade durante uma trilha. Adoro correr e fazer trilha. Eu e meu namorado sempre procuramos passeios em contato direto com a natureza.

Tenho planos de voltar a correr. Pretendo participar da [Volta da Lagoa da] Pampulha, em Belo Horizonte, no ano que vem. Se tudo correr bem, estaremos lá no próximo ano: eu, meu namorado e nosso bebê.

'Espero que as coisas mudem'

Também queria que minha história mexesse com as autoridades da minha cidade para que façam mais fiscalização no trânsito. Todos os dias, escutamos várias histórias dos absurdos que têm acontecido aqui.

É difícil fazer qualquer percurso na cidade sem ver algum acidente ou alguma infração grave. As pessoas agem como querem por saberem que não existe fiscalização.

Quando fazia minha rota de casa para o trabalho, isso já me incomodava, muito antes do acidente.

Espero que as coisas mudem a ponto de as pessoas pensarem duas vezes antes de sair de casa de forma irregular, colocando a vida de terceiros em risco.

'Não sou a perna que perdi'

A mensagem que fica é de que a vida é um sopro. Esteja com as pessoas que ama, demonstre amor e faça tudo com amor porque a gente nunca sabe o dia de amanhã.

Quero que as pessoas vejam em mim a Mariana, filha, mãe, irmã, companheira, amiga e profissional. Não sou a perna que eu perdi. Sou muito mais.

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