Abalado após morte da filha, pai de Eloá 'só desmaia', dizem familiares
O pai da menina Eloá da Silva dos Santos, 5, que morreu baleada durante uma ação policial na Ilha do Governador, no Rio de Janeiro, está abalado e tomando remédios para "lidar com a dor". "Ele está desmaiando toda hora", diz o avô da garota, Fábio Santana da Cruz. Eloá morreu enquanto brincava dentro de casa no sábado (12).
O que aconteceu
O pai da menina, Gilgres Santos, disse à TV Globo que "nada é capaz de explicar a dor que sentiu ao perder a filha".
Segundo o avô da garota, Fábio Santana da Cruz, Gilgres "desmaia toda hora" e está tomando remédios para se acalmar. "Ele passa o tempo só sentando, lamentando e chorando." A prima de Eloá também disse que o pai da menina está "inconsolável".
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O avô de Eloá diz que ela era a filha mais apegada ao pai. "Essa era a mais chegada dele". De acordo com o avô, Gilgres levantava por voltas das 4h para trabalhar. "Ele dava café da manhã para ela. Depois, ela subia e voltava a dormir com a mãe."
A família de Eloá decidiu passar este domingo, em apoio ao pai da menina. "Estamos todos juntos aqui. não estamos nem lembrando do Dia dos Pais. Ele [Gilgres] quer desistir, mas estamos dando apoio a ele, tentando fazer ele entender.
O pai da menina está recebendo apoio das outras filhas. "A irmã mais velha dela, de 8 anos, já está entendendo um pouco porque viu o pai chorar. Ela consolou o pai dizendo que a irmã está céu", disse o avô.
A mãe da menina, Ana Cláudia, disse à Globo News que a família está arrasada. "Muito ruim ficar sem a minha filha. A irmã está sentindo muito a falta dela, as duas estudavam no mesmo colégio. Minha mãe está muito arrasada. Todos nós estamos."
Eu não tenho mais palavras para falar para vocês que nada vai me consolar. A dor pela minha filha, que já se foi, que acabou. Tiraram um pedaço da minha vida, foi a minha filha.
Gilgres Santos, pai de Eloá, em entrevista à TV Globo
Só espero que essa violência acabe e que nenhuma criança mais venha a sofrer por esses atentados e que nenhuma mãe venha a sofrer com nenhuma perda de uma criança indefesa. As crianças não tem culpa de nada. Um pedacinho de mim que tiraram, meu anjinho, tão inocente, dentro de casa brincando e foi atingida por uma bala.
Ana Cláudia, mãe de Eloá, em entrevista à Globo News
Luto e enterro
A família de Eloá se divide entre o luto e os trâmites do sepultamento.
O corpo foi liberado por volta das 12h do domingo (13), mas a família foi informada que o velório e o enterro ocorrerão somente na segunda-feira (14).
Em meio à dor, o avô cobrou justiça e responsabilização da "pessoa que deu o tiro" na menina. Disse que gostaria que o Estado desse "uma resposta" às famílias que perdem crianças e adolescentes.
Estão despreparados. Não é o primeiro caso de criança que morre [em ação policial]. Está na hora de dar um basta nessa violência. O que nos resta é ir nos conformando. Mas é muita dor.
Quando eu chegava do trabalho, o primeiro abraço que eu recebia era o dela. Quando ela passava uns dias sem me ver, já batia aquela sensação de vazio.
Fábio Santana da Cruz, avô de Eloá
O que dizem a polícia e o governo
A Secretaria Estadual da Polícia Militar do Rio de Janeiro afastou o comandante do 17º BPM (Batalhão da Polícia Militar) da Ilha do Governador. A medida foi tomada para "dar uma maior lisura e transparência à averiguação dos fatos", disse a secretaria, por nota.
O governo do estado Rio informou que investe nas forças de segurança, "principalmente em tecnologia e treinamento". "Na atual gestão houve redução histórica dos crimes contra a vida. No acumulado de 2022, foram registrados os menores números de homicídios dolosos (intencionais) e de letalidade violenta em 31 anos, desde o início da série histórica do Instituto de Segurança Pública.
A Polícia Militar afirmou que uma equipe do 17° BPM abordou dois homens em uma motocicleta, na rua Paranapuã, na Ilha do Governador. Na versão da corporação, "o ocupante de carona portava uma pistola."
"O indivíduo [na carona, Wendell] disparou contra a equipe [policial], e houve revide", de acordo com os policiais que atuaram na ação. O homem que pilotava a motocicleta foi levado à 37ª DP para prestar esclarecimentos, segundo a Secretaria de Estado de Polícia Militar.
Após a troca de tiros, um grupo de manifestantes "ateou fogo em um ônibus na rua Paranapuã", diz a PM. O Batalhão de Rondas e Controle de Multidão (RECOM) e o Corpo de Bombeiros foram acionados. O 17° BPM foi informado "sobre uma criança baleada no interior da comunidade do Dendê e que foi socorrida por familiares".
Segundo a PM, "não havia operação policial no interior da comunidade." A corporação disse também que "o comando da unidade instaurou um procedimento apuratório para averiguar a conjuntura das ações e a corregedoria da corporação acompanha os trâmites." Segundo a PM, as imagens das câmeras corporais dos policiais serão disponibilizadas para auxiliar as investigações.
O caso está sendo investigado pela Delegacia de Homicídios da Capital e 37ª DP.