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Facções se aliam a PCC, CV e cartéis colombianos por rotas na Amazônia

"Proibido roubar na quebrada", diz mensagem atribuída à facção maranhense Bonde dos 40 Imagem: Mãe Crioula

Do UOL, em São Paulo

11/12/2023 04h00

Facções locais da Amazônia têm recorrido a alianças com PCC, CV e até com cartéis colombianos para manter rotas do tráfico na região, mesmo diante do domínio das organizações criminosas de São Paulo e Rio de Janeiro.

Monitoramento para evitar desvios

A facção paraense CCA (Comando Classe A) buscou alianças para manter uma das rotas do tráfico na Amazônia. Informações obtidas com a Polícia Civil e com o Ministério Público indicam que o grupo tem estabelecido parcerias com o PCC e com ex-guerrilheiros das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), há pelo menos oito anos.

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Os cartéis colombianos têm adotado uma estratégia de paz. "No passado, eles entravam em guerra para ter o controle do mercado das drogas. Hoje, com o aumento da produção, negociam com o mercado consumidor, com as facções brasileiras e ainda atuam no tráfico internacional", disse a promotora Ana Maria Magalhães de Carvalho, coordenadora do Gaeco do Ministério Público do Pará.

Os colombianos firmaram parceria com o CCA para reduzir desvios de cargas na rota do Rio Solimões até o Porto de Barcarena (PA), de onde a droga é enviada para a Europa. "Os cartéis terceirizaram a fiscalização dessas cargas, monitoradas por facções locais que acompanham o trajeto até que elas cheguem a seu destino", informou a promotora.

[As facções brasileiras] começaram a se aproximar de narcoterroristas nos países da Colômbia, Peru, Bolívia, onde os grandes patrões do narcotráfico gerenciam a cadeia produtiva da cocaína, desde a plantação e colheita da folha de coca até o envio e destino final ao continente europeu.
Trecho de documento do Gaeco, do MP do Pará

'Semelhante ao PCC', diz Gaeco

Investigações indicam que o CCA, também conhecido pela sigla 331, tem atuado em parceria com o PCC. O traficante Lucenildo Barbosa, líder da organização criminosa paraense, estaria escondido na Bolívia, país onde estão membros da cúpula da facção criminosa paulista.

Documento do MP, obtido pelo UOL, indica que o grupo paraense tem agido aos moldes da facção de São Paulo, expandindo a sua área de atuação. "[O CCA é] uma organização criminosa propícia a se tornar bem estruturada, semelhante ao PCC, podendo inclusive daqui a alguns anos ter status de cartel do narcotráfico", diz um dos trechos do relatório.

Corredor logístico

O Acre é considerado por investigadores um importante corredor de passagem de drogas para estados brasileiros e outros países. Segundo o coordenador do Gaeco do Ministério Público do Acre, Bernardo Albano, o estado se tornou um "corredor logístico para o tráfico de drogas" que alimenta principalmente a rota do Solimões no Amazonas.

Enquanto o Alto Acre, no norte do estado, é dominado pelo CV, o Baixo Acre, no sul, é alvo de disputas entre as organizações. "Os grupos utilizam a rota terrestre da BR-317 para comercializar drogas para a Bolívia e alimentar pontos de comércio de drogas em território local", diz Albano.

O aumento na produção de cocaína na região de Ucayalli, na fronteira com o Peru, preocupa o MP do Acre. "Significa um aumento da pressão criminosa, mais logística de produção da folha de coca e cooptação de pessoas em zona de produção", afirma Albano. Grupos peruanos também têm negociado com as organizações brasileiras em função do interesse na região.

CV, PCC e Bonde dos 13

CV, PCC e Bonde dos 13 são as organizações criminosas que disputam rotas e mercados de drogas no estado. A Ifara (Irmandade Força Ativa Responsabilidade Acreana) perdeu força nos últimos anos e seus membros passaram a atuar em outros grupos, segundo Albano.

Criado por lideranças locais, o Bonde dos 13 se inspirou na atuação da facção paulista. "Eles não chegam a ser dissidentes porque não queriam receber ordens de São Paulo. Mas nasceram sob influência da organização", diz Albano. Aliadas, as duas organizações disputam rotas com o CV nas regiões próximas às cidades de Brasiléia e Epitaciolândia.

Os "piratas" do Amazonas

No Amazonas, há uma disputa entre as principais facções do país, grupos colombianos, peruanos e organizações locais pelas rotas do narcotráfico pelos rios Solimões, Içá, Japurá, Envira, Negro e Javari. As informações fazem parte do estudo do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Ao longo desses rios, também atuam Os Crias e Cartel do Norte.

No curso do rio Solimões, os Piratas dos Solimões atuam como matadores de aluguel e promovem roubo de carregamentos de drogas de facções inimigas. A capital Manaus também é alvo de disputas entre CV, FDN, CDN e PCC.

Os municípios de Coari e Tefé garantem o escoamento de drogas para a rota do Solimões. Já Itacoatiara e a capital Manaus recebem navios que se deslocam para o exterior.

Manaus se tornou importante plataforma de exportação da droga para outros lugares do mundo, já que possui aeroporto internacional e porto de atracação de navios, que viajam para outros países e levam remessas de drogas escondidas nas cargas.
Relatório Cartografias da Violência na Amazônia Legal, do FBSP

Briga pela capital do Amapá

No Amapá, as facções criminosas têm intensificado as atividades no estado nos últimos oito anos. Há duas organizações locais: a FTA (Família Terror do Amapá) e a UCA (União Criminosa Amapaense). Antes disso, segundo fontes da polícia do estado, estavam presentes em território amapaense "gangues" que atuavam de forma desorganizada.

Para ampliar o domínio, a FTA mantém vínculo com a facção paulista e a UCA, com a organização nascida no Rio. Há uma disputa de pontos de comércio de drogas. As organizações concentram as disputas nas zonas norte e sul de Macapá.

Membros do PCC que chegam ao Amapá têm se dedicado a "treinar" integrantes da FTA, disseminando as mesmas regras seguidas em São Paulo e em outros estados cujo domínio é do PCC. Exemplo disso são alguns condomínios de bairros de Macapá em que as regras de convivência são determinadas pelos integrantes da facção FTA.

Facção maranhense em duas capitais

Com o domínio do tráfico em São Luís, capital maranhense com mais de 1 milhão de moradores, o Bonde dos 40 expandiu a sua área de atuação para o Piauí, há pelo menos sete anos. Lá, a facção se estabeleceu na capital Teresina, indica a Polícia Civil.

A droga que abastece essa organização criminosa vem da Bolívia, passando por rotas no Mato Grosso e em Rondônia, segundo investigações. "O Bonde dos 40 resiste à influência e ao poder das facções que vem de fora, dominando o tráfico de drogas em São Luís. No Piauí, ela disputa espaço com o Comando Vermelho", explica o delegado Ricardo Herlon Freire.

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