Jovem morto em BMW superou depressão e queria mudar de vida em SC, diz tio
Gustavo Pereira Silveira Elias, 24, mudou para Florianópolis sonhando em construir sua história e romper com a pobreza, afirmou o tio Bruno Nogueira.
O que aconteceu
Os planos acabaram em uma BMW onde o rapaz inalou monóxido de carbono até sofrer uma parada cardiorrespiratória fatal. Três amigos tiveram o mesmo destino: Karla Aparecida dos Santos, 19, Tiago de Lima Ribeiro, 21 (dono da BMW), e Nicolas Kovaleski, 16.
A suspeita é de que uma customização no veículo tenha interrompido os planos de quatro jovens. A Polícia Civil informou que uma modificação no escapamento resultou na entrada de monóxido de carbono no interior do carro e causou a intoxicação.
A morte aconteceu num momento em que Gustavo tinha certeza da chegada de dias melhores, contou o tio. O rapaz começou 2023 em depressão e se encheu de otimismo ao superar a situação, revela Bruno.
Florianópolis foi a cidade escolhida como ponto de partida de sua nova trajetória. O rapaz mudou pouco antes do Natal e iniciaria uma carreira trabalhando com redes sociais.
Gustavo saiu de Paracatu (MG) para morar com três amigos de infância e que lhe inspiravam total confiança. O tio diz que o trio, que também estava na BMW, foi crucial para a superação da depressão.
A mudança para Florianópolis não alarmou a família. Bruno explica que os parentes confiavam nestas amizades, na intenção de todos em progredir profissionalmente e, principalmente, nos valores repassados a Gustavo.
A outra companhia que o rapaz teria em Santa Catarina seria a da então namorada. Ela é o exemplo máximo do viés de mudança e crença no futuro que Gustavo experimentava.
O rapaz tinha acabado de noivar e planejava um ano novo com um estado civil novo.
[Ele] Tava no período de florescer e ganhar o mundo,
Bruno Nogueira, tio de Gustavo
Superando a pobreza
Morrer num acidente numa BMW sugere riqueza, mas essa não era a realidade de Gustavo. O tio conta que o sobrinho não passou necessidade, mas nunca teve direito a esbanjar.
O rapaz e seus três irmãos tinham acesso ao essencial para viver. O carro era de Tiago, também vítima de intoxicação
Faltava dinheiro para o lazer, viagens e acesso a bens materiais mais sofisticados. O rapaz queria romper essa barreira e dar uma vida melhor aos três irmãos: Gustavo era o segundo mais velho.
O pai dele abriu recentemente uma lojinha de conserto de celular. A mãe e os tios trabalhavam no comércio. Todos são descritos como gente trabalhadora e humilde.
Gustavo morou dois anos na casa de uma tia em Barroso, também Minas Gerais, mas distante 743 quilômetros da cidade do rapaz, Paracatu.
Nesta época, trabalhou no consultório de Bruno, que é dentista. O tempo junto aproximou ambos. O tio fez uma casa há dois anos e o quarto de hóspedes era chamado de quarto do Gustavo.
Os planos da dupla era o rapaz se estabelecer em Florianópolis e tirar uns dias para descansar na casa do tio. A viagem estava programada para outubro.
Bruno acredita que os laços criados foram facilitados porque ele conseguiu romper as limitações que a falta de dinheiro impõe. O tio rapaz se formou em odontologia, participou do MaterChef e construiu uma reputação nas redes sociais.
Bruno acrescenta que a educação formal nunca foi uma prioridade da família e Gustavo queria seguir o mesmo caminho: superar o ciclo de pouco estudo na juventude e pouco dinheiro na fase adulta.
O tio diz que um amigo foi para Florianópolis, fez dinheiro e convidou os demais para trocar o interior de Minas Gerais pelo que consideravam uma terra de oportunidades.Ele queria romper a linha da pobreza,
Bruno Nogueira
Rapaz carinhoso
Gustavo é descrito como pessoa bastante carismática. Lembrava das datas importantes, como aniversário, e se fazia presente. "Ele não era daquele tipo de pessoa morna. Ele era muito sociável e aberto", diz Bruno
Mas o tio ressalta que o sobrinho não buscava popularidade. Escolhia bem as amizades e não poupava atenção e carinho aos selecionados para estar em sua companhia.
Ambos conversavam na noite da virada. Foi um papo rápido para mostrar que um era importante para o outro. O telefonema terminou em desejos de feliz 2024. Mais tarde, os dois trocaram vídeos da festa da virada.
Não houve longas declarações de amor ou afeto porque eles se falariam no dia seguinte e por todo o ano que estava começando. Pelo menos o plano era este. "Foi só aquela troca de boas energias".
Mas na manhã de 1º de janeiro uma irmã ligou para Bruno: "Mataram o Gustavo envenenado em Balneário Camboriú". Desesperada, a dupla tentava entender o que aconteceu.
Bruno colocou o celular no viva-voz e foi para internet. Encontrou a notícia sobre os jovens mortos em um carro na rodoviária da cidade. Não era assassinato, mas era trágico.
Desolado, o tio postou nas redes sociais mensagens que trocou com Gustavo. Na conversa que eles mantiveram no Natal, Gustavo pediu que Bruno rezasse por ele.
[Gustavo] Era o centro das atenções, mas não de querer ser amigo de todo. Era seletivo e muito fiel aos amigos que escolhia. Era o primo preferido, o sobrinho preferido,
Bruno Nogueira
Família desolada
Gustavo era filho de pais separados, mas muito presentes, conta o tio. Ele acrescenta que o rapaz correspondia ao carinho recebido.
Diante da morte, os parentes estão desnorteados. A confiança de Gustavo em um futuro feliz e o ímpeto em correr atrás dos sonhos faz a morte dele ser mais difícil de aceitar, afirma o tio.
Ele será velado no Jóquei Clube de Paracatu hoje junto com os amigos.
O tio não sabe como vai ser a reação dos parentes.
A gente nem sabe o que vai fazer. Estamos esperando a chegada a do corpo. Ele tava no período de florescer e ganhar o mundo,
Bruno Nogueira