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Venezuelana foi estuprada e queimada antes de ser morta, diz polícia do AM

Do UOL, em Brasília

06/01/2024 18h29Atualizada em 07/01/2024 11h50

A Polícia Civil do Amazonas informou que, antes de ser assassinada, a venezuelana Julieta Ines Hernandez Martinez, 38 anos, foi estuprada e teve o corpo queimado. O casal que confessou o crime está preso.

O que aconteceu

A escalada de violência começou com o roubo de celular. A ideia teria partido de Thiago Angles da Silva, 32 anos. Ele passou os três dias anteriores fumando crack, informou o delegado Valdnei Silva, da 37ª Delegacia Interativa de Polícia de Presidente Figueiredo (AM).

O homem foi na direção de Julieta com uma faca na mão. Era cerca de 1h, na madrugada de 24 de dezembro, e a vítima dormia em uma rede esticada na área da pousada localizada em Presidente Figueiredo (AM).

Artista de circo, Julieta atravessava o Brasil de bicicleta. Saiu do Rio de Janeiro em direção a Puerto Ordaz, na Venezuela, onde sua mãe mora. No caminho, dormia onde era possível.

Na noite do crime, Thiago teria dado uma gravata e jogado a vítima no chão. Na sequência, mandou sua namorada amarrar os pés da viajante.

Deliomara dos Anjos Santos, 29 anos, teria recusado a ideia de roubar o celular, mas obedeceu. O casal também ficou com a bicicleta da venezuelana.

A artista e cicloviajante venezuelana Julieta Inés Hernández Martínez Imagem: Reprodução/Instagram

Estupro na cozinha

Os dois moravam em uma pousada precária em Presidente Figueiredo, segundo o delegado. Ele afirmou que a dupla vivia no imóvel de favor havia sete meses e o quintal estava cercado de mato e lixo.

Mesmo assim, o estabelecimento recebe pessoas que atravessam a pé ou de bicicleta a BR 174 — a estrada liga Manaus a Boa Vista. O estabelecimento fica perto de um local para banho de rio.

Única hóspede naquela noite, Julieta foi arrastada para a cozinha e estuprada. Deliomara disse, no depoimento, que o namorado usou a faca para obrigar a artista a fazer sexo oral nele, segundo a polícia.

Thiago falou que a companheira ficou com ciúmes. Segundo o delegado, existem pontos divergentes nas declarações de ambos, mas os dois confirmam o estupro e a forma violenta como a situação foi interrompida.

Deliomara ateia fogo em Julieta e Thiago

Fora de si, Deliomara atirou álcool na artista e no namorado e ateou fogo. A agressora permaneceu na cozinha.

Thiago socorreu Julieta, relatou o delegado. Ele apagou as chamas com um pedaço de tecido encharcado.

A ajuda foi passageira, e Thiago aplicou outra gravata na venezuelana. A interrupção na respiração foi tão longa que a artista desmaiou.

O homem saiu para buscar ajuda no hospital de Presidente Figueiredo, contou o delegado. Ele teve o tronco e a cabeça queimados. Deliomara ficou em casa com a venezuelana desacordada no chão da cozinha.

Hora da morte indeterminada

A artista foi arrastada por cerca de 15 metros e enterrada por Deliomara. O delegado explicou que o corpo foi depositado numa cova rasa. Um amontoado de lixo foi colocado para esconder a terra remexida.

O cadáver estava com as mãos e pés amarrados quando foi desenterrado. O estado avançado de decomposição não permitiu identificar se havia sinais de queimadura.

O delegado acrescenta que aguarda a perícia para saber o momento da morte. Existe a possibilidade de Julieta ter morrido na segunda gravata de Thiago.

O óbito também pode ter ocorrido porque a venezuelana foi enterrada viva. Não há garantia de que os exames conseguirão determinar quando a artista morreu.

Thiago não participou da ocultação

Thiago estava no hospital no momento em que a venezuelana foi enterrada. As queimaduras inspiravam cuidados e ele foi removido para Manaus, declarou o delegado. Ficou alguns dias internado (passou o Natal hospitalizado) até receber alta.

Depois ele voltou para a pousada e foi aceito pela namorada. Ambos continuaram a dividir o mesmo teto.

O casal tem cinco filhos pequenos. Todos foram entregues aos cuidados dos avós depois da prisão dos pais.

Julieta saiu do Rio de Janeiro em direção a Puerto Ordaz, na Venezuela, onde sua mãe mora. No caminho, dormia onde era possível. Imagem: Reprodução/@utopiamaceradaenchocolate no Instagram

Como foi a investigação

Sem notícias de Julieta desde 23 de dezembro, amigos e familiares ficaram preocupados. A polícia foi acionada, e fotos dela passaram a ser publicadas na imprensa local e nacional.

Investigadores visitaram as pousadas da cidade. Estiveram no local onde vive o casal, mas a única informação obtida era de que ela passou por lá no dia 23 de dezembro.

Também foi descoberto que Julieta tentou ficar em outros estabelecimentos. Como todos estavam lotados, só restou a pousada onde vivia o casal. Nem cama havia, e ela dormia numa rede na varanda.

A informação crucial para desvendar o caso surgiu na última sexta-feira. Um homem passava pelo local, na volta do trabalho, e desconfiou que o quadro da bicicleta jogado no meio do mato era parecido com o que vira nos jornais sendo da venezuelana.

O trabalhador avisou a Guarda Municipal, e a denúncia chegou ao delegado Valdnei Silva. Ele pediu para os agentes impedirem a saída do casal e foi para a pousada acompanhado de uma equipe de investigação.

Prisão em flagrante

Questionado sobre a situação, o casal caiu em contradição e confessou o crime. Os dois levaram os policiais ao ponto onde Julieta estava enterrada. Também mostraram que havia mais objetos dela perto do quadro da bicicleta.

Justiça converteu a prisão em flagrante em prisão preventiva em audiência de custódia. Ambos foram presos em flagrante por ocultação de cadáver.

Valdnei disse que o inquérito também apura estupro e homicídio duplamente qualificado, por meio cruel e motivo torpe. Ele aguarda os laudos das perícias no corpo e numa faca para concluir a investigação.

Thiago declarou à polícia que já cumpriu pena por tráfico de drogas. Na ocasião, ele morava em Roraima.

Deliomara negou que seja usuária de drogas.

Outro lado: o UOL tentou falar com a defesa dos suspeitos, mas até o momento eles não têm advogado, conforme consta nos autos.

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