Rainha de bateria perde voo após revista; PF nega discriminação
Colaboração para o UOL, em São Paulo
08/01/2024 18h01
A rainha de bateria da Acadêmicos de Realengo, Cíntia Barboza, precisou ser submetida a inspeção corporal para comprovar que não levava drogas dentro do estômago e perdeu o voo que faria para o Benin, na África, onde participaria de um evento.
O que aconteceu
O voo sairia na madrugada de quinta-feira (4). A abordagem ocorreu por volta das 23h da última quarta-feira (3), no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, quando faria uma conexão para o país africano. Ela havia partido horas antes do Rio de Janeiro.
Cíntia relatou o ocorrido nas redes sociais. "Fui abordada, como se estivesse em um crime. Contestei, falei da minha situação. Meus anos de viagem. Falei do meu trabalho, da minha profissão. Falei da questão familiar, falei que meu irmão também é agente federal. Mostrei totalmente a minha cara para eles. Só que acabei perdendo o voo. E aí, eles vão fazer mais o quê? Falou que eu só poderia viajar no outro dia", contou.
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Revista incluiu inspeção corporal. A mulher foi encaminhada ao Hospital Geral em Guarulhos para inspeção corporal pelo aparelho body scan. Outras cinco pessoas passaram pelo procedimento. "Tive que seguir com aquelas pessoas, com todos. Fizemos todos os exames. Quando foi às 8h, eu já estava exausta. Fui deitar um pouco. Passei o dia inteiro de novo no aeroporto. Para quando chegar à noite eu não conseguir viajar porque não tinha mais passagem", acrescentou.
Cíntia não conseguiu embarcar a tempo de participar de evento. "Qual é a da Polícia Federal? 'Olha, nós abordamos ela, nós precisamos de uma vaga para a noite'. Quando eu fui lá, com os papéis que eles me deram, já não tinha mais vaga", concluiu.
Em nota, a escola de samba afirmou que sua rainha foi vítima de racismo. "A Acadêmicos de Realengo vem por meio desta repudiar a ação e o racismo sofrido por nossa rainha de bateria no Aeroporto de Guarulhos por parte da Polícia Federal. Nossa escola não tolera e jamais apoiará qualquer tipo de preconceito, racismo, homofobia e qualquer intolerância contra o ser humano".
Possíveis abusos serão apurados, diz PF
PF diz que Cíntia foi submetida a procedimento de rotina. A corporação informou que a mulher e outras cinco pessoas foram abordadas pela Polícia Federal no Aeroporto Internacional de Guarulhos, na última quarta-feira (3), por suspeita de tráfico internacional de drogas, e que a ação faz parte da rotina de fiscalização do órgão.
De acordo com a PF, das seis pessoas abordadas, três transportavam drogas no estômago. Como Cíntia não levava entorpecentes, foi liberada. A corporação também negou discriminação e afirmou que possíveis abusos serão investigados.
O UOL tenta contato com a rainha de bateria para pedir um posicionamento e saber se pretende tomar alguma medida legal, mas não obteve retorno. Em caso de resposta, esta matéria será atualizada.
Veja a íntegra da nota da PF
A Polícia Federal informa que no dia 04.01.23, no Aeroporto Internacional de Guarulhos, militares que atuam na Garantia da Lei e da Ordem (GLO) nos portos e aeroportos do Rio de Janeiro e de São Paulo, apresentaram na Delegacia da PF, seis passageiros do voo ET507 com destino à Etiópia, suspeitos de transportarem entorpecentes dentro do próprio corpo. Entre os passageiros estava a cidadã brasileira Cintia Francisco Barboza.
A PF, atuando como polícia aeroportuária, a fim de combater o tráfico internacional de entorpecentes, conduziu tais pessoas ao Hospital Geral em Guarulhos para inspeção corporal através do aparelho body scan.
Três desses passageiros efetivamente possuíam cápsulas com drogas acondicionadas no sistema digestivo e foram presos em flagrante. Após a realização da inspeção, Cintia Francisco Barboza foi liberada.
A PF repudia e combate todo tipo de tratamento discriminatório, referente à etnia, raça, gênero, idade, nacionalidade, orientação sexual, condição social ou religião.
Eventuais abusos ou falhas na condução do procedimento serão apurados.