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Garota com paralisia cerebral fica com água até o pescoço após chuva no RJ

Tainá Vitória, 18, tem paralisia cerebral. Depois desta foto, a água chegou ao pescoço dela, diz a mãe Imagem: Arquivo Pessoal

Do UOL, em São Paulo

15/01/2024 17h05Atualizada em 16/01/2024 08h30

A dona de casa Lucimar Gomes, 49, entrou em pânico quando a água da chuva que caiu em Acari, zona norte do Rio, invadiu sua casa, e ela não conseguiu socorrer a filha de 18 anos, com paralisia cerebral, que ficou com água "até o pescoço". O UOL conversou com mulheres que perderam tudo após o temporal que deixou ao menos 12 mortos.

O que aconteceu

Lucimar conta que não acreditava que sua casa seria inundada porque fica na parte alta da comunidade. Ela mora com a filha Tainá Vitória na parte térrea da casa. No andar superior, mora a mãe idosa.

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Por volta das 19h de sábado a chuva engrossou, mas ninguém no grupo de amigos no celular mostrava preocupação. Por volta da meia-noite, porém, os avisos de perigo começaram.

Pela primeira vez, sua casa inundou. "Foi muito rápido. Começou a sair água pelo vaso, entrar pelas portas, pelas beiradas da parede", relata. De repente, a geladeira e o freezer da mãe, que ficam no andar térreo, "boiaram, impedindo a passagem para eu subir para a casa dela com minha filha".

Tainá nasceu prematura, com paralisia cerebral. É cadeirante e não fala. "Até para comer depende de mim", diz Lucimar.

Eu não consegui tirar minha filha da sala... Foi horrível! Na foto a água estava na cintura dela, mas depois a água foi até o pescoço da minha filha, e entrei em desespero.
Lucimar Gomes, mãe de Tainá

Por volta das 4h da madrugada, o nível da água subiu. "Foi subindo e subindo, e às 6h a gente pediu socorro", conta. "Vieram dois rapazes e ajudaram a gente."

Eles quebraram portas e janelas, entraram na casa e tiraram a geladeira da frente. "Meu maior desespero é que minha filha não consegue andar e ela pesa um pouquinho. Eu não conseguia colocá-la na escada, mas esses rapazes me ajudaram", conta a mãe. "Fomos salvas." Para ajudar Tainá, o PIX é 21991359123.

Mulher salva filho de 13 dias

Amanda repousava com o filho Mathias, de 13 dias, no bairro de Santa Maria, em Belford Roxo, a 37 km da capital. No final da noite, ela e o marido notaram que a água havia chegado ao portão e que era hora de deixar a casa.

Amanda no momento em que sai de casa com o filho de duas semanas de vida Imagem: Arquivo Pessoal

Foi quando "começou a correria" para salvar o que dava. "Foi coisa de 30 minutos, e a água já estava no meu joelho", diz Amanda. "Meu esposo correu para me tirar de casa, mas pela frente não dava mais, porque estou de resguardo e a água pegaria na altura da cesariana."

Saí com meu filho por trás, onde o quintal é mais alto. Me abrigaram em um salão de festa até o socorro chegar com bote e me resgatar por volta das 23h.
Amanda Rodrigues, 34 anos

As roupas e os móveis do bebê se foram. "Só salvou a cama porque meu marido conseguiu subir", diz ela, que perdeu fogão, máquina de lavar e geladeira. A água ficou na altura do tórax. "As roupas do bebê, o guarda-roupa e a cômoda se perderam. Comprei há dois meses, parcelei em 16 vezes e perdi tudo."

"Perdemos dois carros"

Também com filha pequena, Letícia Costa Santos Patitucci, 28, perdeu os dois carros. Ela conta que a chuva no bairro Sargento Roncalli (Belfod Roxo) começou às 14h de sábado. Por volta das 23h30, ela, o marido e a sogra, que vive nos fundos, decidiram pegar a filha de 2 anos e sair de casa.

Letícia com a filha e o marido Imagem: Arquivo pessoal

Quando deixaram a residência, parte do bairro já estava alagado. "A rua principal do Roncalli estava com água até a perna", diz Letícia.

A família não voltou para casa até agora. "Ainda não conseguimos voltar porque as ruas estão cheias de água", afirma.

Perdemos geladeira, sofá, algumas coisas da minha filha e nossos dois carros, um Focus e um Siena, cobertos pela água.
Letícia Patitucci, 28

Presas em casa

Camilla com a mãe, Rejane Imagem: Arquivo Pessoal

Família está há dois dias sem sair de casa. A psicóloga Camilla do Nascimento Pedreira, 25, mora com a irmã na parte de cima de uma casa. Na parte de baixo, mora a mãe, Rejane, que está com trombose. Desde que as chuvas começaram, na tarde de sábado, elas não conseguiram mais sair de casa.

"Percebi que a coisa era séria quando vi da janela a rua submersa", diz Camilla. "Não conseguimos sair de casa até agora. As ruas estão muito cheias."

Dona Rejane, que está medicada, perdeu tudo. "Cama, sofá, guarda-roupa, geladeira e fogão", diz. O prejuízo foi grande, apesar de a casa térrea ter sido aterrada após as fortes chuvas de 2009, quando também perderam tudo.

Acho que dessa vez foi pior. Se não tivesse aterrado, teria ficado acima da janela. Meus avós foram resgatados de barco!
Camilla, 25

Com a comida acabando, Camilla pensa em enfrentar a rua alagada. "Vou tentar ir a algum lugar para comprar água e alguns pães porque desde sábado não vamos à rua. Vou tentar ir andando, mas tem pessoas que só saem com barco. Está um caos", diz.

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