Mulher indígena é assassinada na Bahia e dois fazendeiros são presos
Aurelio Nunes
Colaboração para o UOL em Salvador (BA)
21/01/2024 21h12
Uma mulher pataxó foi assassinada hoje em Potiraguá, sul da Bahia, após fazendeiros tentarem expulsar indígenas que ocupavam uma fazenda na região. Dois homens foram presos sob a suspeita de ligação com o homicídio.
O que aconteceu
Maria de Fátima Muniz, conhecida como Nega Pataxó, foi baleada e morreu. Ela chegou sem vida à unidade básica de saúde do município de Potiraguá, segundo a secretária de saúde do município, Keila Teixeira.
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O cacique Nailton Pataxó, irmão de Nega Pataxó, também foi baleado e encaminhado para cirurgia. Não há informações sobre o estado de saúde dele.
Dois fazendeiros foram presos sob a suspeita de terem atirado, segundo a Secretaria de Segurança Pública do Estado da Bahia (SSP). Eles portavam armas de fogo no momento da detenção.
Os fazendeiros chegaram atirando. Na confusão, quem conseguiu fugiu. Meu filho e minha neta estão entre os que ainda não apareceram.
Manoel Muniz, irmão de Nega Pataxó e do cacique Nailton Pataxó
Disputa por terra
Nega Pataxó e Nailton Pataxó integravam um grupo de cerca de 50 indígenas que ocupavam uma fazenda em Potiraguá desde quinta-feira. Segundo o irmão das vítimas, Manoel Muniz, a ocupação tinha o objetivo de pressionar as autoridades "a devolver o que é historicamente nosso". Indígenas de cinco aldeias da região participavam do movimento.
Há mais de 20 anos, indígenas e fazendeiros estão em disputa na região de Potiraguá. O conflito se intensificou no ano passado, devido à votação do Marco Temporal no STF (Supremo Tribunal Federal).
A fazenda ocupada pelos pataxó está fora dos 54 mil hectares já demarcados como reserva indígena. Mas os indígenas dizem que estudos antropológicos comprovaram que a área é historicamente ocupada pela etnia.
Após a ocupação, um grupo chamado "Invasão Zero" convocou para a "retirada dos índios" da fazenda neste domingo. O chamamento citava uma ação "ordeira e pacífica" para "reintegração da fazenda do Sr. Américo Almeida". O UOL tentou entrar em contato com o grupo, mas não obteve resposta.
Imagens compartilhadas hoje por integrantes do grupo mostram que eles se concentraram próximo da área ocupada pelos indígenas. Em seguida, se dirigiram para a ocupação.
Indígenas e fazendeiros mencionaram a participação da polícia na tentativa de desfazer a ocupação. A SSP-BA nega. Diz ainda não ter conhecimento de nenhuma ordem judicial de reintegração de posse no local.
Um fazendeiro foi atingido por uma flecha e recebeu atendimento médico, segundo a Secretaria de Segurança Pública do Estado da Bahia.
Outros pataxós estão desaparecidos, de acordo com Manoel Muniz.