Quanto ganha um padre? Veja como vocação vira 'profissão'
Ranieri Costa
Colaboração para o UOL, em Sumaré (SP)
29/01/2024 04h00
Padres e bispos católicos sempre despertaram bastante curiosidade. Mas como funciona essa profissão? Eles recebem um salário para isso? Antes de mais nada, é preciso entender como funciona o exercício de autoridade da Igreja Católica Romana, que é liderada pelo papa Francisco.
Os fiéis católicos são divididos em duas categorias:
- fiéis leigos
- fiéis clérigos (membros do clero)
Para participar desse segundo grupo é necessário ser homem e receber o sacramento da ordem de serviço, que é dividido em três graus. Felipe Zangari, teólogo católico e mestre em ciências da religião
Os graus da ordem de serviço
O primeiro grau é o do diaconato, seja ele permanente ou transitório. No primeiro caso quem recebe esse sacramento, em sua maioria, são homens casados. Ou seja, esse diácono não se tornará padre, a menos que fique viúvo e receba autorização do seu bispo. Já o diaconato transitório é composto por aqueles que estão se preparando e desejam se tornar padres, no rito romano. Nesse caso, apenas homens solteiros estão aptos —a Igreja Católica Romana não ordena mulheres.
O segundo nível é o do presbiterado. Ou seja, quando o diácono transitório é ordenado padre.
O terceiro grau do sacramento da ordem é o do episcopado, destinado para padres que se tornarão bispos. Zangari conta que, em todos esses casos, apenas o bispo está autorizado para ordenar essas pessoas ao ministério.
É um bispo que vai ordenar um diácono, um padre. E são três bispos, com a autorização do papa, que vão ordenar um novo bispo.
Desse modo, o clero da igreja é formado por diáconos (permanentes e transitórios), padres e bispos. Contudo, há ainda uma distinção entre os membros do clero, sendo compostos por dois grupos: o regular e o secular. Ambos os grupos estão sempre sujeitos a autoridade do papa.
- Regular: é aquele que está sujeito a uma regra de conduta própria --os padres e diáconos que pertencem a congregações religiosas, jesuítas, franciscanos, beneditinos.
- Secular: é formado por padres que estão vinculados ao território das dioceses e estão sujeitos a autoridade dos bispos locais.
Quanto ganha um padre?
Sim, padres recebem um pagamento pelo seu trabalho. A remuneração é chamada de "côngrua" (termo do latim que significa "adequado" ou "conveniente") e pode variar significativamente conforme a localização geográfica, tamanho da paróquia e das políticas específicas da igreja ou diocese onde estão filiados.
Em algumas igrejas, por exemplo, os padres podem receber um salário regular, além de benefícios e moradia fornecidos pela própria igreja ou pela diocese. Em outras situações, os padres podem depender principalmente de doações da comunidade para a manutenção do seu sustento.
Voto de pobreza. É uma prática em algumas ordens religiosas — membros do clero regular — e não se aplica obrigatoriamente para os sacerdotes do clero secular.
Ou seja, o salário de um padre ou bispo vai ser determinado pela realidade financeira da igreja e da diocese na qual ele está filiado. Na arquidiocese de Campinas (SP), a remuneração, de acordo com Zangari, pode variar de três a seis salários mínimos. Já sobre os vencimentos dos bispos, o valor tende a ser um pouco maior.
Como se tornar um padre?
Em primeiro lugar, o candidato deve estar em comunhão com a Igreja Católica e por ela deve ser reconhecido como alguém chamado ao sacerdócio. Após essa decisão pessoal e da igreja, o candidato vai para o seminário e se formará em propedêutica —matéria introdutória —, filosofia e teologia. Depois disso, há um período em que, já formado, ele auxilia e participa mais ativamente da rotina da igreja. Em seguida, poderá ser ordenado padre.
Todo o processo leva em média nove anos para os que desejam ingressar no clero regular, e pode passar de 11 anos para aqueles que optam pelo caminho do clero religioso, conta Zangari. Todas as despesas acadêmicas dos seminaristas são custeadas pela própria igreja ou, em alguns casos, pela diocese.
Atualmente, a Igreja Católica sofre com um período de poucos candidatos que procuram seguir a carreira ministerial. Se no passado os seminários tinham salas cheias, hoje a realidade é bastante diferente. O padre Fábio Fernandes, coordenador da pastoral vocacional na arquidiocese de Campinas, comenta que na arquidiocese a média atual é de quatro padres ordenados a cada ano.
Já com relação ao seminário, ele conta que o curso tem atualmente 35 alunos ao todo —somando as três etapas do curso. "Apesar das mudanças históricas, das dificuldades próprias do nosso contexto, a gente sempre tem perspectivas de esperança, porque Deus não vai deixar de chamar aqueles com os quais ele quer contar", afirma Padre Fábio.