Sem papa e com pão: ortodoxos têm rituais bem diferentes dos católicos
Ranieri Costa
Colaboração para o UOL, em Sumaré (SP)
07/02/2024 04h00
O cristianismo passou por divisões significativas em sua história. Em 1054, ocorreu o que foi chamado de "O Grande Cisma" e houve a separação entre Igreja Católica Apostólica Romana e Igreja Católica Apostólica Ortodoxa.
Quais as diferenças?
Ambas compartilham muitas crenças e práticas fundamentais do cristianismo, mas são denominações religiosas diferentes. Tal diferença se dá por questões doutrinais e, principalmente, pelo não reconhecimento do papa como líder por parte dos ortodoxos.
Na tradição ortodoxa, não há uma figura central com a mesma autoridade do papa. Em vez disso, a liderança é descentralizada, com vários patriarcados independentes.
Questionamentos à figura do papa. A Igreja Católica Romana reconhece a primazia e a infalibilidade papal em questões de fé e moral quando o papa fala da ex cathedra (do trono papal). Ou seja, em sua fala não há erros e o que é dito por ele deve ser acatado —e não questionado— pelos católicos. Já para os ortodoxos, tal crença a respeito da figura do papa não é aceitável.
A compreensão do Espírito Santo também é diferente. Para católicos romanos, o Espírito Santo procede do Pai e do Filho. Já os católicos ortodoxos afirmam que o Espírito Santo procede apenas do Pai.
Há diferenças também na tradição teológica e litúrgica. A tradição litúrgica ortodoxa é caracterizada por uma ênfase na experiência mística e nas tradições antigas. Uma das diferenças é que católicos usam a hóstia e ortodoxos usam pão fermentado.
Outra divergência está no símbolo da fé dos cristãos: a cruz. O crucifixo ortodoxo tem oito braços, e os dois pés de Jesus estão atravessados por cravos. O braço superior mais curto é interpretado como a placa que Pilatos mandou colocar na cruz de Jesus, com a frase "Jesus, Rei dos Judeus" —história que pode ser encontrada no Evangelho de Mateus. Já os braços horizontais iguais trazem o significado da dupla natureza de Cristo, ao mesmo tempo humana e divina. Tal objeto de fé tem origem na tradição artística bizantina.
Padre casado?
O celibato é imposto pela Igreja Católica como condição para o exercício do ministério sacerdotal na igreja. A proibição, que é antiga, poderá ser revista segundo o próprio papa Francisco.
Para ortodoxos, a decisão deve ser tomada antes da ordenação. O padre Caio Queiroz, sacerdote da Igreja Ortodoxa, explica em suas redes sociais que, ao final do seminário, o candidato ao ministério sacerdotal ortodoxo fará uma escolha entre o celibato ou o matrimônio. "Nunca houve proibição do matrimônio para os sacerdotes", explicou em um dos vídeos. O que não é permitido, nesse caso, é um padre que depois de ordenado ao ministério decida se casar. Essa decisão, portanto, precisa ser feita antes da ordenação.