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'Vazou esgoto?': cheiro de cocô paira no Rio e 'culpada' não causa suspeita

Sterculia foetida é vista não só no Rio, mas em várias cidades do Brasil Imagem: Museu Nacional da UFRJ

Priscila Carvalho

Colaboração para o UOL, do Rio

24/02/2024 04h00

Não só achava que tinha pisado, como achava que alguém tinha feito cocô perto.

Um cheirinho de cocô na rua chamou a atenção de Luisa Rezende, moradora do bairro de Vila Isabel, na zona norte do Rio. E de outras pessoas que passam pelas ruas da capital fluminense.

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O "culpado" pelo odor, no entanto, não é um animal e nem uma pessoa, mas uma insuspeita árvore.

Como é a árvore fedorenta

A Sterculia foetida é uma espécie que libera um cheiro semelhante a fezes por vários locais da cidade.

Odor é liberado de pequenas glândulas presentes na base das pétalas Imagem: Cogic/Fiocruz

Sterculia foetida L. (nome científico) é uma planta que pertence à família Malvaceae e é conhecida popularmente como chichá-fedorento, oliva-de-java, castanha-da-índia e chichá.
Sebastião Neto, biólogo do Departamento de Biologia Vegetal da Universidade Estadual do Rio (Uerj)

Ela é bem comum nas ruas do Rio, e deixa alguns moradores intrigados, pois não sabem de onde vem o odor peculiar. "Comecei a reparar mais depois que um amigo comentou que o cheiro vinha das árvores. A gente se acostuma com cada coisa nessa cidade", brinca Luisa.

A carioca conta que o fedor é muito comum na região da Praça Sete, na zona norte, por onde passa com frequência. Mas é possível perceber também em bairros como Glória, Catete, Flamengo, Botafogo e Campo Grande.

A planta tem origem na Índia e também pode ser vista em outras partes do Brasil. Segundo Neto, a espécie está presente no Nordeste (Alagoas, Bahia, Pernambuco, Piauí) e no Sudeste (Minas Gerais, Rio de Janeiro). É utilizada como árvore ornamental e de sombra.

A carioca e designer Thaís Lunni também já estranhou o odor da árvore. Moradora do bairro do Catete, na zona sul da capital, ela conta que demorou a acreditar que um cheiro tão ruim vinha de uma planta.

Desci perto da Praça Paris (no bairro da Glória) e, meu Deus, achei que era vazamento de esgoto. Aí minha amiga que estava comigo me contou que eram árvores. Demorei para acreditar.
Thaís Lunni

Mas por que o cheiro de cocô?

O cheiro é a maneira que a planta encontra para se reproduzir. O odor atrai moscas e abelhas, que atuam como polinizadores e garantem a perpetuação da espécie. Como as árvores não se deslocam, precisam atrair animais de muito longe para carregar seu pólen. Por isso, têm um odor tão forte.

A Sterculia foetida consegue chamar a atenção de insetos que estão a centenas de metros de distância.

Neste caso, o odor é tão forte e característico que deu origem ao nome da espécie 'foetida' que significa 'fedida' em latim.
Rodrigo Kersten, biólogo, doutor em engenharia florestal e professor do curso de ciências biológicas da PUC-PR

O odor é liberado de pequenas glândulas presentes na base das pétalas, chamadas de nectários. Além disso, a árvore é considerada uma espécie invasora, pois consegue se reproduzir e se espalhar por áreas de ambiente natural e não apenas em locais de cultivo.

Odor piora no inverno

O odor desagradável é mais comum no final do inverno, embora também possa ser perceptível no verão. "A planta começa a perder as folhas e inicia a produção de flores que vai até o meio da primavera", diz Neto.

E é preciso ter cuidado ao tocá-la, pois o cheiro também pode permanecer nas mãos ou em outras partes do corpo, dependendo do contato.

Apesar da bela arquitetura da árvore, o forte cheiro de coisa podre evita que as pessoas se aproximem das plantas e principalmente das flores. Mas, por se tratar de uma substância química produzida nas flores, um esfregaço das flores nas mãos pode deixar algum odor sim. Sebastião Neto, da Uerj

É preciso conviver com o cheiro

E tem solução para amenizar o cheiro? O processo de perpetuação da espécie é normal. E, em último caso, a resposta para o problema seria a substituição por outras plantas.

Não há o que fazer quanto a isso. A única solução seria sua substituição por outras espécies, nativas, como o cacau ou a paineira.
Rodrigo Kersten, da PUC-PR

A dica, então, é evitar o contato com a árvore para não correr o risco de também ficar com cheiro de fezes.

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