OPINIÃO
Reinaldo: Caso Porsche escancara o Brasil dos pobres e o Brasil dos nhonhôs
Colaboração para o UOL
25/04/2024 16h07Atualizada em 25/04/2024 17h50
O colunista Reinaldo Azevedo afirmou no Olha Aqui! desta quinta (25) que o caso do dono do Porsche, que matou um motorista de aplicativo em São Paulo no mês passado, é um típico caso de diferença de tratamento entre pobres e ricos no Brasil. A Polícia Civil pediu a prisão de Fernando Sastre de Andrade Filho, que saiu do local do crime com aval de policiais militares que atenderam a ocorrência e sem fazer o teste do bafômetro.
Esse caso significa a cloaca moral do Brasil, a pior coisa que pode acontecer no país. É o país dos fidalgos. Fidalgo, a rigor, quer dizer 'filho de algo, filho de alguém'. É visível que a condição social do criminoso [pesou para a sua liberação]. Que tem havido ali homicídio eventual com dolo - ele correu o risco de produzir o resultado que ele produziu, ou seja, a morte de um homem - é inequívoco. É inequívoco quando tudo indica por testemunhos e por imagens que ele bebeu antes de dirigir; resolveu dirigir embora não estivesse em condições - razão pela qual o amigo resolveu ir junto. Já se sabe que ele chegou a conduzir o Porsche a 156 km/h numa pista em que a velocidade máxima é de 50 e que, na hora da colisão, estava a 114 km/h. A polícia deliberadamente não cumpre o seu papel, com a presença da mãe [de Fernando] ali. Houve uma postura reverencial dos policiais diante da classe superior, da elite brasileira. Não era um pobrezinho que estava ali. O pobrezinho, na verdade, estava morto. Reinaldo Azevedo, colunista do UOL
Reinaldo destacou a diferença de tratamento dispensada a Fernando pelos policiais militares e criticou a reação do motorista do carro de luxo.
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Ele sai do local com a concordância dos policiais, sem fazer o exame, o bafômetro. O policial faz o registro e diz pra mãe: 'Olha aqui, vê se é isso mesmo'. A resposta do rapaz é assombrosa, porque ele diz: 'Eu não sei, de repente aconteceu, do nada'. Estou dirigindo meu Porsche na via, sóbrio, respeitando o limite de 50 km/h e, do nada, aconteceu. Foi isso? Foi do nada? Foi um evento sem causa? Não, não foi. Lembrando que ele tinha recuperado a carta [carteira nacional de habilitação] fazia pouco tempo. O delegado pede a prisão preventiva. Acho que deve ser decretada a prisão preventiva e não sei se a Justiça vai fazer. O delegado alega manutenção da ordem púbica, porque ele solto representa um sinal ruim para a sociedade de impunidade em razão da condição dele. Reinaldo Azevedo, colunista do UOL
Há esse aspecto, mas acrescento um outro: eu noto uma disposição para o não cumprimento das regras do jogo. Já tinha perdido a carta, havia recuperado, dirigiu à revelia dos próprios amigos. Houve duas claras artimanhas pra fugir de complicações: dá um jeito de deixar a cena do crime sem fazer o bafômetro, alegar que vai ao hospital e não ir. O estado tem todo o direito nesse caso de achar que existe o risco de a lei não se cumprir, porque o implicado tem condições econômicas, tem condições sociais de eventualmente tentar impedir o cumprimento da lei. Esse risco existe, eu acho, considerando o conjunto da obra. Tem endereço fixo, tem profissão conhecida, esses elementos perderam importância diante do conjunto de coisas que indicam a tentativa de driblar a efetivação da lei. E o estado não tem nenhuma razão para apostar que não vá continuar a fazer isso. Reinaldo Azevedo, colunista do UOL
Para Reinaldo, esse caso é a prova de que a polícia tem reações que variam segundo a condição social dos suspeitos.
A ideia do evento fantástico, aquilo que aconteceu ali, pra ele, não é o resultado de um conjunto de decisões erradas, de transgressões legais, não. Pra ele foi do nada. Foi muito sério e expressa o que há de pior no Brasil, de como se aplica a lei para o pobre e como se aplica para o nhonhô. Ali é a aplicação da lei para o nhonhô. Temos visto como passou a se comportar a polícia de São Paulo, a quantidade de maus exemplos é uma coisa assombrosa em tão pouco tempo. Nós conhecemos todos os maus exemplos com os pobres. E agora nós conhecemos o mau exemplo com um rico. Há algo de profundamente errado, de conceitualmente errado, de moralmente errado nessa polícia [de São Paulo] em particular e no Brasil como um todo, porque são tratamentos absolutamente inaceitáveis e desiguais. Reinaldo Azevedo, colunista do UOL
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