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Ela foi sugada por redemoinho no rio Pardo (RS): 'Não pensei que ia morrer'

Luciano Nagel

Colaboração para o UOL, em Porto Alegre

03/05/2024 09h07

A dona de casa Viviane Roselei Blak, 46, foi arrastada pelas águas na tarde chuvosa desta terça-feira (30), no interior do Rio Grande do Sul. A forte correnteza do rio Pardo a carregou por cerca de 2 km. Ela sobreviveu sem ferimentos graves.

O flagrante foi registrado pelo jornalista Paulo Rocha, da Rádio Gaúcha, enquanto cobria as enchentes na cidade de Candelária, a 155 km de Porto Alegre. As imagens mostram Viviane sendo levada pela fúria das águas.

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Na noite desta quinta-feira (2), Viviane, que reside em Santa Cruz do Sul, falou com a reportagem do UOL. Por telefone, ela contou que foi, na companhia do seu genro, ver como estava a situação da casa da sua filha, que havia sido alagada.

Ao chegar ao local, Viviane se deparou com a água subindo rapidamente, sem correnteza, apenas uma inundação. Com o genro ao seu lado, ambos entraram na água, que já cobria os joelhos e a cintura.

A cada passo, o nível d'água subia, mas tudo parecia tranquilo. Quando a água atingiu o nosso pescoço, a intenção era nadar até a casa, mas meu genro disse que não sabia nadar. Imagina: um cara três vezes maior que eu? Não ia conseguir segurá-lo e ele poderia me puxar pra baixo. Viviane

Na ocasião, os dois se distanciaram e foram levados pela correnteza. Viviane o perdeu de vista.

Arrastada pela fúria das águas ''cor de chocolate'' do rio Pardo, Viviane presenciou momentos de terror. No meio do rio, longe das margens, ela afirma que foi sugada por um redemoinho que a manteve submersa por longos segundos.

Ponte Rio Pardo Imagem: Reprodução/ Instagram/ @prefeiturariopardo

Ao retornar à superfície, ela lembra que mal teve a chance de recuperar o fôlego antes de ser novamente sugada pelas profundezas do rio.

Engoli bastante água, mas jamais pensei que ia morrer. Nasci e aprendi a nadar neste rio. Tive momentos de pânico e calma e me agarrei em uns galhos e troncos de árvores que apareceram mais adiante. A partir dali, comecei a gritar por socorro. Viviane

Viviane foi resgatada por um morador local e encaminhada imediatamente ao hospital para receber atendimento médico. Já o seu genro, foi encontrado com vida, em boas condições de saúde, na comunidade de Vale do Sol, a 80 km de Candelária.

Loja perdida e carros boiando

''A força da correnteza d'agua arrastava carros e levava tudo que tinha pela frente aqui no centro da cidade, inclusive as vitrines das lojas 'explodiam' com a pressão. Foi horrível, parecia cena de um filme de ficção'', conta a empresária Luci Haag, 35, que reside há um ano no município de Três Coroas, no Vale do Paranhana (RS).

A cidade, com pouco mais de 24 mil habitantes, conforme o Censo de 2022 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), foi cenário, nas últimas 48 horas, da pior enchente registrada na história, segundo relatos de comerciantes, moradores e prefeito.

Cemitério de Arroio Grande, no Rio Grande do Sul Imagem: Arquivo Pessoal

O rio Paranhana, que corta a cidade, transbordou devido às fortes chuvas que afetam o estado do Rio Grande do Sul desde o último dia 30 de abril. Até às 18h desta quinta-feira (2), 29 pessoas morreram 60 estão desaparecidas e 36 feridas. Os dados são Defesa Civil do estado do Rio Grande do Sul.

Até a madrugada desta quinta-feira (2), a gaúcha Luci Haag possuía uma franquia da loja de chocolates Cacau Show, localizada no centro da cidade. Ela conta que adquiriu a loja há cerca de um ano, quando junto com seu marido, decidiu investir R$ 280 mil no negócio e se mudar para Três Coroas.

Antes disso, o casal, que tem um filho pequeno, morava em Novo Hamburgo, e Luci trabalhava como gerente comercial na indústria têxtil de seu pai.

Nós estávamos acompanhando as informações das enchentes, e fomos para a nossa loja levantar as mercadorias para não molhar, eram 3h30 da madrugada, e a água começou a subir rapidamente. A gente colocou espuma expansiva para tentar segurar a água, mas não deu. Armários foram inundados, os freezers, as máquinas também e perdemos tudo. Do lado de fora, víamos os carros boiando, sofás, geladeiras. Luci

De acordo com a proprietária, a loja de chocolate está localizada a uma distância considerável do rio Paranhana. No entanto, um estreito arroio nas proximidades pode ter sido represado, desencadeando uma grande enchente com correntezas intensas na área central.

Estacionamento virou piscina

Luci e sua família, que moram no quarto andar de um prédio no centro da cidade, presenciaram cenas de terror nesta quinta-feira (2). As fortes chuvas provocaram o alagamento do estacionamento do edifício, deixando os veículos dos moradores submersos.

"A água subiu rapidamente e, em questão de minutos, o estacionamento se transformou em uma piscina", relatou Luci, ainda abalada com o ocorrido. "Meu carro tem seguro contra enchentes, mas o do meu marido, infelizmente, não. É difícil encontrar palavras para descrever o que estamos sentindo neste momento", completou.

As águas da enchente ainda não baixaram completamente, mas a dor da tragédia já se mistura com a amargura de outro tipo de sofrimento: a ganância do ser humano. Luci relata que testemunhou pessoas saqueando produtos de lojas atingidas pela inundação.

"É inacreditável, se aproveitam da situação para levar o que podem das lojas", desabafa a empresária, que é grata em estar viva junto a sua família.

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