Temendo enchentes, Roca Sales deve mudar centro de lugar: 'Sem alternativa'
O prefeito de Roca Sales, município localizado no Vale do Taquari, interior do Rio Grande do Sul, afirmou que planeja transferir o centro e o parque industrial da cidade para outra região.
O que aconteceu
Amilton Fontana explicou que reconstrução no mesmo local não é possível. Em entrevista ao UOL, o prefeito lembrou a cidade foi devastada por três enchentes seguidas, em setembro e novembro de 2023, além da atual, que já provocou dez mortes e deixou ao menos seis pessoas desaparecidas, segundo dados do governo estadual, divulgados nesta sexta-feira (17).
Centro e parque industrial serão realocados para área rural. O local já foi escolhido e fica a cerca de 3 km do centro atual. O projeto ainda está no papel e, segundo o prefeito, contará com recurso municipal, estadual e federal. "A gente foi fortemente atingido, não tem mais como reconstruir, até porque não sabemos o que pode acontecer de novo", disse.
Para transferir o centro, prefeitura diz que desapropriará um terreno de cerca de 75 hectares. Estimativa é de um custo de R$ 10 milhões dos cofres municipais para a compra da terra. O prefeito explica que gestão municipal disponibilizará lotes no terreno para os moradores que já são proprietários de casas e de estabelecimentos no centro da cidade. "Vamos começar imediatamente, em dez dias, a desapropriação, mas a gente sabe que a remoção de tudo é um trabalho de anos, gradativamente vamos evoluindo".
A estimativa é de que 50% da cidade mude de endereço. Além das novas habitações, serão construídos novos prédios públicos, escolas, hospitais e a nova sede da gestão municipal. Roca Sales fica às margens do Rio Taquari e a 141 km de Porto Alegre.
O prefeito destacou que a população de Roca Sales está ciente de que não há outra alternativa. "Os moradores sabem que não há o que fazer, precisa de uma solução. Não tem como reconstruir pela quarta vez e ser destruído novamente. A população está ciente, não tem outra alternativa a não ser sair e deixar o rio passar".
A ideia é repassar os lotes para quem é proprietário, precisamos ser justos com quem investiu uma vida inteira aqui. E aí, eles vão poder reconstruir os locais novamente. Não é loteamento popular, vai ser uma cidade nova baseada em tudo que a já tinha aqui, bem mais planejado e organizado.
Amilton Fontana, prefeito de Roca Sales
Com o parque empresarial, o planejamento prevê a mudança para um terreno de 50 hectares. "Estamos comprando a área e vamos disponibilizar para os empresários reconstruírem".
Para quem vive em áreas ribeirinhas, o prefeito diz que irá trabalhar na habitação desses locais.
Roca Sales foi uma das cidades mais atingidas pela catástrofe que vive o Rio Grande do Sul. Prefeitura calcula que 80% do município foi atingido pela enchente. Cerca de 5 mil pessoas foram afetadas, de um total de 12 mil habitantes.
Ele não informou o que será feito com a antiga cidade após o fim das obras. Mas ressalta que não deve ser habitada novamente.
Arroio do Meio também estuda mudar bairros de local
A prefeitura de Arroio do Meio também planeja mudar bairros de local. O prefeito Danilo Bruxel explicou que algumas regiões atingidas pela enchente "não existem mais". "São bairros que, daqui a pouco, fica uma ou duas casas. Ninguém fica morando lá. Precisamos e vamos direcionar os bairros para outras localidades", disse em entrevista à rádio Gaúcha na noite desta sexta-feira (10).
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Quero receberO prefeito ponderou, no entanto, que o centro da cidade, apesar de atingido, vai permanecer no mesmo local. "O centro da cidade, que agora pegou a enchente, isso não tem como pensar em levar [o centro] para outra localidade, porque tem prefeitura, igreja", explicou.
Enchente atingiu 12 mil pessoas no município, que tem em torno de 22 mil moradores. "Nós temos cerca de 1.200 famílias fora de suas casas e todas elas vão precisar de um teto, de um lar. Hoje elas estão abrigadas em ginásios, em casas de parentes, vizinhos", diz. Arroio do Meio é cortado pelos rios Taquari e Forqueta.
Planejamento do prefeito envolve a construção de novas casas. "Mas nós ainda não sabemos o que vamos fazer com essas famílias, porque a gente sabe que construir casas é um processo bastante demorado. Na enchente de setembro [de 2023], já havíamos perdido 300 casas. Tínhamos assinado com o governo federal um recurso para a reconstrução dessas casas. Mas acabou que não aconteceu, e agora já deu outra enchente e mais casas foram embora", lamentou.
Bruxel disse ainda não há um balanço sobre as casas destruídas da enchente atual. Ele ressaltou que não imaginava que o estado fosse ser atingido de novo, em tão pouco tempo. Disse que houve a enchente histórica em setembro e outra, em dimensão menor, em novembro. "E agora veio de novo essa enchente, que ficou quatro metros acima da de setembro. Então, jamais imaginávamos que viveríamos isso que nós estamos vivendo nesse momento no nosso município", destacou.
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