Familiares de Djidja Cardoso têm pedido de prisão domiciliar negado no AM
A Justiça do Amazonas negou o pedido da defesa dos familiares da ex-sinhazinha do Boi Garantido, Djidja Cardoso, para substituir a prisão preventiva por prisão domiciliar. Familiares dela e funcionários de uma rede de salões de beleza foram presos por suspeita de tráfico de drogas e outros crimes em um grupo religioso que atuava em Manaus (AM).
O que aconteceu
A mãe de Djidja, Cleusimar Cardoso, e o irmão, Ademar Cardoso, estão presos desde a quinta-feira (30). Após a audiência de custódia, que analisou a legalidade da prisão, ambos foram encaminhados para a cadeia feminina de Manaus e a unidade masculina também na capital do Amazonas. As informações foram confirmadas pelo delegado responsável pelo caso, Cícero Túlio.
Processo ainda na fase de investigação tramita na vara de inquéritos. Após o Ministério Público do Amazonas oferecer a denúncia, a ação penal será encaminhada para uma vara específica, que conduz o processo.
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Polícia investiga se mais clínicas veterinárias forneciam a droga para o esquema montado pelos familiares de Djidja. "Estamos apurando a existência de outras clínicas veterinárias ou estabelecimentos comerciais que eventualmente façam o comércio clandestino da ketamina/cetamina e que tenham realizado a entrega desse produto para a seita investigada", disse.
Advogado Vilson Gomes Benayon Filho disse ao UOL que a mãe e o irmão de Djidja faziam uso prolongado de drogas. "Eles são extremamente dependentes químicos, não tinham condições psicomotoras de se locomover", afirmou. Os mandados de prisão ocorreram na quinta-feira (30), e na sexta-feira (31), ambos passaram pela audiência de custódia.
Defesa de Cleusimar e Ademar quer tratamento clínico para os dois. "Nossa principal questão hoje é a abstinência deles. Solicitamos condições de tratamento", afirma o advogado. "Pedimos o toxicológico e a internação dos dois em uma clínica de reabilitação. Eles foram atendidos na enfermaria do complexo prisional em crise de abstinência." Segundo Benayon Filho, eles fazem uso de substâncias entorpecentes há aproximadamente um ano.
O que dizem as defesas
Advogado Vilson Gomes Benayon Filho disse ao UOL que a mãe e o irmão de Djidja faziam uso prolongado de drogas. "Eles são extremamente dependentes químicos, não tinham condições psicomotoras de se locomover", afirmou. Os mandados de prisão ocorreram na quinta-feira (30), e na sexta-feira (31), ambos passaram pela audiência de custódia.
Cleusimar e Ademar teriam se apresentado na delegacia como Maria e Jesus, diz advogado. "A mãe de Djidja se identificou como Maria, mãe de Jesus, e disse que o filho era Jesus, eles não tinham noção. Isso aconteceu logo depois da prisão, entrei na sala e eles falaram isso", afirma Benayon Filho. "Eles também convidaram o delegado para experimentar, tomar conhecimento da espiritualidade."
Advogado diz que ainda não tomou conhecimento do inquérito policial. "Não posso antecipar porque não existe inquérito policial, tudo são suposições", afirma. "A forma como a polícia encontrou eles na casa foi extremamente degradada, eles estavam se matando, estavam muito debilitados." A linha de defesa da família de Djidja Cardoso não foi apresentada até o momento.
Funcionário que estava foragido se entregou à polícia nesta sexta-feira (31). Ao UOL o advogado de Marlisson, Lenilson Ferreira, afirmou que ele "está disposto a esclarecer os fatos para provar a sua inocência" e está à disposição do Poder Judiciário e das autoridades para colaborar com as apurações. "Ele confia no trabalho da Justiça e está acredita que sua participação nas investigações será fundamental para a elucidação do caso."
O advogado da funcionária Claudiele disse ao UOL que não há provas contundentes da participação dela. Kevin Teles afirmou que a cliente é "apenas uma funcionária do salão" e negou existir vínculo dela com a família Cardoso. A defesa informou que deverá emitir nota oficial dentro de alguns dias para detalhar o caso com "informações verídicas e não apenas falácias".
Como funcionava o grupo religioso
Grupo religioso se chamava "Pai, Mãe, Vida". No grupo, segundo a polícia, eram realizados rituais com o uso indiscriminado de cetamina — droga sintética de uso veterinário com efeitos alucinógenos. As investigações apontam que algumas vítimas passaram por violência sexual e aborto.
Família de Didja é suspeita de fornecer, distribuir e usar a droga nos empregados de uma rede de salões de beleza em alguns rituais. A droga, também chamada de ketamina, é usada ilegalmente como substância recreativa. Na medicina veterinária, ela é usada em função de suas propriedades sedativas.
Djidja era alvo da investigação por integrar o grupo, diz delegado. Cícero Túlio, responsável pelas investigações. Segundo ele, a suspeita é de que ela tenha morrido por overdose da substância durante o ritual. Didja morreu na terça-feira (28).
Delegado disse que ela foi encontrada com "aspecto de que havia ingerido altas doses de alguma espécie de entorpecente sintético". Segundo Cícero Túlio, ela também apresentava lesões na pele que indicavam haver utilizado seringas. "Tudo foi relatado ao médico legista pra subsidiar o laudo necroscópico", disse ele.
Delegado afirma que "seita funcionava havia pelo menos dois anos". Segundo Túlio, as buscas da polícia ocorreram em três unidades de salões de beleza.
Investigações começaram com pai de vítima na delegacia. "O pai da companheira de Ademar, irmão de Didja, resgatou a filha dopada e a levou à delegacia, relatando os fatos há cerca de 40 dias", diz o delegado.
Rituais prometiam cura espiritual
Cleusimar Cardoso e Ademar Cardoso, mãe e irmão de Djidja, foram presos na quinta-feira (30), em Manaus. Nos rituais, a polícia detalha que Ademar assumia a figura de Jesus, Cleusimar seria Maria, mãe de Jesus, e Djidja, a ex-sinhazinha, de Maria Madalena. Juntos, induziam seguidores a acreditar que com o uso da substância iriam "transcender a outra dimensão e alcançar um plano superior e a salvação."
Funcionários de salão de beleza estavam envolvidos, diz a polícia. Segundo a polícia, foram presas Verônica da Costa Seixas, 30, Claudiele Santos da Silva, 33, e Marlisson Vasconcelos Dantas, funcionários do estabelecimento. Eles eram, segundo as investigações, responsáveis por induzir outros colaboradores e pessoas próximas à família a se associar ao grupo. Segundo o delegado, Marlisson se entregou à polícia na sexta-feira no fim da tarde com o advogado.
Cárcere privado e estupro de vulnerável estão entre os crimes apontados. A polícia identificou ao menos duas vítimas que teriam sido mantidas sob cárcere privado e sido estupradas sucessivas vezes por membros do grupo durante dias. As investigações apontam ainda que as vítimas foram mantidas "despidas e sem se banhar durante todo período" — teria ocorrido ainda um aborto de uma das vítimas que estava grávida.
Investigações em andamento
Suspeitos de envolvimento na seita devem responder por tráfico de drogas e associação para o tráfico. Além disso, integrantes do grupo poderão ser indiciado sob acusação de colocar em perigo a saúde ou a vida de outrem.
O delegado Túlio diz que a "seita atuava em parceria com uma clínica" no bairro Redenção, em Manaus. Segundo ele, o estabelecimento oferecia cetamina e outras substâncias para a família de Djidja sem qualquer controle.
Polícia Civil informou que está ouvindo vítimas do grupo. Duas delas teriam informado que, além do abuso de substâncias e violência psicológica, a seita praticava violência física e estupro de vulnerável. O delegado afirmou que as vítimas relataram que permaneciam dopadas por dias, eram obrigadas a se manter despidas e não podiam tomar banho ou se alimentar.
A morte da matriarca da família, avó da Djidja, também é investigada pela polícia. Familiares de Djidja acreditam que Ademar Cardoso injetou cetamina na avó após a idosa de 83 anos ter reclamado de dores.